quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A falta, a insolação, o vazio e o amor.

Não escrevo sobre a falta, porque não posso.
E não é porque ela me falta, mas sim porque
Não sei de fato se preciso dela
Enquanto ao amor?
Esse sempre aparece mesmo quando não deveria
Mas ultimamente, to começando a crer
Que se confunde amor com qualquer coisa
Menos com ele mesmo
Até com efeitos da insolação
Sim, insolação que reproduz amor
Aquele calor que te toma á pele
Induz aquela fornicação por entre a carne e os ossos
Te provoca febre até lhe assolar a ordem das coisas
E quando nos damos conta
Estamos delirando, meio embriagados de sol
E sentindo aquela euforia que achamos ser amor.
Mas não é.
Mesmo que os dois, digo
Insolação e amor
Nos deixe manchas, não se pode confundir
Os efeitos de exposição ao sol,
Com os efeitos de exposição á alguém
Porque de fato
Só nos permitimos sentir,
A bendita radiação da pele ou radiação do ser
Porque nos expomos,
Caso contrario
Não sentiríamos nada que não
O eco da nossa própria existência
Ou na mais exagerada das hipóteses
Sentiríamos o vazio.
E esse sim nós corrói mais que a falta.
E não devemos ainda confundir a falta com o vazio
Mesmo que ambos sejam derivados da ausência
A falta, é sentir carência de algo que se sabe ou não o que é
Já o vazio, é não sentir nada
E ainda sim sentir esse não-sentimento
Não sei porque me prolongo
Aumentando linhas estampadas de letras
Teorizar sobre tal assunto,
Já não conclui mais nada
De qualquer forma
Ainda temos a insolação.

Guilherme Radonni

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Engolindo as nuvens...

Garganta arranhada
Inflamada de ego talvez
Ainda sim, podia sentir as nuvens
Me descendo goela abaixo
Nunca pensei que poderia engolir o céu
E de fato não posso
Trago somente as nuvens
Cinzentas, com gosto de boemia
Em meio o vermelho da boca
O branco do filtro
Saliva e fumaça
Talvez um pouco de angustia também
Mas logo some, chega aquele leve bem estar
De quando se é novo ou velho de mais
Pra saber o que é
Talvez porque seja pela garganta
Se fosse pelas veias seria mais...
Narcótico
Um trago pra consciência
Mais um maço talvez
Agente nunca sabe quando acaba
Vamos, você e o seus últimos vinte amigos
Tem fogo? Isqueiro ao menos?
Brasa talvez?
Você que ascenda tua juventude em outro canto
Em outra boca,
Na minha não, já basta o tabaco
Pra adormecer minha língua
Me cortar as gengivas
E fazer fumaça em água.
Foi assim, começou por terceiros
Depois veio a curiosidade,
Quando percebi
Lá estava eu, segurando com os dedos
Levando até o lábio, puxando o fôlego,
E sentindo as nuvens me descer
A garganta, chegando ao estomago
E se subdividindo pelo resto
Nicotina e sangue.
Combinam mais que inocência e vício.
Não me contento mais com o leve bem estar
Agora mastigo as nuvens
Pra que elas não me mastiguem
De qualquer maneira
Continuo tentando engolir o céu.

Guilherme Radonni

sábado, 26 de dezembro de 2009

Suplica.

Mesmo eu não crendo no tempo cronológico
Criado pelos homens, e ditado pelos ponteiros do relógio
O passar das horas sem você me sufoca
Já não suporto um minuto se quer sem tua presença
E sim, digo pelo tempo dos homens
Por cada passar de hora
Em que teu cheiro não me toma os dedos
Em cada segundo gasto
Em que minhas pupilas não enxergam teus rastros
Confesso,
Tenho medo de não te encontrar mais
Durante a nossa insônia ofegante
Tenho medo de te deixar
Sem antes contar todas as pintas
Que estão esparramadas sobre teu corpo
Sem ordem ou conjuntura
E também tenho medo
De não te assistir uma última vez
Dormindo sobre os meus ombros
Naquele sono fora de hora.
Pra cessar esse medo, suplico
Foge comigo, pra bem longe do tempo
Pra qualquer lugar que não a realidade
Onde deitar no verde e fazer fotossíntese
Seja a nossa única rotina,
E ensaboar tuas costas no chuveiro frente ao espelho
Seja tão necessário, quanto à gravidade.
Por estes e outros motivos
Não me deixe só
E não é porque tenho medo do escuro
Até mesmo porque não tenho
Mas sim porque preciso da tua presença
Esparramada sobre minhas horas
Sem órbita ou eixo
Apenas esparramada
Que mais se quer que deitar na janela ao teu lado e ver o céu?
Nada, não preciso de mais nada que não isso.

(Você sabe que esses versos são para você).

Guilherme Radonni

Valsa aos enfermos que sofrem de amor.

Que doença tola essa que chamamos de amor
Enfermidade mais medíocre não há
Primeiro nos devora os anseios
Nos preenche as lacunas
Faz o cinza parecer vermelho
Só para depois nos esvaziar de tudo que nos trouxe
O amor, esse que não se vende em mercearia
Me digeriu em pedaços imperfeitos
Me afogou em minha própria alegria
E não satisfeito, sufocou ainda meu fôlego e minha asma
Sim, ainda tenho asma, aquela velha asma
Que não me deixava quando pequenino
Correr sem rumo pelas calçadas
Nem dançar tanto tempo sem sentir aquela aperto
Mais agora acho que mudou de nome
Ou pelo menos de motivo
Essa asma que eu sinto no peito
Agora é sufoco de amor,
Amor incurável,
Que devora até as bulas e as receitas médicas
E pra esse mal não existe cura
Não existe remédios, nem homeopatia
Nem sequer reza, milagre ou curandeiro.
Resta-me padecer
Esperar que o amor coma o fim dos meus dias
Mastigue minhas últimas horas
E engula o término de meus minutos.
Assino então minha falência
Minha desistência,
Minha eutanásia.
E confesso, prefiro morrer deste tumor no peito
Que chamamos de amor
Do que viver sem tal doença
Do que ser saudável perante o vazio
Do que ter assinado no atestado de óbito
Solidão.

Guilherme Radonni.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Á nossa insônia...

Ainda não entendo se é de verdade
Ou se é tudo ilusório.
Começou com prosas trocadas
Em meio da insônia compartilhada
E logo um enxame de mariposas
Invadiu-me o estomago
Simulando uma valsa cuja música
Era uma só, tua voz.
Descobrimos ainda o quão parecido somos
No tamanho das mãos, no dia do aniversário,
Na impaciência e nos calos dos pés.
Coincidência? Parece que não
Creio que deveria ser assim.
Nos conhecemos então
Eu no palco, você na platéia
Eu paciente, você visitante
Foram nessas condições que os enfermeiros
Chegaram anunciando; “Hora da visita”.
Colocaram-me frente a ti,
E ali nos olhamos durante os melhores cinco minutos
Do espetáculo, teu olhar me deixou inquieto,
Não sabia ao certo quem havia se encantado
O personagem ou ator
No final você ganhou os dois
E agora depois do passar das horas
A tua falta me falta
E o meu ar fica sem fôlego
Só preciso da tua prosa
Do teu afago
Do teu conforto
Insano tudo isso,
Ainda sim não quero me curar de tal insanidade
Pois já admiro até o riso sem jeito
De quando te olho por tempo demais
E dessa vez não é o ator, nem o bailarino nem mesmo eu
È o meu peito que grita teu nome,
Que deseja calar tua fome, que te quer até de madrugada
Pois contigo as horas se comprimem, e um dia vira um minuto
Foge comigo pra Lua,
Pra qualquer lugar que não a realidade
E da eternidade só espero uma única coisa,
Você.

