segunda-feira, 27 de abril de 2009

À minha Rainha

Não faça do teu abismo cotidiano
Meu alicerce de poeira degradável
Pois não sou fruto do teu comodismo
Sou fruto do teu acaso, do teu descaso
Do teu fracasso.
Suas leis, não alteram as minhas regras
Pois nos meus dias a tua monarquia é devassa
Enquanto a minha oligarquia.
Domina
Domina minhas horas, minhas falhas
Meus amores e minhas dores
Ser rainha não te torna soberana
Pois no meu reino as formigas atômicas
São escravas da liberdade.
Admiro tua coroa, conquistada
Pela tua insuficiência de ser suficiente
Mas não idolatro teu cotidiano
Pois o vazio decompõe tua sanidade
Não viva meus minutos, nem roube minha coragem de viver
Pois não confundo liberdade com libertinagem
Meus dias são únicos,
Enquanto os teus são iguais ao de todos
Todos os conformados
Todos os sedentários
Todos os mal amados
Mas apesar de tudo amo-te
Pois o ventre que me pariu
È o mesmo ventre que me enterra
Tuas entranhas já foram as minhas
E movediça foi tua placenta
Que me trouxe o ar, e me tirou do estado embrionário
Que ainda me encontro nesta grande laranja mecânica
Dividimos alergias, diálogos não tão íntimos
E olhares não tão fixos,
Nossos pontos em comum são incomuns
Mas mesmo assim danço pra ti
Pois minha dança é meu plano de fuga
E única forma de louvar o desprezível
Te quero presente na ultima valsa
Aquela de pés calejados e rugas na face já vivida
Quero te mostrar o meu reinado
Onde todos os calos valeram a pena
Portanto não me impeça de amar
Os dias sem vermelho são tóxicos e insolúveis
Não sou a velha arvore seca de apenas dezessete anos
Meu peite implora paixão e minha carência é de carinho
Peço compaixão
Já que minha diferença me torna único
Não sou igual aos anúncios
E minhas lagrimas não são de vidro
Apenas não sou o fruto desejado
Já que meu solo é estéril
E minha fertilidade são os meus versos,
Mas não me julgue pelas calças vestidas
Pois nascemos nus, e só morremos cobertos
Por que a vergonha nos impede
De mostrar as cicatrizes que a vida nos deu.
Sei que teme!
Mas temestes em vão, pois sou lúcido
E compatível ao meu destino
Talvez meus dias sejam insanos,
Mas não ao ponto de viver na sua mesmice
Não me esqueço dos teus gritos e nem dos cadernos de caligrafia
Preenchidos de fardos e castigos
Que sempre me derramam as lagrimas nostálgicas
Mas esqueço de todas as vezes em que tuas mãos me puniram
Pois tua força é a tua fraqueza
E minha magoa é a minha própria existência
Seja rainha, como sempre foi
Mas meu reino não te pertence
Só te quero na estante, só te quero na platéia
Assistindo meu reinado que se acaba
Quando as cortinas se fecham.
Abandonarei em breve o teu reino,
Mas para assim assinar a minha alforria.

Guilherme Radonni.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Oficina de núpcias.

Tudo começou no ápice do dormitório
Sem os pais...
Sem o país!
Cheirava a leite,
Coisa de criança com criança.
Eu dizia pra não se aproximar...
Ele aproximava com a mão,
Os olhos e o quadril,
Quando encostou já tinham êxtase entre elos,
Elos de amor de irmão.
Amor além da vida.
Durou com músicas e afagos,
Durou de ponta cabeça e overdoses.
Todo mundo enlouqueceu,
Até a experiência abriu as pernas.
Porque a mão dele rodou em tudo...
Porque o tudo, naquele momento, fazia parte do som.
A gente transa com a música.
A gente entra em transe...
Só sei que não sei o que houve,
Ouvíamos respirações fora de nós...
Os nós que estavam nos cabelos.
Acabou como em uma fotografia
- você sempre faz isso-
Eu...
Nua na cama.
Ele...
Quase nu no espelho.
Era uma oficina de movimentos retilíneos.
Ele ofegava com os fleches,
Eu só olhava e sorria...
Quando ele terminou e voltou pro início,
A gente voltou a ser irmãos de leite,
Porque o nosso amor é além da vida
E além do sexo.
Que dura até amanhã de manhã.
[Tábatta Iori] 23.04

terça-feira, 21 de abril de 2009

Lembranças da viagem que não fui...

