domingo, 19 de julho de 2009

Equinócio

Fazia frio, naquela tarde de julho empoeirada

E nos últimos anos vividos

Nenhuma tarde fora tão turva e desfamiliar

Embora fosse domingo e a casa estivesse cheia

Aquele céu me trazia desconforto e estranhamento.

Não havia se quer naquele cinza estancado

Um único vestígio de verão, primavera ou luz

As nuvens cobriam miseravelmente o céu

Como aqueles tapetes persas estendidos sobre a sala

Que não revelam se quer um pedaço do assoalho

Foi então que me dei conta

Era inverno!

E não havia nada que pudesse fazer pra mudar tal fato

Restava-me apenas sentar na frente da lareira

E aguardar até que a próxima estação chegasse

Franzia a testa, enquanto os dedos já enrugados

Se atritavam, afim de produzir qualquer calor

O frio consumia a sala, que se tornava imensa e vazia

Era como se um vácuo, tomasse conta do tempo

E só restasse o frio como testemunha dos dias

Nada supria tal evento,

Suplicava uma epifania pra cessar o gelo que subitamente

Tomava conta do ar, tornado-o rarefeito de mais

Para servir de oxigênio.

Respirava com dificuldade

Enquanto as unhas forjavam uma monocromia púrpura

Os pés petrificados estampavam agonia

Caminhava lentamente

Os músculos rangiam e buscavam o fim do corredor

E lá estava

O banheiro impecavelmente branco e limpo

Os azulejos brilhavam e a porcelana da pia

Refletia o brilho do cômodo indubitavelmente, cor de neve

Por um décimo de segundo quase me esqueci do frio

De ante daquele resplandecer

Eu servia de platéia aquela banheira

Que transbordava uma água quase que glacial

Assistia o ártico no final do meu corredor

Era tão límpido e convidativo

Que me esquecia que era inverno

Vagarosamente me despi,

E centímetro por centímetro do meu corpo

Emergi na existência daquela banheira

Estava submerso, minhas veias congelavam

E a cada segundo o resto ficava mais distante

Ouvia um eco embaixo da água, como se o vento geasse

E como soluto, me desfazia naquele túmulo de porcelana

O frio se tornava mísero e sem importância

Aos poucos não respirava e me esvaecia

Até que o ultimo som que ouvi

Foi o da porta do banheiro sendo aberta

Pelos pés de qualquer familiar

Suplicando ajuda e calor.

Guilherme Radonni.

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