(Dedico aquele com quem pretendo passar o resto dos meus dias. R)

Guilherme Radonni

domingo, 6 de dezembro de 2009

Paciente 254-06

Enfermeira entra, marchando com seu sapato branco de salto quadrado
A inquietação do paciente não é mais forte que a camisa que o prende
Mordaça de gente, carcere de surrealidade
Depois dos gritos abafados, a sanidade estampada de branco
Profere teu discurso em tom de enumeração
Escrito em qualquer prancheta e folha amarelada.
"O paciente sofre de sindrome traumatica pós infância
Esquizofrenia, disturbios do sono, disfunção taquicardiaca muscular
Transtorno fonológico, psicose induzida, disfunção perceptiva
Delirio auditivo e variação de depressão crônica.
Agora vê o que vocês fazem com esse dai,
Que parece que vai dar trabalho
Vou tomar um café."

(trecho do texto, Memórias de um Manicômio)

Guilherme Radonni

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sem Título

(Intervenção do terceiro sentido)


Foda-se
Como se anti-matéria fosse uma felicidade resistente a imaginação da mitologia
Do objetivo de encarar a hora do rush sem pestanejar,
Ou a mitologia do subjetivo que os realmente sãos
Tem em suas mãos,mas nem a um terço de suas proles conseguirá
Ter importância e se forem...morrerão jovens.
Assim como nós.
Sabe-se da manhã sofrida de dentro de si
Para dentro do quase atingível
Onde perdera-se o norte e apenas a areia grita seu nome,
As salas de mármore morrem dentro de ti,
Então fica atravessada você
No ciclo maldito do campo de concentração juvenil,
Atravessara e transpassara.
O bicho pega, se a massa entrar e se não entrar,
Que será? qual será?
Talvez não conseguiremos ir contra os coronéis de Sam
E o falo crucificado volte.
E você fique apenas anotando, anotando, anotando
As bobagens selvagens e perigosas.
Sorria à esta transfiguração então, ao menos trará o domínio.
Perturbará os cotidianos e neuroses alheias. Foda-se.
E que ela não faça o que seu útero obrigue ,
E aqui dentro permaneça, apenas.
Apenas.
Como diz mais um velho embriagado
"De que me vale ser filho da santa,
antes eu fosse filho da outra".



Ísis Rodrigues

(o discurso que invade a eles invade a mim)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Oceano claustrofóbico

(Dentre os mares de gente que mergulhamos a cada dia, o meu mar intoleravelmente me sufoca)
Falta ar, ou qualquer coisa parecida
Só sei que o espaço dentro de mim
É maior do que eu suporto
E menor do que eu preciso
Tudo por um instante parece claustrofóbico
Como se o mar tivesse me afogado antes de eu vê-lo
Ou sentir o cheiro da areia, do sal ou do azul
E ainda sim, ele não me levou
Minha carne ainda existe, ainda me sobra
Me obriga arrasta-la enquanto minha ulcera me corroe
E ai percebo, é só tua ausência, tua falta
Tua inexistência
Nunca te procurei,
Mesmo quando era somente de ti que eu precisava
Mais não sei encontra-lo
Em outro lugar que não no meu autismo
Esse autismo que me devora aos poucos
E que não lhe serve,
A insônia ainda atordoa os olhos que pesam à cansaço
E o motivo porque não durmo, é simples
Medo de se afogar, ou pior que isso
Medo de você passar e eu não o ver
E se não te encontro nesta vida, o que fazer?
Já pensei em algumas formas de acabar com tudo
Sempre fui meio piromaníaco incendiário
Mais dessa vez, nem queimar os dias os fariam passar
Pois as cinzas das horas pesam mais que a realidade
E não sei se os meus joelhos vão aguentar
Qualquer peso a mais que a tonelada que já carrega
Nessa tonelada, uma etiqueta lhe dando nome e classificação
Escrito em letras apagadas com cor de ferruge
Está o causo de todo o peso
Solidão

Guilherme Radonni


Com licença poética, como dizia Adélia...

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, sobrar?
Sobrar e esquecer,
Sobrar e enternecer,
Sobrar, faltar, desamar?
Sempre, e até de olhos vidrados, restar?
Que pode, pergunto, o ser solitário, em rotação universal,
Senão rodar também, até que a solidão o corroa
Suplicar que o mar nos afogue e que voltemos à praia,
Só para ele sepultar na areia, o que na brisa marinha,
É sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Se entregar solenemente as palmas do deserto,
Aquilo que é entrega ou adoração expectante,
E crer no inóspito, no áspero,num vaso sem flor,
Num chão de ferro, no peito inerte, e ainda na rua vista sem cor,
E numa ave que não voa.
Este é o nosso destino;
A ausência, distribuída pelas coisas,
Insuficiência ilimitada a uma completa imensidão,
E na concha vazia das sobras ser digno
De sobrar, esquecer e enternecer
Crer na nossa falta de amor,
E na nossa secura de amar os olhos próximos que não os nossos
E calar o grito, e a companhia inexistente.

(Peço desculpas a Drummond, mais meu vazio não se enquadra no simples amor que nos é dado)
Guilherme Radonni

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Anúncio que suplica a cor...

Cinza, cinza e cinza

Depois de tanto tempo essa lacuna me volta
Me aperta as costelas e me faz feito grão
Ela já estava tão longe, abafada pelo tabaco e pela euforia
Mas voltou sem convite,
Me expremeu num vão de angustia
Em um dia de vazio e mormaço
Sufocou-me o peito
E secou os olhos que já não tinham cor
Agora cheiro a cinza, a solidão e desespero
Se alguém encontrar a cor dos meus olhos de volta
Ou ao menos qualquer cor que não o cinza
Por favor me entregue neste endereço;

Rua da Ausência, na Casa Vazia para o homem que não sente mais nada que o vácuo

Guilherme Radonni

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dezessete? Sete? Nada.

Esgotou-se, acabou-se.

È o fim de um começo inacabado,

A juventude? Perdida por ai

Em alguma estação de metro,

Bebendo catracas e sabotando a realidade.

Enquanto eu, me procurava

Em algum gramado fazendo fotossíntese ao meio dia

Esparramado pela rotina,

Fingindo que era jovem de mais pra me preocupar com a bolsa de valores.

Mas na teoria, não mais

Com o fim, vem o peso, o fardo os dezoito

Esse sim, me causa cólera. Causa-me...

Vontade de engolir os ponteiros do relógio

Para que este não mais marque os minutos gastos

Manifesto a minha angustia, feita de tempo

Vou mastigar as paginas do calendário

Não quero mais um ano pesando na curvatura das costas.

Prefiro a loucura dos meus dezessete

Prefiro a valsa dos hipocondríacos

Prefiro ainda o plano de fuga inatingível

Este sim era digno de devaneios

Era compatível aquelas três carcaças

Que transbordavam no tablado, na sala ou na calçada

Catatonia não é?

Essa esquizofrenia que agente sente quando se é jovem de mais

E não quer ver o tempo estampar tua carne

Essa eu ainda sinto, parece imperecível.

E ao fim dos meus dezessete declaro falência ao sistema antropofágico

Se este for irreversível viro hippie,

Se for temporário tento fingir não ser

De qualquer jeito o tempo me pegou pelo braço, me apertou a face

E beijou-me o lábio como quem beija á um tuberculoso

E agora me obrigou a segui-lo, ou pelo menos cumprir o que é cronológico

Prometi a mim, que não seria trágico nem traumático

Mas ainda sim, arde o peito

Ver os dezessete perdendo sua cor, ou pelo menos sua veracidade.

È essa, tenho certeza que é,

Essa tal... verossimilhança que nos prende a realidade

Nos presenteia com dores, cansaço e idade

Se os velhos não podem criar suas rugas

Sugiro que as extermine

Pelo menos assim não terei de me preocupar com a maldita bolsa de valores.