Me lembro da praia vazia
Alagada pela chuva desalegre
Que quase me inunda, mas eu não estava lá
Me lembro das calçadas, quadriculadas
Com tantos pés que soava como
Uma estrada litorânea onde mamutes de carne e osso
Comemoram ao feriado
Mamutes que quase me penetram,
Mas eu não estava lá
Me lembro do chuveiro,
Escorrendo em minha carne
Explorando minha feminilidade
Me tocando os ombros e laceando meus lábios
Quase fui descoberto,
Mas eu não estava lá
Me lembro das três Marias
Que pulavam os blocos
Roubavam corações
E fugiam daqui
Marias que me completam
Marias que me levam
Marias que se levam
Quase desistimos de voltar
Mas eu não estava lá...

G.

Depois alivia. Juro!

Talvez seja a hora de mover o eixo,
viver a vida,
valer a cena.
Talvez larguemos os planos e viremos mendigos insatisfeitos,
talvez faremos sentir o gás e purificar a linha,
talvez vale mais estar na praia do que no escuro,
talvez a lua suma e esqueça de clarear
talvez eu não sinta mais o mar.
Talvez...
só talvez...
um talvez de às vezes
ou parece...
um talvez de, de vez em quando,
quando der...
Só sei que só é talvez,
porque a dúvida permanece e respira,
porque quando não se tem o interrogação...
já se sabe o que usar.
É só fingir que tá certo.
Talvez seja a hora de fazer por mim,
talvez tenhamos que fazer o teatral em planos
e os planos em sonhos.
Sonhos...
sonhe e viva,
duas coisas exatas e puras,
puras como Iguape alagado.
Sonhe com seu cabelo de calor,
sonhe mas não deixe a vida passar em branco aos 17...
apenas nos 17...
não deixe a tontura correr pelos dedos,
não deixe os dedos cair a vácuo,
não deixe...
DEIXE!
Deixe apenas eu suportar amar,
deixe apenas eu te mostrar a minha sáliva.
O enxame de gente na física,
me aterroriza,
sufoca.
Quero andar descalço com os pés nas nuvens,
quero logo ver que valeu a pena,
quero o meu povo unido,
então diga:
Não!
não aos 17.
Farei até o meu vácuo valer a pena!!
(Tábatta Iori) 08.04.09

Rei, Rainha, Ideologia e Marte.

(Para os meus pais sonhadores)

