segunda-feira, 27 de abril de 2009

À minha Rainha

Não faça do teu abismo cotidiano
Meu alicerce de poeira degradável
Pois não sou fruto do teu comodismo
Sou fruto do teu acaso, do teu descaso
Do teu fracasso.
Suas leis, não alteram as minhas regras
Pois nos meus dias a tua monarquia é devassa
Enquanto a minha oligarquia.
Domina
Domina minhas horas, minhas falhas
Meus amores e minhas dores
Ser rainha não te torna soberana
Pois no meu reino as formigas atômicas
São escravas da liberdade.
Admiro tua coroa, conquistada
Pela tua insuficiência de ser suficiente
Mas não idolatro teu cotidiano
Pois o vazio decompõe tua sanidade
Não viva meus minutos, nem roube minha coragem de viver
Pois não confundo liberdade com libertinagem
Meus dias são únicos,
Enquanto os teus são iguais ao de todos
Todos os conformados
Todos os sedentários
Todos os mal amados
Mas apesar de tudo amo-te
Pois o ventre que me pariu
È o mesmo ventre que me enterra
Tuas entranhas já foram as minhas
E movediça foi tua placenta
Que me trouxe o ar, e me tirou do estado embrionário
Que ainda me encontro nesta grande laranja mecânica
Dividimos alergias, diálogos não tão íntimos
E olhares não tão fixos,
Nossos pontos em comum são incomuns
Mas mesmo assim danço pra ti
Pois minha dança é meu plano de fuga
E única forma de louvar o desprezível
Te quero presente na ultima valsa
Aquela de pés calejados e rugas na face já vivida
Quero te mostrar o meu reinado
Onde todos os calos valeram a pena
Portanto não me impeça de amar
Os dias sem vermelho são tóxicos e insolúveis
Não sou a velha arvore seca de apenas dezessete anos
Meu peite implora paixão e minha carência é de carinho
Peço compaixão
Já que minha diferença me torna único
Não sou igual aos anúncios
E minhas lagrimas não são de vidro
Apenas não sou o fruto desejado
Já que meu solo é estéril
E minha fertilidade são os meus versos,
Mas não me julgue pelas calças vestidas
Pois nascemos nus, e só morremos cobertos
Por que a vergonha nos impede
De mostrar as cicatrizes que a vida nos deu.
Sei que teme!
Mas temestes em vão, pois sou lúcido
E compatível ao meu destino
Talvez meus dias sejam insanos,
Mas não ao ponto de viver na sua mesmice
Não me esqueço dos teus gritos e nem dos cadernos de caligrafia
Preenchidos de fardos e castigos
Que sempre me derramam as lagrimas nostálgicas
Mas esqueço de todas as vezes em que tuas mãos me puniram
Pois tua força é a tua fraqueza
E minha magoa é a minha própria existência
Seja rainha, como sempre foi
Mas meu reino não te pertence
Só te quero na estante, só te quero na platéia
Assistindo meu reinado que se acaba
Quando as cortinas se fecham.
Abandonarei em breve o teu reino,
Mas para assim assinar a minha alforria.

Guilherme Radonni.

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