Antes Dezessete...

Dezessete e parecia não acabar,

Agora Dezessete virando poeira

Dezessete? Sete? Nada

Meia noite...Dezoito,

Dezoito e parecia não acabar.

(Dedico a melhor época da minha vida, aquela que agente se lembra quando não tem mais o que viver, e percebe o quanto se fez pra que tudo vale-se a pena.)

Guilherme Radonni

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Catatonia

Começou assim,

Noite cai, a Lua engole o dia

E nós, bebemos a noite

Território de quem?

Nem somos daqui,

Tragamos as calçadas

Junto á inocência de quem já não a tinha

Rua cheia, asfalto vazio

Em quanto os copos transbordavam

Tabaco e cevada

Combustível inflamável dos jovens quase velhos

Cujo este que vós lhe escreve, pertencia sem exceção ou cláusula

Valsa urbana, eufórica e de três

Na verdade de quatro, mais a ultima não sabia dançar

Era pequenina, e podia ser esmagada pela catatonia

Individual de um coletivo de três.

Deitamos no concreto e assistimos a um palhaço que não ri

Enquanto nossa sombra fumava os olhares

O cansaço e o experimental.

Fizemos dos nossos versos, nosso próprio hino

E gritamos a insanidade da nossa transfiguração

No meio do improviso, do inexplicável

Do efeito sem álcool.

Por fim, esperamos os trilhos acordarem

Para podermos dormir,

Assistimos a manha acordar numa janela embaçada

Para que os olhos anoitecessem num sono improvisado

No final é tudo cena, é tudo filme

È tudo...

Catatonico.

Guilherme Radonni

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

De que serviu tanta embriagues, se os aplausos foram mudos.

Não sei, realmente não sei o que houve

Era noite,

Primeiras horas fora do manicômio

Longe das paredes brancas e do aconchego do tablado

Os três loucos que fugiram juntos

E o ultrapassaram o tempo mínimo e máximo

Agora se dissiparam

Duas estão em algum quarto injetando tabaco e nostalgia

E o outro recebendo aplausos mudos

E indicações a melhor abandonado

Talvez eu esteja fazendo drama

Ou talvez esteja dando importância àquilo que me dediquei a construir

De qualquer modo carreguei o resto do palco sozinho

Sem elas, sem parte de mim, e sem minha consideração

Ainda assim, o desprezo daquela que tem a cor da noite

Não me desceu a garganta

Demagogo, egocêntrico e infantil

Posso até ser mais nunca a tratei com indiferença

Seja o quão ridículo fosse os teus assuntos de primeiro emprego ou tabaco verde e natural

Este ultimo nunca me agradou,

Nem por isso fiz pouco caso

Enquanto aquela que tem cor de papel

Ainda não declarou o que aconteceu

Peço desculpas por ter usado a voz em tom maior

Mas não me desculpo por lhes querer ao meu lado

“Não, não fiquei até o final

Não a fiz sozinho, pra ter de receber os aplausos só.”

Na verdade fiquei, mas era como se não tivesse ficado.

Anoiteceu
É hora de ir pra casa.
É hora de comentar.

Desmemorias.

Amanhece...

Guilherme Radonni

Elas ao fundo, sem mim...Eu no tablado, sem elas






segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Foi poético !

Anoiteceu
E foi preciso não ir para ver que já chega,
Já rolou o espaço que tinha que rolar.
Foi preciso duas adolescentizinhas se embriagar no quarto da saudade,
E junto com a brisa, comentar como foi o dia.
Preguiça.
Eis de novo a negra do ganho de atriz.
O grande ancião briga pela ausência,
Enquanto as ovelhas estavam acompanhadas assistindo a uma TV.

Agora já viu que aqui já deu?
Já paralisamos o anseio daquela platéia.
Agora é preciso de mais,
Muito mais.
E até onde isso vai parar?!

Matamo-nos.
Matamo-os.
E assim foi.

Anoiteceu
É hora de ir pra casa.
É hora de comentar.

Memórias.

Amanhece...

Tábatta Iori [26.10.09]

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Um causo...

É isso meu anjo, como as mentes de jovens de dezessete anos ao fim da linha se transporta para o adulto? A gente ta vendo tudo mudar. E a gente pode escolher se deixa rodar. Um texto talvez eu explique melhor o que quero te mostrar.
Ele chega com suas asas e diz que decide não mais voar. Há um reboliço todo entre os das asas já alongadas até o último, há reboliços até quem nem tem asas tão longas mas que sabe que voar era o que ele mais apreciava. Seus olhos não agüentam e sua face desaba ao entregar suas asas e dizer “to caindo fora, a vida veio em formas de muros”.
Um telefonema. Um ligar pra avisar sua amada que largou tudo e que eles vão fugir ao entardecer do outro amanhã. Ela desesperada topa fugir com aquele garoto sonhador, afinal, eles eram um só, era coisa de criança com criança, coisa de irmãos de leite.
O dia amanhece, era um dia branco, tão claro que os olhos cegavam ao olhar pro alto. Os dois se encontram e vão se despedir daquele outro lugar onde nasceram e passaram a maior parte de suas vidas. Depois de tudo apresentado para ir, os dois vão em direção a lugar nenhum junto com o não sei aonde. Mas ao anoitecer, chegam em uma fronteira, onde só pode passar para a outra cidade quem é anjo, pois esta é a forma segura do lugar manter a segurança dos moradores. Ao chegar no portão o guarda celestial pergunta:
- Pois não?
- Queremos passar, somos anjos [responde a garota]
- Você eu sei que é, mas e ele? Anjos tem asas!


Era um dia branco.
Eu odeio dias brancos !
Era o fim dos dezessete.
Eu odeio o fim.

PLIÊS.

Tábatta Iori [08.10]

Uma bolsa de estudos para quem?!

E como tudo já havia passado.
Virou passado o aviador.
O lema é escrever,
Escrever sem parar,
Escrever sem pensar.
Já que os loucos se alucinam por nada,
Já que vivemos de brisa.
Aquela garota sentada na calçada,
Desnuda, com fome e sem cheiro
Quando ela estende os braços por uma migalha
Você bate a mão em sua palma
E brinca de fazer verdade.
Ela vai te perseguir.
Atordoar-te como um cão a espera de um milagre.
Mais não existe mais milagres,
Tudo era ou é só ilusão,
Aprendi em uma tela grande com filme do nada a ver.
Mas quando tudo passar,
A gente volta e escreve de novo.
Acho que vou ter que quebrar as regras...
Senão meus dedos vão ficar fáticos e sem gelo,
Pare antes de amanhecer
E antes da garota voltar pros seus sonhos.
Porque quando o sol nascer
Tudo paralisará e ela voltará pras ruas.
To tentando uma bolsa de estudos pra Lua,
Ela diz que ta passada.
Ultrapassada.
Ultra.
Passa.
Parei.

Tábatta Iori [08.10.09]

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Homens feitos de cadarços.

Angustia impalpável
Daquelas que faz a cabeça atordoar
Por não ter resposta ao questionário
Das perguntas inconscientes
Uma questão humana
Uma questão orgânica
Somos homens,
Capazes de criar, revolucionar, desenvolver e submeter
Por outro lado, somos animais
Incapazes de renegar nossa natureza
Nosso ego e ignorância
Sim, asfalto e migalha nos servem
Já que a miséria da metrópole nos devora
Nos traga a cada cigarro acendido
E nos engole a cada maxilar que não tem o que mastigar
Somos a única espécie que deixa o próximo passar fome
Que deixa a lagrima escorrer e a solidão transbordar
Daqueles que não tem prestigio,
Daqueles que não tem nome reconhecido
No cartório, no catálogo, no prontuário
O que é uma nomenclatura?
O que é um numero de registro?
Perto do que temos dentro de nós
Não somos nomes, não somos números
Somos apenas...
Interrogações,
Cito estas, por não saber o que somos
Por não saber para onde vamos
E nem a ordem certa das coisas.
Mas a resposta virá
E desta vez não vai haver burocracia
Nossa ascensão será nosso próprio declínio
Enquanto o vácuo individual vai nos corroer
Vai nos limpar de nossas manchas por sermos o que somos
E ainda sim, a poeira do que restar vai nos custar
Pois fardo humano,
É fardo que pesa.
Até isso acontecer
Vamos continuar amarrando nossos cadarços
Enquanto brincamos de sociedade.

