quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pequeno fragmento de euforia letárgica.

Precisamos é da boemia da noite

Da abstração das fumaças

Da liberdade das ruas

Encharcadas com o rastro do luar.

Precisamos sentir o barulho

E o movimento caótico

Que vaza das coisas,
Só para transmutá-lasE depois, desacelerar o ritmo do mundo.

Como ouvi uma vez em uma tela de luz e sombra

“Ao menos que você ame, sua vida passará rápido de mais”.

Guilherme Radonni.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

E hoje, as tartarugas já não são mais verdes, nem a grama.


Nostalgia bucólica.

Que o pote da inspiração não se esvazie nunca

Pois enquanto houver céu

Tragarei as nuvens

E as traduzirei em versos etéreos

Pois é só o que vale

A poesia a inundar a alma dos que choram

E encharcam o jazigo seco

Dos que partiram para um poço sem fundo

De onde se vê a lua tão mais de perto

E tão mais longe,

Já que toda claridade em excesso

Cega os olhos feridos da terra.

Só por hoje não quero sangrar

Pois coagulei minhas feridas

Com suor e música

Que o canto dos prédios desabem sobre as cabeças

Dos que não tem eixo

E depois disso,

Um giro fora de órbita

Entre minha dança e a tua paralisia.

Venha ver a tarde meu bem

Quem sabe nela encontremos uma noite mais feliz

Já que a manha partiu sem itinerário

E só confundiu a direção que devemos seguir

Vai ver é isso

Perdi o rastro de pegadas que conduzia minha rotina

Agora os meus pés tortos caminham de cabeça para baixo

E não posso amputar minha estrada
Não antes de chegar á praia

E ainda estou tão longe de sentir o cheiro do mar

Mas quem sabe a maré alta seja logo ali

E me atropele antes de eu senti-la

Quero isso,

Um atropelamento de ondas azuis e verdes

Só pra lavar o estrago que plantaram em mim

No dia em que acordei

E não senti mais minha infância

A escorrer pelas pernas.

Devo estar ficando velho

Pois sinto tanta falta

Do açúcar na boca

Do quintal correndo em mim

Das festas enfeitadas com fitas

Só quero retroceder

Até o ponto de não saber o que é memória

E ainda sim,

Me lembrar de não crescer.



Guilherme Radonni.



segunda-feira, 11 de julho de 2011

Verso anti-veloz

(Feito pra se ouvir ao som de Satie)

Entre uma valsa e outra

Fujo do ritmo, quebro o compasso

Esqueço do mundo

Porque o que é veloz

Fere meus olhos, rasga meu ser

Amputa a minha calma

É por isso que eu danço tanto

Pra esquecer da velocidade das horas

Pois quando valso

Crio o meu tempo

Já quando caiu,

Invento o meu próprio buraco

Que é sempre mais fundo do que esse abismo

Talvez essa ansiedade que sinto apressando meu corpo

Seja trauma do tempo dos homens

É ter essa massa me empurrando pra frente

Sem deixar eu seguir dançando

Apenas me espreitando pra mais perto da beira

Fazendo eu perder o passo

Tropeçando sempre na mesma pedra

Seria tão mais fácil se as pessoas dançassem na rua

Ao invés de seguir cada um o teu caminho estreito

Tão estreito que anula o outro

Como um corredor apertado

Onde só se cabe a tua pressa

É como passar em um desfiladeiro

Se esbarra em um lado, desmorona

Se fica preso no outro, sufoca.

Quero fugir do cinza veloz

Abraçar um cometa

E dançar a valsa intergaláctica da antigravidade

E se o tempo me permitir,

Quero voltar para o planeta de onde me tiraram

Pois lá o tempo não para, no entanto nunca passa.

Viva ao infinito!



Guilherme Radonni

sábado, 9 de julho de 2011

Ode á loucura angelical do gigante escritor.

Talvez você seja um anjo escritor

Que perdeu as tuas asas

E por isso se sente inquieto

Como se não coubesse na carcaça onde foi posto

Pois dentro de si

Algo quer voar,

Mas por fora,

Seus pés continuam no chão

Talvez seja essa tua oscilação

Ter um imã que te prende estático

E o outro que te atrai para um vão

Nesse vão

Libertação e policromia

No chão,

O concreto sem extasia

E eu, entre câmbios e saudações

Prosando com um gigante que me ensina sobe o sentir.

Quero criar uma câmara de eco

E gravar nela nossas prosas perdidas

Assim, quando a tristeza bater

Já sei pra onde fugir.

Que o acaso me permita

Estar no próximo quarteirão

Que tua felicidade contagiar

Mas confesso que navegaria

Pelos continentes obscuros

Que tua loucura tão simétrica a minha

Faz questão de apagar

Talvez porque no escuro, a luz não dilate nossas pupilas

E nossa visão deturpada,

Devaneie sem pudor

Pelas frestas manchadas

De psicodelia e ardor.

Se um dia eu encontrar tuas asas

Juro que costuro em tua carne

Com cor,cuidado e afeto

Por que nunca se sabe quando um anjo escritor

Cairá de novo neste planeta deserto.


(Resposta á “Descrição do personagem louco.”)


Guilherme Radonni.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Le Sacrale

(É assim que rezo quando se esta frio de mais para se ajoelhar)


Era o dia mais frio do ano

Na casa antiga,

O vazio das férias de julho

Todos foram viajar

E o menino de corpo inquieto

Ficara para trás,

Sozinho, junto ao eco dos cômodos

Invadido por um tipo de solidão ao contrário

O menino dançava euforicamente pela casa

Enrolado por cobertas que fingia ser cenário

Daquela dança sacrificial ao ritmo dissonante de Stravinsky

Foi a maneira mais instintiva que arrumou

Para se entreter e se esquentar.

Manchando as paredes com movimento e tremor

Atravessando aos giros os corredores escuros

Ele improvisava em cada canto

E cada canto se contaminava de som e fúria

Uma força visceral que lhe tomava as pontas do corpo

E lhe fazia aumentar o ritmo,

Pulsando rigidamente naquela cadência canibalística

Como uma auto-devoração,

Uma dança progressiva que riscava as portas e janelas

Que filtrava os graus e lhe fazia esquecer da temperatura

Febre de oboé, calor de eufônio

E a sinfonia transbordando pelos furos do corpo

Escorria pelos olhos, nariz e boca.

Havia evocado o ritual da sagração

O profano e o divino

O corpo que cai

Num ato de euforia o menino se despiu

E ofereceu teu corpo inquieto aos deuses do som

Era o dia mais frio do ano
E ele, o menino que dançava para se aquecer

Havia se entregado a ventania.





Guilherme Radonni.