Esgotou-se, acabou-se.
È o fim de um começo inacabado,
A juventude? Perdida por ai
Em alguma estação de metro,
Bebendo catracas e sabotando a realidade.
Enquanto eu, me procurava
Em algum gramado fazendo fotossíntese ao meio dia
Esparramado pela rotina,
Fingindo que era jovem de mais pra me preocupar com a bolsa de valores.
Mas na teoria, não mais
Com o fim, vem o peso, o fardo os dezoito
Esse sim, me causa cólera. Causa-me...
Vontade de engolir os ponteiros do relógio
Para que este não mais marque os minutos gastos
Manifesto a minha angustia, feita de tempo
Vou mastigar as paginas do calendário
Não quero mais um ano pesando na curvatura das costas.
Prefiro a loucura dos meus dezessete
Prefiro a valsa dos hipocondríacos
Prefiro ainda o plano de fuga inatingível
Este sim era digno de devaneios
Era compatível aquelas três carcaças
Que transbordavam no tablado, na sala ou na calçada
Catatonia não é?
Essa esquizofrenia que agente sente quando se é jovem de mais
E não quer ver o tempo estampar tua carne
Essa eu ainda sinto, parece imperecível.
E ao fim dos meus dezessete declaro falência ao sistema antropofágico
Se este for irreversível viro hippie,
Se for temporário tento fingir não ser
De qualquer jeito o tempo me pegou pelo braço, me apertou a face
E beijou-me o lábio como quem beija á um tuberculoso
E agora me obrigou a segui-lo, ou pelo menos cumprir o que é cronológico
Prometi a mim, que não seria trágico nem traumático
Mas ainda sim, arde o peito
Ver os dezessete perdendo sua cor, ou pelo menos sua veracidade.
È essa, tenho certeza que é,
Essa tal... verossimilhança que nos prende a realidade
Nos presenteia com dores, cansaço e idade
Se os velhos não podem criar suas rugas
Sugiro que as extermine
Pelo menos assim não terei de me preocupar com a maldita bolsa de valores.
Antes Dezessete...
Dezessete e parecia não acabar,
Agora Dezessete virando poeira
Dezessete? Sete? Nada
Meia noite...Dezoito,
Dezoito e parecia não acabar.
(Dedico a melhor época da minha vida, aquela que agente se lembra quando não tem mais o que viver, e percebe o quanto se fez pra que tudo vale-se a pena.)
Guilherme Radonni
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