Guilherme Radonni.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Monólogo da chuva seca

Cheiro de chuva,
Cheira
Janela quebrada
Quebra
Desespero engasgado
Engasga
Mesmo assim
Minhas horas não traduzem
Fragmentos soltos, de dias presos
Por que insisto em me debruçar na janela e assistir o céu cair?
Por que insisto em escrever linhas rasgadas?
Por que?Pra que?
Lixo polifônico
Equações sem polinômios
Verso desigual
Sem métrica, estrutura ou respeito
Só essência
Indecência talvez
Mas ainda sim florescente
Abuse do discurso
Ou ao menos do impulso, porque esse sim
È avulso, é intruso
Corra, a chuva engrossa
O peito arde, e o abraço cadê?
Nem brotou ainda
O que sobrou, fugiu antes da epidemia
Meu guarda chuva esta sem espaço
Ou cabe eu, ou minha dor
Melhor ela, dor molhada incomoda ainda mais
Já a carcaça?
Seca de vez em quando
Onde estão os gigante que me carregavam nos ombros?
Lembrei, foram postos em aquários
Quem mandou dar idéia ao consumismo?
Quem mandou brincar de enxergar as coisas?
Agora a cegueira não te serve
E esta condenado a chover
Escorrer pelo resto dos dias
Enquanto teus olhos encharcados
Escorrem ao teu peito seco.
Deixei o banheiro vazando
Pra ver se a chuva para
É que ta doendo sabe
Sou bicho do sol,
Tanta chuva assim me afoga
Preciso de fotossíntese,
Laranja, vermelho e amarelo
Cinza não, esse dá vazio, da realidade
Monotonia e solidão
Vou parar de lamentar, a chuva parece cessar
Olha lá quem vem, agora sim vai acabar
O dilúvio chegou.

Guilherme Radonni.

Café.

Depois de capítulos
Resistindo e negando
Sobre o gosto obvio da cafeína
Acho que enfim, to aprendendo a gostar
Começando a entender
As bordas das xícaras
Borradas de saliva e marrom
Entender a mesa quente,
Nas manhas frias
E o sono anulado, por vicio de pó
Pó de café, pó de rotina
Pó que acostuma
Talvez nem fosse tão amargo assim
Deve ser culpa da língua precoce
Que rejeita tudo que não for glicose
Que lambe o que beija
E escarra tudo o que transborda
De qualquer jeito assisto a água ferver
Pra não ter de aplaudir minha própria evaporação
Queimo a ponta dos dedos no vapor que despejo
Sobre o bule ou qualquer coisa.
Duas colheres bastam,
Minha insônia já não é tão forte
Acho que deve dar pra afastar o sono
Ou o vácuo, ou o grito.
O grito é sempre pior
Esse dói quando não tem voz
Quando você não o tem
Ou quando já desistiu de gritar
È a vida, está gasta, e com gosto de...
Com gosto de café
Daqueles servidos pra visita sabe?
Que não se pode recusar
Tem de engolir enquanto faz sala
Mesmo que esteja amargo, queimando-te a língua
E te dando ânsia
Mais acho que estou aprendendo a gostar
Não é o que é de fato
E sim o que representa
Goles secos, prosas mudas, e café extraviado
Quando se é jovem, não se quer cafeína,
Se quer vodca, com doses de rebeldia
E gastar a madrugada de olhos abertos
Sem precisar de estimulante.
Até quando somos jovens de verdade?
Até quando resistimos ao café?
Não creio na idade cronológica
Nem na chaleira que apita o vapor sujo de costumes
Mas no final de tudo
Acho que estou aprendendo a gostar de café.

Guilherme Radonni.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Revolta de um miserável, que vende a fome pra comprar status

O que são discursos perto de fatos?
Nem sempre a demagogia de folhetim
Serve à política de bolso.
Concepção do individuo abandonado
Em qualquer calçada do desespero
Situações extremas equivalem a atitudes imorais
Irracionais, são as migalhas divididas entre bocas que tem fome
Não falo de fome material, falo de fome ideológica
Quando se esta na merda, já não faz diferença
Correr ou ficar, da na mesma.
Sabe aquelas moedas que encontramos embaixo do sofá
Quando se não tem mais nem uma nota na carteira
È meu amigo, não tem mais nada embaixo do sofá
E muito menos na carteira
A solução, é assaltar o congresso nacional
Dinheiro lavado, é dinheiro limpo
Não é?
Então vamos, vamos roubar dignidade
De quem vende sanidade nas ruas
Nos becos e nos bueiros
Deste aglomerado de gente e asfalto
Chamado São Paulo
Depois assine nosso plano de fuga
Como sem itinerário
Admito, enquanto omito
Nossa pobreza não nos torna indiferentes
Miseráveis talvez, mas ainda sim com relevância
Pois uma arma, mesmo que sem balas
Oprime na mão de qualquer um
Preto, branco, vermelho ou verde
Sem distinção de monocromia
Sem subdivisão de mediocridade
O que importa agora, é a necessidade
Escolha entre ser antropófago ou ser banquete
De qualquer modo ou de qualquer maneira
O revolver continuara sem balas
Então atire vácuo por entre as entranhas
Epílogo, sem recapitulação
Consuma tua fúria e execute-a
Quando cessar, roube qualquer carruagem de metal
E fuja pro azul
Êxodo urbano, em direção a areia, mar e sal
Lá sim, podemos nos afogar de verdade
E não de miséria
Comer o por do sol, e tragar o horizonte
Quando chegar, tire os sapatos
Pra que a sola incriminada,
Não contamine o litoral.

Guilherme Radonni.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Estofados, degraus, guerra de dedos e borboletas...

O conheci num degrau,
Em um sábado cinzento
Em meio do barulho alheio
Em uma noite onde o acaso nos permitiu
Começou com um papo desajeitado
Daquela que nos apresentou
E logo nos rendemos aquilo que seria incomensurável
Estofado, desejo, afagos e olfato
Nos ganhamos ali
Onde as mãos não se continham
E tentavam descobrir mais que o zíper das calças
Mais que o toque da pele
Mais que o arranhar da carne
Minhas mãos, apertavam as dele
As dele, me subia pela nuca
E se embrenhava no embaraçar dos meus cabelos
Logo, vinham os homens estampados de terno e gravata
E impediam o que nossos corpos suplicavam
Desconhecido, não sabia o que era aquilo
Era maior que o peito e explorava minhas extremidades em suspiros
Ao voltar a realidade, me perdi de novo,
Nos conhecemos numa segunda vez,
Em frente a um teclado e a um monitor barato
Ali ficamos, até o sono nos pesar os olhos
E permanecemos um com o outro, pelo menos em pensamento
A rotina, já não era tão sem graça
Agora havia, prosa de bolso
Trocadas e enviadas, para nos suprir da distancia
Que já não parecida tão importante.
Fugimos para o alto de um edifício, vimos a cidade ascender
Enquanto o dia se apagava, e os insetos?
Malditos insetos estampados de terno e gravata
Pela segunda vez fugimos, dessa vez para os degraus das escadas vazias
Lá, nos rendemos a vontade, trocamos mais que olhares
Enquanto aquela febre que eu não sabia o que era
Me fervia o torço, as pernas e o lábio
Foi então que tivemos certeza
Terno e gravata não gostam tanto assim da gente,
E não foi só disso que tive certeza
Descobri o quanto adorava, teu riso desajeitado no canto da boca
Quando te olhava por tempo de mais
Descobri o quanto admirava tuas mãos compridas
E incapazes de ganhar de mim
Numa batalha de dedos.
E ainda descobri o quanto fica sem graça
Quando te beijo no meio da multidão
Não é minha culpa, só preciso encostar meu lábio ao teu
Antes de ir embora e ver o vagão correr os trilhos
Sabe o que mais descobri? Descobri o que é ter borboletas no estomago.
Um enxame de mariposas me corroendo a sanidade
Me fazendo louco por ti,
Poderia escrever infinitas linhas,
Sobre você, nós ou qualquer momento que passamos juntos
Mas guardo a eternidade para o acaso
Enquanto gasto nossas horas, sem pretensão ou ilusão
Como você mesmo me previne,
Em vão, só te quero enquanto hei de querer a Lua
Nossa liberdade é o que nos deixa a vontade
Portanto mergulho sem medo em tudo que seja você
Não sofreremos uma gota se quer
Pois paixão feita em escada
Sobe degrau por degrau
Sem queda ou tropeções.

