Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, sobrar?
Sobrar e esquecer,
Sobrar e enternecer,
Sobrar, faltar, desamar?
Sempre, e até de olhos vidrados, restar?
Que pode, pergunto, o ser solitário, em rotação universal,
Senão rodar também, até que a solidão o corroa
Suplicar que o mar nos afogue e que voltemos à praia,
Só para ele sepultar na areia, o que na brisa marinha,
É sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Se entregar solenemente as palmas do deserto,
Aquilo que é entrega ou adoração expectante,
E crer no inóspito, no áspero,num vaso sem flor,
Num chão de ferro, no peito inerte, e ainda na rua vista sem cor,
E numa ave que não voa.
Este é o nosso destino;
A ausência, distribuída pelas coisas,
Insuficiência ilimitada a uma completa imensidão,
E na concha vazia das sobras ser digno
De sobrar, esquecer e enternecer
Crer na nossa falta de amor,
E na nossa secura de amar os olhos próximos que não os nossos
E calar o grito, e a companhia inexistente.
(Peço desculpas a Drummond, mais meu vazio não se enquadra no simples amor que nos é dado)
Guilherme Radonni
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