Rei
Rainha.
Coroa e sombras,
darei o ar do mundo por seus ventres,
darei o amor do futuro no seu interior.
Te mostrarei que fui feliz
darei o valor para que possa flutuar
darei a borracha com fumaça para cheirar
darei a minha força nas suas leis.
Os seus filhotes reinam num mundo sorrateiro,
o caminhão de rodas sobe o gelo,
e quando voltares, estaremos bem na vida.
Desculpe por uma resposta cheia.
cheia...
Cheia de paladares e guspes,
cheia de mesmice e futilidade,
de agora em diante,
serei o trono que você sempre quis ter.
No fim da vida te mostrarei a liberdade, mamãe.
Te mostrarei que as minhas lágrimas naquele dia valerão aquela mesa,
te mostrarei a paixão de um só náufrago do papai.
Porque somos todos artistas,
vencedores de uma fita em chamas,
ganhadores de uma esperança preta,
cheiradores do branco de paz.
Amo mais que a mim mesma essa famíla de seis...
amo mais que o saber sem espuma.
Eu só quero te mostrar que crescerei por ti.
Eu só quero te mostrar a paz dos papéis.
Se um dia tudo isso acabar,
lembrarei breve do rosto de vocês,
aquele rosto limpo de rugas experientes
aquele rosto falso de liberdade,
não confunda libertinagem com liberdade.
- Porque, minha filha, todos que tem ideologia morre cedo!
Por isso que você morreu aos 80 mamãe?
Por isso que estou com você agora em Marte né pai?
Por isso...
Só por isso...
Pela liberdade e ideologia.
Eu quero a mão de vocês sobre os meus pés para saltar...
para voar e me sentir segura...
apenas darei as minhas asas novas em troca da de vocês e anunciarei:
ATENÇÃO:
*Troca-se um par de pernas em bom estado por duas asas bem voadas.
(Tábatta Iori) 22.04.09

Terra Prometida...

Largados no sofá, jogados no chão
Gastando da ignorância estampada
Na chuva
Escorrendo a margem da sociedade
A qual idade¿
Com qual idade vc descobriu
Que ser mais uma acerola
Entre tantas no quintal
Só te torna homogênea
Ingênua
É a tentativa de mudar o fruto
Sem antes transtornar a árvore
Me transtorne
Me transforme
Mas não me deixe aqui
Eu não sou daqui
Não sou de onde os cegos enxergam
Não sou de onde os surdos escutam
Talvez seja da Lua, talvez de marte
Ou talvez seja de mim mesmo
Sou de lá
De onde se faz do beijo
A paixão momentânea
De onde se faz do momento
O eterno provisório
De onde os quadros pintam a própria historia
E pessoas são apenas pessoas.
Vamos.....Te encontro a três quadras daqui
Te encontro na sarjeta, implorando compaixão
Mas não se preocupe
O sistema oferece esmola
Aqueles que se sustentam com ela
Mas eu não, eu ofereço minha consciência
Pois esta não irá perecer junto com a minha carne
Agora a chuva seca, e junto com ela você se vai
Como mendigos andarilhos
Que migram em busca da tal terra prometida.

G.

Aí vai o meu grito !

É porque é assim
As pessoas chegam ao falar-te
Admirasse e vêem que num é bem assim....
Sim...
Eu sou como outros quaisquer,
Só não aceito o vigiar com palavras..
Só não aceito a poesia como tal.
Talvez seja a hora de abrir os olhos dos humanos..
E ver que é mais do que isso:
É mais que sair pra trabalhar,
É mais que roubar o povo.
É mais...
É muuito...
Muito mais.
Porque ao chegar em casa
Dar de cara com a pia vazia
Com as mãos cortadas
Com o sangue sujo.
Você pensará que já era...
Que foi só eu sair pra trabalhar..
Que foi só eu roubar aquele povo..
Foi só...
Só isso.
E ai..
Quando você vê que não tem mais jeito...
Que o infeliz virou o perfeito
Você corre...
Corre atrás de algo que nem acredita
mas finge que acredita
Porque quando não tem o interrogação..
Usa-se barras.
E finge..
Finge que ta tudo bem.
AÍ VAI O MEU GRITO..
Praqueles que acreditam no vazio perfeito..
Praqueles que saem de casa por sair...
Respirem..
Vivem.
Morram assim..
Sempre assim..
Com a certeza que não saiu de casa por sair.
Mas que o interrogação sempre esteve ai.
(Tábatta Iori) 03.03.09
Como funciona?
Me explica.
Eu não sei me adaptar a tudo isso.
Como funciona?
Me diiga.
Eu sei que eu não sou daqui.
Ontem ela olhou e se assustou
Anteontem ele olhou a estátua.
Mas como realmente funciona?
Esssa engrenagem de suspeitos
Essa engrenagem de defeitos
Defeitos com gelo, dinheiro e poder.
Só porque toda ideologia é falsa
Não quer dizer que vc tbm seja.
Como funciona isso daqui?
Essa engrenagem com cabelo e vermelho
Esses parafusos foscos
Foscos de solidão e desespero.
Eu não sou daqui.
Sinto muito se essa engrenagem ta pequena
A gente roda apertado e lento
Não tenho o dia todo para isso.
Mas tenho o dia inteiro pra saber como realmente funciona essa coisa!
Eu esfrego as minha mãos nas paginas frescas a tarde toda
Não sou obrigada a te ouvir reclamar!
Só me diiga
Como realmente funciona!
Talvez eu não seja burra
Só quero abrir seus olhos.
Essas instruções de uso não são pra sempre.
Mas eles nunca ti dirão como funciona
Então ta...
Tuudo bem.
Me ensine a quebrar esse brinquedo então.
Me ensine a desmontar o mundo.
(Tábatta Iori) 12.03.09