(De um bobo, para um gigante)

Guilherme Radonni.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Algumas formas de se acabar com o tédio ou com você.

Observo o assoalho,
Cerâmica, rejuntes, rodapés e poeira
Enquanto ouço o rangido de minha própria mordida
Mastigando tua ausência, engolindo o vácuo
No ângulo da parede, molduras de bolso
No ângulo do peito, cicatrizes e coagulo
Não vaze, ninguém limpara o vermelho do chão
Portanto cesse, e não vaze.
A escama do meu lábio escorre em círculos,
Em volta da borda de um copo embaçado e mal lavado
Assim como o teu rosto, sujo de sono, como quem ainda não acordou
Até lhe chamaria pra dividir a insônia e o as migalhas do café
Mais despertador não serve para acordar quem nunca existiu
Ilusão caótica,
Desmembra minha percepção
Me fazendo amar o vento
Venha, bagunça meus cabelos, tire de mim as rugas que ainda não veio
E sopre vida em minha cara,
Vamos vento me ame,
Me ame, como eu te amo
Rogo um vendaval,
Para gozar-te a carne e causar espasmos aos suspiros.
E quando voltar a ser leve brisa volto a observar o assoalho,
Formigas, carregam umas as outras
Carregam as bombas atômicas
Me carregam pro formigueiro de mim mesmo
Veneno atônico das formigas, escorregue por minhas veias
E desperte minha alergia de insetos, minha alergia imaginaria de solidão
E lhes prometo glicose, daquelas cristalizadas e tão brancas como neve.
Chega de devaneios, me ascenda um cigarro,
Tola amnésia momentânea, nunca fumei
Isso é desculpa de quem quer puxar assunto.
Sendo assim chame um pirofórico
E eu lhe apresento meu amor pelo vento e uma molécula de oxigênio
Quem sabe me inflame também,
Sempre fui meio...
Piromaníaco.

Guilherme Radonni

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Quem apagara a luz? O cone, as cadeiras, ou a rotina?

O que é rotina, quando se tem o quintal dela?
Confesso, lá estou todas as manhas,
Talvez a culpa seja do relógio,
Ou talvez seja a minha ânsia gritando de novo
Mais aquele dia, foi mais que isso
Mal abrimos as janelas, e o sol já nos invadia
Nos corrompia com todos os nossos 17 anos
Esparramados nos lençóis
E sobre a carne crua, um do outro
Nudez de bolso, e como diz ela
Cheirava a leite, coisa de criança, coisa de irmãos.
Depois cessamos nossa sessão de devaneio
E fomos ao microondas industrial
Esquentar o que move nossos estômagos
E dessa vez não era nem ulcera nem sequer azia.
Partimos para o martírio individual de cada joelho
O meu, era dançar por ai, a valsa das sapatilhas rasgadas
O dela, era dançar por ai, a valsa dos físicos e químicos.
Marchávamos para os trilhos, enquanto desejo alheio nos invadia.
A voz cansada de qualquer maquinista nos alertou
“Estação, sol, mangueira e plano de fuga
Desça agora e busque o terceiro”.
Assim fizemos, saltamos em direção aquela que nos completa
No caminho infligimos a lei
Roubamos um cone imperial, pintado de piche e outros restos
E isso foi o mais perto que chegamos de um crime,
Concluímos a via sacra, invés de cruz e humanidade
Levamos nos ombros, nossa própria loucura.
Sol, suor e sal.
Tudo esparramado no quintal,
Onde as acerolas ainda não caíram
Cachoeira produzida, fuga hídrica
Banho de mangueira, três velhos cansados,
Que nem rugas tinham.
E se a vida fosse um filme?
O nosso seria com legendas em braile
O nosso seria em vermelho e verde
O nosso seria sem final.
Começa então o jogo das três cadeiras
O ultimo a sair apague a luz
Que não seja eu, não suportaria ver metade de mim indo embora
Prevemos a nossa morte, e nos prevenimos com lágrimas e sorvete
Depois secamos,
E só restaram as cadeiras vazias
E água evaporando.

Guilherme Radonni.

A onde estão os cortadores de grama?

Eu, pobre carcaça movida a angustia que sou
Assistia a cidade acender
Enquanto o céu parecia cair
Permanecia deitado na vertical,
Era o que eu sempre fazia para não ter de escorrer
Para não ter de sangrar, ou até mesmo transbordar
Com os olhos postos nos clarões arroxeados que pintavam o céu
Eu invejava a chuva enquanto me escorava na janela
Fingindo ter afeto ou contemplação
Não adiantou, carinho não se dá em concreto
Não devem ser tão compatíveis
Pelo menos não em setembro
Mal começara o atordoante mês,
E eu já não tinha vontade, nem grana,
Esse último acho que nunca o tive
Então escorria por ai, esperando a chuva cansar
Enquanto eu restava
Assistindo da minha janela
O espetáculo dos homens pequeninos
Que daqui de cima pareciam formigas estampadas de terno e gravata
Que matavam umas as outras por cédulas verdes
Homem tolo, tem grama em tanto lugar
Porque brigam por uma sintética e de papel?
Estampada com um rosto em cada nota
E marcada com números de registro
Quem foi que catalogou a grama
E fez dela combustível pras guerras?
Não sejam tão pequeninos homens vistos da janela
Papeis verdes não curam insuficiência humana,
Papeis verdes não cessam a chuva que cai
E nem ao menos compram o que nos falta no peito.
Indignado, repouso minha mão na testa
Com qualquer tom de desespero
E desço até ao porão eufórico e aos berros
Procurando algo no meio da bagunça e da poeira.
- Mãe você viu meu cortador de grama?
- Pra que filho?
- Vou aparar a loucura dos homens!

Guilherme Radonni.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Não a deixe sò, sò por uma carne do mesmo sexo.

“Juro que não destruirei o mundo”
Foi o que li nos olhos da minha velha,
A rainha esta doente meu reino,
A rainha irá se deitar.
Como há tempos não sentamos para nos olhar,
Eu declaro você agora como minha mãe,
A canseira do mundo te desgastou minha velha,
Você já não tem em que confiar,
Se sua princesa virar fotografa...
Com as miseras moedas de ouro da família,
Não se lamente pela vida bem sucedida da fama.
O seu mais primogênito,
Hoje fez na audiência a juíza chorar,
Fez com que lambesse a lama na qual se senta
E bater o martelo da ousadia.
Todos cresceram...
Menos o seu maldito salário não é?
Acalme-se mamãe,
Amamentados nós já estamos,
Só falta o mundo chutar pra frente.
Enquanto a sua filha se relaciona com o feminino,
Á noite,
Ela também corre para parar um momento em um retrato profissional.
Acalme-se rainha,
Que a janta é por nossa conta.
Aclama-se minha velha,
Aqui a injeção já foi dada contra a raiva.
Tábatta Iori [13.08.09]

Passa o seu sussego idiota!

