segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Anúncio que suplica a cor...

Cinza, cinza e cinza

Depois de tanto tempo essa lacuna me volta
Me aperta as costelas e me faz feito grão
Ela já estava tão longe, abafada pelo tabaco e pela euforia
Mas voltou sem convite,
Me expremeu num vão de angustia
Em um dia de vazio e mormaço
Sufocou-me o peito
E secou os olhos que já não tinham cor
Agora cheiro a cinza, a solidão e desespero
Se alguém encontrar a cor dos meus olhos de volta
Ou ao menos qualquer cor que não o cinza
Por favor me entregue neste endereço;

Rua da Ausência, na Casa Vazia para o homem que não sente mais nada que o vácuo

Guilherme Radonni

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dezessete? Sete? Nada.

Esgotou-se, acabou-se.

È o fim de um começo inacabado,

A juventude? Perdida por ai

Em alguma estação de metro,

Bebendo catracas e sabotando a realidade.

Enquanto eu, me procurava

Em algum gramado fazendo fotossíntese ao meio dia

Esparramado pela rotina,

Fingindo que era jovem de mais pra me preocupar com a bolsa de valores.

Mas na teoria, não mais

Com o fim, vem o peso, o fardo os dezoito

Esse sim, me causa cólera. Causa-me...

Vontade de engolir os ponteiros do relógio

Para que este não mais marque os minutos gastos

Manifesto a minha angustia, feita de tempo

Vou mastigar as paginas do calendário

Não quero mais um ano pesando na curvatura das costas.

Prefiro a loucura dos meus dezessete

Prefiro a valsa dos hipocondríacos

Prefiro ainda o plano de fuga inatingível

Este sim era digno de devaneios

Era compatível aquelas três carcaças

Que transbordavam no tablado, na sala ou na calçada

Catatonia não é?

Essa esquizofrenia que agente sente quando se é jovem de mais

E não quer ver o tempo estampar tua carne

Essa eu ainda sinto, parece imperecível.

E ao fim dos meus dezessete declaro falência ao sistema antropofágico

Se este for irreversível viro hippie,

Se for temporário tento fingir não ser

De qualquer jeito o tempo me pegou pelo braço, me apertou a face

E beijou-me o lábio como quem beija á um tuberculoso

E agora me obrigou a segui-lo, ou pelo menos cumprir o que é cronológico

Prometi a mim, que não seria trágico nem traumático

Mas ainda sim, arde o peito

Ver os dezessete perdendo sua cor, ou pelo menos sua veracidade.

È essa, tenho certeza que é,

Essa tal... verossimilhança que nos prende a realidade

Nos presenteia com dores, cansaço e idade

Se os velhos não podem criar suas rugas

Sugiro que as extermine

Pelo menos assim não terei de me preocupar com a maldita bolsa de valores.

Antes Dezessete...

Dezessete e parecia não acabar,

Agora Dezessete virando poeira

Dezessete? Sete? Nada

Meia noite...Dezoito,

Dezoito e parecia não acabar.

(Dedico a melhor época da minha vida, aquela que agente se lembra quando não tem mais o que viver, e percebe o quanto se fez pra que tudo vale-se a pena.)

Guilherme Radonni

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Catatonia

Começou assim,

Noite cai, a Lua engole o dia

E nós, bebemos a noite

Território de quem?

Nem somos daqui,

Tragamos as calçadas

Junto á inocência de quem já não a tinha

Rua cheia, asfalto vazio

Em quanto os copos transbordavam

Tabaco e cevada

Combustível inflamável dos jovens quase velhos

Cujo este que vós lhe escreve, pertencia sem exceção ou cláusula

Valsa urbana, eufórica e de três

Na verdade de quatro, mais a ultima não sabia dançar

Era pequenina, e podia ser esmagada pela catatonia

Individual de um coletivo de três.

Deitamos no concreto e assistimos a um palhaço que não ri

Enquanto nossa sombra fumava os olhares

O cansaço e o experimental.

Fizemos dos nossos versos, nosso próprio hino

E gritamos a insanidade da nossa transfiguração

No meio do improviso, do inexplicável

Do efeito sem álcool.

Por fim, esperamos os trilhos acordarem

Para podermos dormir,

Assistimos a manha acordar numa janela embaçada

Para que os olhos anoitecessem num sono improvisado

No final é tudo cena, é tudo filme

È tudo...

Catatonico.

Guilherme Radonni