sábado, 18 de abril de 2009

Gigantes!

Talvez tudo isso seja pequeno de mais pra mim
Afinal, já não caibo mais em mim.
Sinto tudo ao reverso, sinto me do avesso
Sinto me sem apegos.
Os revertereis analógicos, já não me servem de consolo
Não vou engolir sua secreção eliminatória
Nem farei de tumulo
Sua palidez fúnebre e inodora
Gigantes não cabem em aquários
Gigantes não servem de mostruário
E eu sou.
Um gigante incondicional, de apenas um metro e sessenta e cinco
Mas minha ideologia não pode ser medida
Centímetros, não equivalem as minhas vontades
E meu plano de fuga não é terrestre
Silvestre, são minhas entranhas
Que perfura os monogramas
Paridos pelo ventre sujo e impetuoso
Dos homens impensáveis.
Saciáveis, não são minhas artérias
Tenho sede de vida,
Mas meu fôlego já foi sucumbido pela angustia
Agonia lituânia, que despeja sobre os pelos fulvos
A ânsia de estar insensato e sem lar.
Grite!
Palavras que contraem os lábios
E torna movediça a saliva que me indaga,
Me faça de concreto, me cubra de cal e reboque meus vazios
Mas não sou tão obvio, a ser um edifício
Pois minha queda não é na horizontal
Somos escravos de nos mesmos
E nossa alforria, não pode ser assinada
Pois as mãos, já calejada
São analfabetas funcionais
Que servem de combustível
Para a miséria individual das almas quase mortas
Quase vazios, sãos os bolsos dos proletariados
Salariados com fome e pão, sede e água
Na vertical, me encontre deitado
Pois não levanto para o que é perecível
Não me disponho, para o disponível
E faço de herdeiros, as formigas atômicas
Que despejaram sobre a minha lapide
O abismo existencial, do que já não foi presenciado.
Minha herança? Um aquário de gigantes.

Guilherme Radonni

Aquela valsa mórbida...