Passa a porra do seu celular!
É o oi que a garota recebe de volta da escola.
Tem mochila, ligação mal completada, moto e capuz.
Já adivinha o que pode ser né?
Estupro? Não. Só se for da dignidade daquele infeliz.
A coisa já é mais clara do que romper,
É só um pedaço de ferro por uma resolução de dívida por pó.
Porque aqui nesse lugar, é só isso que há.
Isso daqui já esta ficando podre demais para o meu mundinho.
Aja estômago.
Aja êxtase para cessar os assaltos daquele pobre.
É pena. Só pena que resta quando tem de mudar o caminho e torcer para não receber uma bala pelas costas de despedida.
Daí saí correndo em busca dos amigos que estão em cima do morro.
“Levaram o meu sussego!”
“Que?”
Ninguém entende.
Não naquele momento de pânico, por ter uma arma apontada na barriga.
Era só ele atirar.
Pronto.
Iria haver uma pausa e a correria dos pássaros.
Depois iriam chamar alguem e ligar avisando aos familiares que a queridíssima tinha falecido por ter ido cumprir seu horário de aula.
Antes fosse cheirar letras. Ou beijar na boca.
Antes fosse mudar de caminho na vez.
Antes a roleta girasse e ela ganhasse na mega sena.
Mas já aconteceu vai, chega de drama.
Esse poema já esta grande demais para aquele pobre assaltante que nem ler sabe.

Tábatta Iori [28.08]

domingo, 16 de agosto de 2009

Calçadas cegas.

E os galhos secos das arvores tristes
Fincados em qualquer calçada pouco limpa
Assistem sem intervalos o asfalto e o homem
Espetáculo pouco plausível
Assistir a deturpação dos homens sobre o produto cinzento
Que nos serve de solo.
E se fossemos todos cegos?
Não, não cego como já somos
Digo, cegos de verdade
A que ponto vemos nossas mentiras
No escuro tudo é instinto
Tudo é visto, não pelos olhos mais sim pelos atos
Se ninguém te observa, você é apenas o que você é
Mais se presença alheia te estampa a companhia
Lá vem os falsos valores e costumes irreais
Afinal, você não mataria por comida na frente de um padre
Mais no escuro, você mataria o padre para lhe servir ao estomago
Tudo dependeria do tamanho da tua fome
A minha, é fome de verdade, insaciável e que me causa ulcera,
Todo o codificar de uma sociedade, apenas pelas retinas e pupilas
Que pouco enxergam o que deveriam enxergar
Me pergunto se o branco é tão cego quanto o que é escuro
Afinal na penumbra nada é visto
Mais se toda a existência do branco penetrassem em nossos olhos
Dilatariam ao menos nossas retinas
Nos poupando de ver qualquer vulto
E ai sim, seriamos isentos de inverdades.
Escalafobéticos e orgânicos,
Mas ainda sim me perturba a idéia
De que só uma cegueira curaria outra.

Guilherme Radonni.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Desarranjo dos arranjados.

Como?
Me diz como posso ter aquilo que minhas mãos não alcançam
Aos olhos, soa como miragens de outrora
E nem contemplação basta para cessar tal vontade,
Tal devoção já se tornou maior que eu,
Escorre pela ponta dos dedos
E vaza a cada centímetro perfurado
Dance comigo, te embalo na valsa da eternidade
Enquanto gravo teus movimentos numa lembrança sem fim
Vamos, deixe-se deitar sobre o torço que te louva
Rogo teus seios, teus olhos
E cada centímetro de cobre de teus cabelos
Seja minha, enquanto o resto
Torna-se restante e sem relevância
Mais antes me explica como posso ter o que não é meu
Carne alheia que não me pertence, sentimento voraz que me consome
E nem sequer existe para o que é recíproco.
Triste existência, que me confunde o peito
Não sei amar, não sei cantar
E também não sei ser mais do que eu
E se isso não bastar?Passo a eternidade sem teu semblante
Tal veredicto torna minha sentença devastadora
Arde-me os olhos pensar que não poderei te ver
A cada passar de hora, a cada termino de dia, a cada devaneio roubado
Do cheiro doce da pele tua.
O que fazer se não te encontrar nesta vida?
Como posso sentir incomensurável saudade
Daquilo que nunca tive, daquilo que nunca me tocou os dias
Me explica como.
Como posso amar aquilo que nunca existiu?
Vá embora fugaz dor a me apertar às entranhas
Desapareça do meu peito,
Antes que dor maior manche minhas mãos de vermelho
Não sou tão grande para suportar tal tormento
E se não pode estampar minha pele com a tua
Então não tinja meus minutos de dor e vazio
Fome, tenho fome.
Suplico para cessar-me tal lacuna, antes que ela me cesse
Amor não é um sentimento
È um dom, dom esse que não tenho
Dom esse que sou isento,
Sofrimento, tortura de não ter o que lhe cabe
O que lhe serve
E a mim,
Só você me serve, só você me cabe
E se não te terei nessa vida
Calo tal vazio, com aquilo que se chama
Silencio, manchado de vermelho
Estacado no peito
E ferido em meu leito.
Mas antes me explica como.

Guilherme Radonni

domingo, 9 de agosto de 2009

Ao teu reinado.

Eu que sempre fui bom com as palavras, versos e fonemas
Me encontrei sem expressão pra dizer o que sinto
O que é ser filho?
Ser fruto de uma junção da carne?
Ser produto da soma individual de reis e rainhas?
Seja o que for, sou teu,
Teu filho, tua prole, teu fruto, teu produto
Sei, peso no bolso e na cabeça
Compenso, ainda não sei de que forma
E se afeto me falta no gesto
Tenha certeza, transborda no peito
Admiro tuas horas gastas que te derrama suor
Feito de rotina,
Louvo tuas costas, que carregam mais do que a própria carne
Carregam uma rainha, teus filhos e um reinado inteiro feito de convívio
Tem de ser muito homem ou muito forte
Para não sentir o peso que uma família traz
E você alivia tal peso, no modo como vê as horas
Não es insano, es companheiro de muitos
Es calmo e sempre paciente
Traz no gesto a alegria de permanecer sóbrio
E faz calmaria no tormento do lar.
Não me esqueço de um dia corriqueiro
Manhã de semana e como sempre o destino era o mesmo
Você levava a todos em sua carruagem feita de metal
E eu inquieto perguntei
“Você não cansa deste itinerário?”
Então respondeu como quem sempre soube a resposta
“É por isso que sempre faço caminhos diferentes”
Isso,guardei no peito, enquanto enxergava coisas que não via
Porque reclamar da rotina, da vida, desta ânsia que sempre tive
Quando posso enxergar as coisas de outro modo
E já que tenho de cumprir minhas horas, que faça cada dia de um modo diferente.
Amo-te homem
Tu que foi meu progenitor, meu investidor, meu ponto de fuga
E nunca cobrou nada em troca,
Es Rei de um reinado, talvez sem ouro, prata ou qualquer metal precioso
Mais tem riquezas que o tempo não dilui,
Família e admiração.
De herança espero tua lembrança,
Esta tenho certeza jamais se apagara de minhas vísceras ou veias
Carrego no sangue teus cromossomos,
Carrego nos calos teu trabalho
E carrego no peito meu afeto por ti.
E quando precisar de reparos, devido ao mal trato do tempo
Estarei lá, feito mecânico em carro velho
Feito muleta em joelhos fracos,
Feito filho, em dia dos pais.

