sábado, 18 de abril de 2009

Desalegre

Ultimamente só o que tem restado
Foram folhas em branco
Que se misturam com o branco do leite
Que se dilatam no branco da cegueira
Já não sei se o cotidiano vale a pena
Mas não me arrisco em riscar os pulsos
Sou covarde e inútil para tal
Ao invés disso, tento pular janelas.
Lacear lábios, forjar olhares
E tatuar cicatrizes.
Assim ganho e gasto o meu tempo
O perco, e se o acho já não o quero
Te quero
Mas não o suficiente
Sua pele magra, olhos fundos e lábios secos
Mostram o que faz durante a noite
Se sabota para não ter que acordar
Enquanto a chuva que nos adora
Continua caindo, esperando mais um beijo
Línguas, olhos, mãos, dentes, unhas e pernas
Se entrelaçam sem pretensão de intenção
Enquanto ela continua caindo
A chuva desalegre que pouco gosta de nos ver
Palavras repetidas seguidas de frases esquecidas
Compõem o seu vocabulário
Que é tão escasso e deplorável quanto você
E conseqüentemente quanto a mim
Não lamento estar assim
Apenas lamento não estar.

Guilherme Radonni

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