Essa ânsia que me devora os anseios
Ainda não se exterminou das minhas veias
Ainda se faz presente em minhas pupilas
E ainda invade me o âmago me fazendo estéril.
A monocromia dos meus dias, já não é mais cálida
Vejo, o verde do céu, o vermelho dos lábios
E vejo também o carmim dos devaneios
Que me torna irreal, imoral e imparcial
De todas as vezes que mergulhei no indico
Atrás de endorfina orgânica, pra me dilatar transversalmente
Nos deletérios alheios,
Essa foi à vez que mais me tornei lúdico
Fui recíproco, fui enferme, fui moribundo
Mas o eco da ausência, ainda é atônico
Embora inconstante e consistente
Me fazendo ileso, e tornando sepulcro o resto das tardes.
Não me venha com sua demagogia antológica
Solidariedade, não estampa as ruas por onde passo
Portanto me calo, palavras sonoras, me fazem surdo
Mas não tiram o trono da cegueira antropológica,
Que se esparrama, pelos bueiros sádicos e impetuosos.
Corro pelas calçadas frigidas, em busca de espasmos momentâneos
Perco o ultimo trem, perco o ultimo beijo
Somente para caminhar sobre os trilhos adormecidos
Que gozam dos itinerários sem terminais
Infernais!
São as rosas, que derramam me as lagrimas,
E multiplicam minha insanidade em decúbitos
Rosas que menstruam, sobre o leito da vida
E choram sobre tudo o que é de praxe e insolúvel
Memoráveis foram todos os lábios que tocaram os meus
Foram todas as pélvis que se entrelaçaram a minha
E foram todas as ausências que preencheram me as lacunas
Escrúpulas foram todas as manhas inférteis
Em que fui obrigado abrir os olhos
E não enxergar nada que vale- se o resto dos meus dias
Foram todas as más línguas que proferiram
A solitude efêmera. Foram todas as falsas valsas
Que me fizeram dançar, quando meus pés já estavam calejados
E foram todos os rostos desvirtuados, exalando a éter
Que me lembraram miseravelmente
Os traços impalpáveis
Do teu.

Guilherme Radonni

Feriado de mim mesmo...

Não sei quando começou, mas quando me dei conta
Já estava entre a fumaça, o êxtase e a luxúria
Sobre essa Lua que parecia nos devorar
No meio do samba que não nos deixava voltar
Voltar a nossa melancolia mórbida
Que naquela noite não passava de um vácuo
Um vácuo que afogava o vazio e preenchia o martírio
Inspirados pela aquela tarde verde, que cheirava a vermelho
Embalados por desejos, apegos e desesperos
Que invadiam a madrugada em busca de néon
Orgasmos momentâneos, que inundam nossa sanidade
Que preenchem nossas lacunas e exterminam nossa inocência.
Hoje é dia de Glória!
Hoje é dia de Romance
Hoje é dia de não dormir
Aumente o volume dos seus devaneios,
Eles penetram a minha madrugada
Me fazendo jovem, me tornando vivo
Me esquecendo sobre os lírios ácidos da insanidade urbana
Sim! Vou e volto 87 vezes
Dentre umas, nem sei se volto, mas se vou não penso em ficar
Estabilidade me corrói,
Me dá ânsia da vida e faz de papel minhas entranhas
Papel comestível e intragável,
Mas a tua saliva equalizada a minha anatomia
Essas sim, me tira desse inferno de concreto.
Meia noite e quinze, já não tem mais volta
Meus valores já foram roubados e dessa vez meu pais não estão em casa
Só me resta ficar e beber do teu sangue
Talvez da tua carne, mas amanha é sexta feira santa
E seus pecados não serão absolvidos.
Meus pés doem, mas não pretendo para de dançar
Pois se paro, morro, e se morro paro.
Então dance comigo está noite,
Já que segunda meu cotidiano vira rotina
Mas não penso na solitude, penso na areia das praias
Que tocaram meus pés, quando eles estavam calejados
Dos dias estampados de cinza,
Penso na cidade litorânea, que sérvio de cenário
Para o nosso plano de fuga
E penso também nos dezessete anos
Que se resumem em dezessete dias.

Guilherme Radonni

Monomania

Monocórdio é a tua voz
Que se dilata nos monogramas
Que se difundi na monotonia dos teus dias
E se enquadra no seu monobloco estampado de cinza
Rápido!
Fuja no seu monociclo,
Talvez ele te leve pra longe
Deste mundo monoteísta
Já estou gasto deste canibalismo monocultural
Onde os surdos escutam uma falsa monofonia
E os mudos proferem monólogos com monossílabas
Sendo assim que comece á
Monografia de uma sociedade anônima
Onde seus indivíduos se denominam, monomaníacos.
Nos teu olhos,
Monocromia
Nos meus lábios,
Monogamia
Me relate em seus poemas monóstrofes
E faça de mim seu único monotipo
Assim, acabamos com todo o monopólio
Simplesmente se faça
Mononuclear.