De um louco ao teu rei

Guilherme Radonni.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Xícaras, lençóis, asfalto e folhas brancas.

Abraço a xícara, como quem nunca recebeu um abraço
Faço dela protegida, e deixo o vapor do café esquentar meu rosto
Enquanto o conforto, toma a sala
Fazendo cena de bolso, virar repouso
È isso que espero de ti,
Seja uma xícara em minha mesa
Espere inquieto meu lábio encostar tuas bordas
E quando minha cede cessar, seque.
Marcho de volta à cama,
Não tenho vontade de olhar o céu nem abrir a janela
Invado a cama novamente e me deixo enrolar nos lençóis
Que se enroscam no meu torço
E me embriagam de sono dormido
E é isso que espero de ti
Seja os lençóis da minha cama
Prontos pra cobrir cada centímetro do meu tormento
Me fazer dormir na euforia das horas
E me sedar com o algodão de teu comprimento
E quando eu despertar, com vontade de rotina
Dobre-se até o frio chegar.
Caminho incessante pelas calçadas alheias
Enquanto exploro cada perímetro do asfalto
E imagino quantos pés ali pisaram
Me satisfaço na rua, no asfalto, no piche e no semáforo
E é isso que espero de ti
Seja o asfalto a beijar meu solado
A rua que caminho em dia quente
Enquanto corro da rotina gasta
E quando minha fobia de metrópole chegar
Escorra pelos bueiros das calçadas.
Ai me vem à inspiração, vejo o branco do papel
A me seduzir com versos imagináveis
Seguro calorosamente o lápis
E começo a proferir prosas de devaneios
E é isso que espero de ti
Seja uma folha branca
Onde eu tinjo os delírios da minha insanidade
Gozo de versos, fonemas e saudades
E quando eu estiver farto de papel e lápis
Se amasse.
Enquanto espera outro minuto de inspiração
Agora sem inverdades ou analogias substancias
O que espero de ti
É o que espero de mais ninguém
Sim, xícaras, lençóis, asfalto e folhas brancas.
Me satisfazem momentaneamente
Mais você, é mais que isso
Você é minha sede, meu sono, minha vontade e minha inspiração.
Es o verbo e não o substantivo
E agora que dei o mapa,
Seja ele, e trilhe caminhos por onde eu não passei.

Guilherme Radonni

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Glicose e pregadores de varal.

Se a procedência do corpo transcendesse a da alma
Ai sim, seriamos seres incapazes
Seriamos instinto sem razão
Eros, sem psique
Dei-me um piano, que eu lhe dou uma performance
Dei-me um acordeão e eu te dou noites nas calçadas inertes
E se todas as calçadas contassem historias
As que eu passei contariam aos berros e delírios
Sobre todos os calcanhares que ali pisaram
Afim de ultrapassar, atravessar, ou simplesmente se estagnar
Sim, morro a cada minuto
Vivo a cada segundo, pois uma hora pra mim
E uma vida pras formigas,
E caminhar sem itinerário, é atômico e plausível
Faça de mim um terminal sem final
Que transborda a cada conto, a cada lábio, a cada torço
Toque uma valsa, e eu prometo
Escandalizar cada centímetro do meu corpo enquanto
Minha carcaça, contrai, distrai, retrai
Sem sequer fazer mudo o tablado que me sustenta
Gritai-vos, sobre a intolerância da carne
Enquanto suplicamos pela epidemia final
Não faço retas em minas linhas
Pois a cada uma, aborto os rabiscos
Das espirais momentâneas.
Sirva de inspiração ao concerto que desconcerta
Dou-lhe um ombro e você me doa sua omoplata
Danificada, ao mal trato das horas
Sem doses de analgésicos ou alucinógenos
E ainda sim, pouco lúcida
Confesso, tenho medo de terminar a xícara de café
Sem antes terminar de devorar teus restos
Peço, fique a mesa, fique a cabeceira
Fique em mim, estendido sobre a lavanderia
Seque-me com o calor dos infortúnios
Depois me dobre e me leve no teu bolso.
Hoje, já não sei porque insisto em escrever
De qualquer modo, escrevo enquanto descrevo.
Sobre mim, ou meu vicio de glicose
Nem se eu comece todo o açúcar do mundo
Minhas horas seriam doces,
E mesmo se eu fosse diabético
Tão excesso não me mataria
Pois nem as enfermidades me ferem mais.

Guilherme Radonni

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Seja louco mas...

Os loucos de história pra contar...
Os loucos de coração...
Os loucos pelos loucos.
A loucura de viver a aventura,
A loucura da adrenalina na cena,
A cena de loucura.
Quando se constrói a insanidade,
Se tem afeto por esta.
Foi assim que passou as horas,
Assistindo os delírios de desconhecidos.
As loucas de carros roubados...
As loucas das unhas vermelhas...
As loucas por vermelho.
Seja louco,
Mas não seja livre.
Prenda a sua loucura com o seu papagaio,
Apenas nunca repita o que mais ouve.
E assim que a maçaneta rolar,
Repare.
Quanto mais cedo se safar,
Mais cedo vai soltar seus devaneios e contaminar os prédios altos.
Dê banho e deslumbre a loucura,
Para que ela renasça a cada bolha de sabão.
Dance ao chiado do cantor,
Pinte o seu parceiro,
Limpe-o como uma psicopata o limparia.
Mas lembre-se...
Seja louco,
Mas não seja livre.
Eles virão te buscar.

Tábatta Iori [01.08.09]

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Necrose e outros restos...

A cada toque que meus dedos reconheciam tua pele gelada e inerte, meu corpo se excitava de tal tamanha idéia que não reconhecia meus atos, beijava-te o lábio que era sempre frio e cinzento, eu adorava aquele ar gelado que nos corrompia enquanto nos amávamos, sempre gozei do frio, talvez a culpa seja tua, que tinha a carne sempre sem temperatura, agarrava-lhe os cabelos, que eram como longos fios de cobre cravados ao teu crânio e empurrava tua carcaça sobre a minha, sentia frenesis a flor da pele, enquanto teus olhos eram sempre fixos e transparentes, pareciam me olhar alem da carne, alem da vida, meu olfato captava necrose, entre outras manchas estampadas nos lençóis,deslizava minha língua tremula, sobre a textura insossa do bico intacto do teu peito, e fingia teu orgasmo que nunca vinha, logo fugia pro meu, e te penetrava com meus centímetros, despejando meu leite amargo sobre teu leito, sobre tua pélvis, sobre teus restos, Você era sempre sonolenta enquanto eu insistia em sonhar, suplicava e rogava aos céus, pela tua carnificina, amor de extermínio, delírios que desordenam um holocausto entre minhas vísceras, afagos? Só os meus, tu era perfeita e não apresentava qualquer fraqueza humana. Retilíneos eram teus braços, que eu fingia devorar, enquanto expulsava meus restos de homem, sobre teus restos de mulher, expulsei meu esperma, no que parecia desacordado e magnânimo, deitei sobre teu tumulo e amei até o teu cadáver. Mas quando os homens chegaram, e o fardo dos olhos, já era mera insignificânciaPercebi desesperado, que minha amada não estava sobre os músculos magros dos meus braços, minha amada me abandonastes.Me deixou nesse mausoléu e fez de pó todo o cansaço, agora estou sem norte, parte dela está em mim.E ela levou meu leite em seu ventre, tal tormento me perturbou a carne.E depois de dias a sua ausência, não me deixa fechar os olhos.Agora estou dias acordado, Esperando em vigília.A mulher que me levou a sanidade.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Desabafo das rosas despetaladas.

