Que o pote da inspiração não se esvazie nunca
Pois enquanto houver céu
Tragarei as nuvens
E as traduzirei em versos etéreos
Pois é só o que vale
A poesia a inundar a alma dos que choram
E encharcam o jazigo seco
Dos que partiram para um poço sem fundo
De onde se vê a lua tão mais de perto
E tão mais longe,
Já que toda claridade em excesso
Cega os olhos feridos da terra.
Só por hoje não quero sangrar
Pois coagulei minhas feridas
Com suor e músicaQue o canto dos prédios desabem sobre as cabeças
Dos que não tem eixo
E depois disso,Um giro fora de órbita
Entre minha dança e a tua paralisia.
Venha ver a tarde meu bem
Quem sabe nela encontremos uma noite mais felizJá que a manha partiu sem itinerário
E só confundiu a direção que devemos seguirVai ver é isso
Perdi o rastro de pegadas que conduzia minha rotina
Agora os meus pés tortos caminham de cabeça para baixo
E não posso amputar minha estradaNão antes de chegar á praia
E ainda estou tão longe de sentir o cheiro do mar
Mas quem sabe a maré alta seja logo ali
E me atropele antes de eu senti-la
Quero isso,
Um atropelamento de ondas azuis e verdes
Só pra lavar o estrago que plantaram em mim
No dia em que acordei
E não senti mais minha infância
A escorrer pelas pernas.
Devo estar ficando velho
Pois sinto tanta falta
Do açúcar na boca
Do quintal correndo em mim
Das festas enfeitadas com fitas
Só quero retroceder
Até o ponto de não saber o que é memória
E ainda sim,
Me lembrar de não crescer.
Guilherme Radonni.
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