Guilherme Radonni

Sirva-me...

Carinhos trocados, olhares roubados e beijos dilacerados
Só me fazem esquecer de dormir
Sentir tua pele, não satisfaz minha fome
Te quero por inteiro
Provar teu estomago, morder sua face
E beber do teu sangue
Canibais não entendem o que sinto
Minha fome é de paixão
Te quero no almoço
Te desejo na janta
Te sacio na cama
E te guardo em mim
Da tua boca falta sanidade
Da minha boca, a sua falta
Me complete por inteiro
Preencha meus vazios
E não esqueça as cavidades
Não prepare os lençóis
Não pretendemos dormir agora
A noite vai ser longa
Pois infinita é minha sede
Durma em mim
Acordarei em você
E nos acabaríamos em nós
Me cale com seus dedos
Me sufoque com teus braços
Me afogue em teus lábios
Mas não me salve de você.

Guilherme Radonni

Ou isso ou aquilo!

Sinta, veja, fale, seja, respire, brigue,
Ame ou morra
Me escolha, me reprima, me invada, me imprima
Me ame ou me odeie
Corra de lá, corra pra cá, siga em frente, mas pare adiante
Pare ou ande
Cante, dance, declame, exclame,
Reclame ou proclame.
Seja livre, seja preso, seja inocente, seja culpado
Seja juiz ou seja cárcere.
Coma, beba, morda, traqueja, salive, deguste, prove
Engula ou cuspa!
Guarde, esconda, enrole, embrulhe
Tenha ou perca.
Ligue, desligue, escute, assine.
Assista ou resista.
Mate, xingue, descrimine, incrimine
Nazista ou racista.
De beijos, de esmolas, de lembranças, de amoras
Dê de tudo ou dê de nada.
Enforque, degole, asfixie, encaixote
Enterre ou seqüestre.
Alfaiate, socialite, açougueiro, muambeiro
Se inclua ou se exclua.
Gripe,resfrie, enferme, com vermes
Tome pílulas ou tome vodca.
Faça certo, ou faça errado
Ao menos faça.
Seja bom ou seja ruim
Ao menos seja.
Sinta frio ou sinta calor
Ao menos sinta.
Pois de nada valerá viver
Se estiver morto.

Guilherme Radonni

Sobre os Degraus...

Já não sabia que horas eram
Quando meus olhos avistaram os teus,
Simplesmente me senti junto a ti
Como se a tua pele fosse a minha
E teus dedos minhas mãos.
Quando me dei conta já estava em lábios desconhecidos
Explorando a saliva que me inundava
Lábios de cereja
Lábios que me almeja
Lábios de incerteza.
Naquela multidão só restava nós dois
Dois corpos á se penetrarem
Se corromperem
Se entrelaçarem.
Talvez aquela escada, tenha sido
Mais do que degraus silenciosos
Talvez aquela escada, tenha servido
De cenário para nosso devaneio de êxtase
Volúpia e contemplação.
Enroscados numa trilha sonora
Que nos diluía entre os degraus
Que nos enroscava naquele jeans
Surrado e indesejável
Jeans.
Desejável
Era tua carne em minhas mãos
O teu lábio em minha pele
E tua inocência entre minhas pernas
Torneadas de vontades
Saciadas de vaidade
E acariciadas por sua insanidade.
Minhas mãos, deslizavam em tuas costas
Que se repeliam do meu suor
Que se esquivava do teu pudor
E confundiam a tua primeira viagem
A um território homogêneo.
Nomes trocados,
Beijos roubados,
Peitos dilacerados
E agora...
Quero ser bem mais do que um mero degrau
Na tua ambígua existência.
Espero que você
Cale meus lábios
Subindo esta escada chamada desejo.

