Eu, pobre carcaça movida a angustia que sou
Assistia a cidade acender
Enquanto o céu parecia cair
Permanecia deitado na vertical,
Era o que eu sempre fazia para não ter de escorrer
Para não ter de sangrar, ou até mesmo transbordar
Com os olhos postos nos clarões arroxeados que pintavam o céu
Eu invejava a chuva enquanto me escorava na janela
Fingindo ter afeto ou contemplação
Não adiantou, carinho não se dá em concreto
Não devem ser tão compatíveis
Pelo menos não em setembro
Mal começara o atordoante mês,
E eu já não tinha vontade, nem grana,
Esse último acho que nunca o tive
Então escorria por ai, esperando a chuva cansar
Enquanto eu restava
Assistindo da minha janela
O espetáculo dos homens pequeninos
Que daqui de cima pareciam formigas estampadas de terno e gravata
Que matavam umas as outras por cédulas verdes
Homem tolo, tem grama em tanto lugar
Porque brigam por uma sintética e de papel?
Estampada com um rosto em cada nota
E marcada com números de registro
Quem foi que catalogou a grama
E fez dela combustível pras guerras?
Não sejam tão pequeninos homens vistos da janela
Papeis verdes não curam insuficiência humana,
Papeis verdes não cessam a chuva que cai
E nem ao menos compram o que nos falta no peito.
Indignado, repouso minha mão na testa
Com qualquer tom de desespero
E desço até ao porão eufórico e aos berros
Procurando algo no meio da bagunça e da poeira.
- Mãe você viu meu cortador de grama?
- Pra que filho?
- Vou aparar a loucura dos homens!
Guilherme Radonni.
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