Se a procedência do corpo transcendesse a da alma
Ai sim, seriamos seres incapazes
Seriamos instinto sem razão
Eros, sem psique
Dei-me um piano, que eu lhe dou uma performance
Dei-me um acordeão e eu te dou noites nas calçadas inertes
E se todas as calçadas contassem historias
As que eu passei contariam aos berros e delírios
Sobre todos os calcanhares que ali pisaram
Afim de ultrapassar, atravessar, ou simplesmente se estagnar
Sim, morro a cada minuto
Vivo a cada segundo, pois uma hora pra mim
E uma vida pras formigas,
E caminhar sem itinerário, é atômico e plausível
Faça de mim um terminal sem final
Que transborda a cada conto, a cada lábio, a cada torço
Toque uma valsa, e eu prometo
Escandalizar cada centímetro do meu corpo enquanto
Minha carcaça, contrai, distrai, retrai
Sem sequer fazer mudo o tablado que me sustenta
Gritai-vos, sobre a intolerância da carne
Enquanto suplicamos pela epidemia final
Não faço retas em minas linhas
Pois a cada uma, aborto os rabiscos
Das espirais momentâneas.
Sirva de inspiração ao concerto que desconcerta
Dou-lhe um ombro e você me doa sua omoplata
Danificada, ao mal trato das horas
Sem doses de analgésicos ou alucinógenos
E ainda sim, pouco lúcida
Confesso, tenho medo de terminar a xícara de café
Sem antes terminar de devorar teus restos
Peço, fique a mesa, fique a cabeceira
Fique em mim, estendido sobre a lavanderia
Seque-me com o calor dos infortúnios
Depois me dobre e me leve no teu bolso.
Hoje, já não sei porque insisto em escrever
De qualquer modo, escrevo enquanto descrevo.
Sobre mim, ou meu vicio de glicose
Nem se eu comece todo o açúcar do mundo
Minhas horas seriam doces,
E mesmo se eu fosse diabético
Tão excesso não me mataria
Pois nem as enfermidades me ferem mais.
Guilherme Radonni
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