To cansado dos amores de minutos

Que duram míseras horas

Traduzidas em dias

Quero amores pra vida inteira

E se não for pra ser então não me ame

Nem por um segundo

Sei, cabe ao acaso conceber a eternidade ou não,

Mas essa frase é minha e não me causa mais efeito

Aos ouvidos calejados e esgotados

Suspiros não resolvem

Quero juras de amor, solilóquios de eternidade

E pedidos inaceitáveis.

“Vamos, case-se comigo em algum terreno na Lua”.

Mais agora até a Lua foi deturpada pelo homem

Enquanto promessas foram se desbotando

Sobre a corrida determista que define nosso estado civil

Cansado estou de ter de esperar para amar

Minha boca escarra e tem vontade de cuspir na cara suja

Do homem que me beija, da mulher que me toca

Do ser que me deita em seu torço

E aqui vai um desabafo

Como dizia Lygia Fagundes Telles,

Palavrão estampado em boca de mulher

Soa como lesma em corola de rosa

Mais eu, sou herdeiro de Adão

Portanto grito;

Porra, por que amor não se vende na mercearia?

Por que as pessoas não vêm com manual de instrução?

Por que meu peito teme não te encontrar nesta vida?

Dedico as interrogações aos mausoléus

Porque tal ânsia, já é maior que meu ser

Me domina as lagrimas

E faz fúria na ponta dos dedos

Desisto do vermelho

Abro mão dos versos de outrora

E traços meus rabiscos com sangue coagulado

Cicatrizes bastam pra contar nossas historias

E aos meus amantes deixo de herança

O afeto de uma rosa despedaçada

Com aroma de tormento

Sem pétalas, caule ou pólen

Enraizada no peito

De quem fingi as dores

E os amores.

E pro segundos e horas

Deixo minha carne, que apodrecera

Sobre todo o resto

Que não for amor.

Guilherme Radonni

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O regresso das exiladas

A volta delas persistia em resistir

Tal regresso que pedi aos céus

Que viesse ao inicio de julho

Que viesse como brasa em neve

Só veio numa sexta-feira clara e matinal

Elas, que nem exiladas foram

Partiram ao êxodo de mim

Me deixaram num manicômio

Sem camisa de força

E pintaram a solidão de branco

Só pra me fazer ecoar no meio do nada

Umas, foram para a cidade que nos traz paz em época de caos

Outras, foram pra cidades que meus olhos não conhecem

Enquanto eu, fingia brincar de ser normal

Não, não quero ser melodramático

Enquanto ouço valsas de nostalgia

Só suplico o regresso do que me tiraram

Meus membros, minha cor nos olhos, meu riso e meu conforto

Sem isso, tudo é tormento, tudo falta

E o frio de julho, vira reles calafrio

Perto da ausência delas.

De que me vale férias da rotina suja que levamos

Se não compartilho minhas horas com ninguém que valha

Valha suspiros, devaneios,insanidades e frenesis

Pra quem vou recitar meus versos

Que soam sempre igual

Porque escrever de mentira

Não é escrever com o peito

Sendo assim, que todos os meus fonemas ecoem igual

Pois o que sinto é único

Pois o que sinto é saudade

Pois o que sinto é revolta e tormento

E sem elas, isso me toma por completo

Devora minha carne e cega os meus olhos.

Admiro a pequenina dourada,

Que tinha todos os motivos pra ser tornar insana

E ainda sim é a mais lúcida de nós

Louvo a negra circense

Que se equilibra entre os teus desequilíbrios

Que por si só já são suficientes para aniquilar um picadeiro inteiro

Almejo os olhos de tabaco

Que me trazem paz, confissões em versos

E confesso prazer nas horas vagas.

E ainda invejo a menina de olhos pequeninos

Que já beijou os lábios da minha metade e da minha sanidade

Voltem suplico aos ventos que voltem

E façam do fim de julho o começo de nossas vidas.

Guilherme Radonni

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Meu verbo,

Era simples e suave

Como descrever sono em dia frio

Os olhos procuravam qualquer motivo pra disfarçar

Mas não achavam se quer refugio para cessar tal encontro

As mãos eram quentes e tremulas,

Tocavam a face em tom de afeto

E faziam primavera em horas de neve

Nos perdíamos a cada curva do corpo.

Torço, carne, lábio e vontades

Era tamanho itinerário

Que eu desejava segui-lo até o fim dos meu dias

Adormecia no teu beijo

Acordava nos teus defeitos

E amava até teus erros

Sem perceber teu cheiro tomava meus dedos

Inalava meu desespero

Restando somente a calmaria

Suplico, me consuma por inteiro

Faça de mim teu amanhecer

E me tenha no bolso

No torço,

No sufoco

Nosso devaneio era de jardim amanhecido

Era de inverno dormido

De beijo dado e de amor calado

E sentíamos tudo isso

Só no codificar das retinas

Amor assim, não se compra no bazar

Não se acha para dar,

E traz saudade até no paladar

Me encontre na Lua meu amado

Façamos lá o território da nossa fuga

Assistindo a valsa planetária

Que o homem faz questão de deturpar

Quem sabe você cesse minha loucura?

Quem sabe você extermine minha insônia?

Quem sabe teu beijo supra minha cede?

Quem sabe tua carne cale minha fome?

Afirmativa, resta uma

O acaso nos achou

E teu pólo não ira perder o meu

Assim, sem nenhuma pretensão

Que não seja a eternidade

Te desejo o infinito

E faço do teu peito

O meu

Eufórico, simples e suave.

Guilherme Radonni

domingo, 19 de julho de 2009

Equinócio

Fazia frio, naquela tarde de julho empoeirada

E nos últimos anos vividos

Nenhuma tarde fora tão turva e desfamiliar

Embora fosse domingo e a casa estivesse cheia

Aquele céu me trazia desconforto e estranhamento.

Não havia se quer naquele cinza estancado

Um único vestígio de verão, primavera ou luz

As nuvens cobriam miseravelmente o céu

Como aqueles tapetes persas estendidos sobre a sala

Que não revelam se quer um pedaço do assoalho

Foi então que me dei conta

Era inverno!

E não havia nada que pudesse fazer pra mudar tal fato

Restava-me apenas sentar na frente da lareira

E aguardar até que a próxima estação chegasse

Franzia a testa, enquanto os dedos já enrugados

Se atritavam, afim de produzir qualquer calor

O frio consumia a sala, que se tornava imensa e vazia

Era como se um vácuo, tomasse conta do tempo

E só restasse o frio como testemunha dos dias

Nada supria tal evento,

Suplicava uma epifania pra cessar o gelo que subitamente

Tomava conta do ar, tornado-o rarefeito de mais

Para servir de oxigênio.

Respirava com dificuldade

Enquanto as unhas forjavam uma monocromia púrpura

Os pés petrificados estampavam agonia

Caminhava lentamente

Os músculos rangiam e buscavam o fim do corredor

E lá estava

O banheiro impecavelmente branco e limpo

Os azulejos brilhavam e a porcelana da pia

Refletia o brilho do cômodo indubitavelmente, cor de neve

Por um décimo de segundo quase me esqueci do frio

De ante daquele resplandecer

Eu servia de platéia aquela banheira

Que transbordava uma água quase que glacial

Assistia o ártico no final do meu corredor

Era tão límpido e convidativo

Que me esquecia que era inverno

Vagarosamente me despi,

E centímetro por centímetro do meu corpo

Emergi na existência daquela banheira

Estava submerso, minhas veias congelavam

E a cada segundo o resto ficava mais distante

Ouvia um eco embaixo da água, como se o vento geasse

E como soluto, me desfazia naquele túmulo de porcelana

O frio se tornava mísero e sem importância

Aos poucos não respirava e me esvaecia

Até que o ultimo som que ouvi

Foi o da porta do banheiro sendo aberta

Pelos pés de qualquer familiar

Suplicando ajuda e calor.

Guilherme Radonni.