Guilherme Radonni

Café a dois

Sobre a mesa
Torradas, açúcar e migalhas
Inocência e pretensão
Dividem o café, enquanto gastam da vida
Ouvindo sussurros o café soa mais atraente
O leite qualhado, o pão amanhecido
E a geléia gasta não parecem tão isentos
Ao estomago vazio
De moribundos suburbanos
Mastigando, engolindo, mordendo e sucumbindo
Assim se faz no café
Assim se faz na miséria
E agora?
O telefone toca
Mas o estomago não tem intenção de atender
Os grãos e o queijo
São mais intrigantes, que uma voz desumana
Banquete de ratos pela manhã
Fibras, pão integral e desnatados
Servem de cenário para um dialogo mudo
Por fim, o leite se acaba, o pão esfria
O queijo resfria
E nós?
Ainda somos os mesmos
Com uns quilogramas a mais
E apetite a menos.

Dezessete

Sombras que dançam sobre os lençóis
Entre paredes pardas
Que servem de cenário para o nosso devaneio
Entre cenas, cigarros, vontades e digestões
Nos diluímos ao entardecer
Perdido nos ecos, gargalhadas
Encontrado no gritos, suspiros
Embalados por uma trilha
Que não soa sonora
Vozes aveludadas, equalizadores
Violão, um baixo, seguido de um alto
Sim!
Temos dezessete, entre as pernas
Dezessete anos, e nenhuma rota de fuga
Nenhuma vergonha na cara
E sem pudor guardado nos bolsos
Nos olhos, só vontade
Na carne, só maldade
De vermelho, pintamos o cotidiano
Com a intenção de manchá-lo
E sem pretensão de limpá-lo
Planejamos o acaso
Deturpamos o esperado
E por fim, descemos a serra
Afinal, o mar nos satisfaz
Mas se entregar a rotina?
Ah isso não,
Pelo menos não aos dezessete.

Guilherme Radonni

Entre Valsas, Boleros e um Tango

Ao abrir os olhos, me encontro no mesmo quarto velho de sempre
Infelizmente!
Aquela noite merecia mais,
Não deveria ter acabado entre lençóis
Já gastos da rotina mórbida que me assombra
Aquela noite cheirava á êxtase
Cheirava á vermelho, cheirava a plástico
Mas não plástico mecânico, talvez orgânico
Quando me dei conta já estava nos braços de alguém
Me afogando em lábios desconhecidos
E contemplando um corpo que não era o meu.
Aquela noite, não começou ao por do sol
Começou ao nascer dele
Ao nascer de desejo, ânsia, vontades e sangue novo
Mas não puro, sangue viciado
Penetrado, pelo tabaco, seringas e o álcool
Mas não tão viciado ao ponto de perder a sanidade
Pois essas já foi abortada
Há tanto tempo que não nos recordamos
Nos embebedamos!
De luxuria, de embriagues e solitude
Amplitude!
Me invada com ela, penetre meu caminhos
Explore minha pele, descubra minha inocência
Mesmo que eu já não a tenha
Quero sentir suas mãos sobre qualquer coisa que me pertença
Quero me servir da tua carne
Beber dos teus beijos
E me deitar com tudo que seja você
Sim!
Estamos sobre o feito de tóxicos
Mas não há nada mais tóxico
Que o devaneio das arvores
Que as historias dos lençóis
E o grito das ruas...
Nos levamos por distorções quase que musicais
Dançamos sobre a valsa dos monstros
O bolero das abelhas e o tango das borboletas
Zoomorfismo, exala sobre nossos acasalamentos
Nos tornamos animais, não racionais
Em busca de vazios, que completem o que já temos por inteiro
Difunda minhas vísceras, com suas intenções
Deturpe minhas veias com seus distúrbios carnais
Dilua meu sangue sobre seu holocausto imaginário
E me dilate sobre essa noite nostálgica, que eu ainda não esqueci.

Guilherme Radonni

Desalegre

Ultimamente só o que tem restado
Foram folhas em branco
Que se misturam com o branco do leite
Que se dilatam no branco da cegueira
Já não sei se o cotidiano vale a pena
Mas não me arrisco em riscar os pulsos
Sou covarde e inútil para tal
Ao invés disso, tento pular janelas.
Lacear lábios, forjar olhares
E tatuar cicatrizes.
Assim ganho e gasto o meu tempo
O perco, e se o acho já não o quero
Te quero
Mas não o suficiente
Sua pele magra, olhos fundos e lábios secos
Mostram o que faz durante a noite
Se sabota para não ter que acordar
Enquanto a chuva que nos adora
Continua caindo, esperando mais um beijo
Línguas, olhos, mãos, dentes, unhas e pernas
Se entrelaçam sem pretensão de intenção
Enquanto ela continua caindo
A chuva desalegre que pouco gosta de nos ver
Palavras repetidas seguidas de frases esquecidas
Compõem o seu vocabulário
Que é tão escasso e deplorável quanto você
E conseqüentemente quanto a mim
Não lamento estar assim
Apenas lamento não estar.

Guilherme Radonni

Aluga-se

O vazio deste quarto me incomoda, nunca foi assim
Só que agora a garrafa esta vazia e os cigarros já carburados
Tento gastar o tempo, sem pensar em abortá-lo,
Já que não posso mais sabotar minha sanidade
Talvez se eu calçar os sapatos e abotoar minhas calças
Me sentiria melhor, pois descoberto e jogado
Ninguém comprara meus rascunhos feitos de miséria.
Pudera, ninguém está interessado em alugar
Um terreno na sobra da rua
Ou mesmo tomar uma dose de insanidade.
Já que estou fora do prazo de validade
E perecível é a minha consciência
Que assombra a memória vasta
De um livro empoeirado.
É isso, paginas em branco resume os meus dias
Não, não estou sendo depressivo e melancólico
Apenas faço do esperma ralo,
Um longo e prazeroso orgasmo
Se já não sou mais doce,
É porque o sal inunda minha garganta
Garganta que grita, arranha, desarranja e por fim engoli
Engoli as sobras do café,
Engoli o resto do vermelho
E engoli o que deixaram nas sarjetas.
Talvez migalhas, talvez trapos
Mas com certeza, fardos
Porque ninguém os carrega
Porque ninguém os deseja
Afinal somos os fardos de nos mesmos.

Guilherme Radonni

Vermes

Não! Não abro os olhos,
Pois não há motivo para tal
Sinto aquela embriagues mórbida
Estampada em minhas vísceras
Talvez seja os analgésicos, ou então os entorpecentes
Ou talvez seja apenas você
Pelos menos o que sobrou de você
Seus pedaços, guardo em meu estomago
Junto com o esperma ralo
Que tinge as paredes do teu quarto
De branco.
Paredes que se alimentam de nós
Voyers, que nos mastigam
Enquanto sussurram. Escutam
Nossos surtos de solitude e hedonismo
Me manche de pecados,
Suje minhas mãos
E limpe minha inocência
Me remova deste corpo ingrato,
Que abriga feridas desconhecidas
Que esconde o suicídio sobre a pele
E omite o homicídio entre os lençóis.
È tudo o que eu preciso, uma simples fenda
Penetrando meus pulsos,
Me fazendo pleno,
Te tornando ileso
E nos afogando em fenos.
O acido, nos leva ao Sidarta
Os fardos nos levam a Adolf
E o espelho nos leva a nós mesmos
Eu sei que não era o esperado
Mas também não esperava escrever
Com as mãos calejadas
Me pague mais uma dose
E eu te conto.
Te conto os pontos, as virgulas e as exclamações
Mas não vou te incluir em meus parágrafos
Pois ao menos neles
Não tenho de mentir para mim mesmo.
Guilherme Radonni