Aqui onde o cheiro do dinheiro dos homens
Não alcança minha fossa nasal
E o verbo verde
Domina o abrir dos olhos
Em imensidão e profundeza
Tenho momento de esvaidão e sonolência
Nostalgia de bolso, saudade dos dedos
E lembrança não vivida na sonoplastia das horas
Que não passam.
Observo os caninos
Que adormecem na sombra alheia
E furtam a paisagem Já que pra eles férias forçadas
Vira rotina de varanda
Eu, perdido nos fios de rede
Nos fios de sol
Nos fios de cabelo
Ele, perdido na minha memória gasta.
Na grama amanhecida assisto
Vestígios da infância
A minha?
Perdida em algum gramado no meio do caminho
E antes que eu desse conta
Já era velho de mais pra pedir
Devolução
Resta me o cansaço
Junto ao tédio renovado
Cinéfilos com cenas repetidas
Mastigando os dentes na tarde da boca
Implorando ao acaso, seu descaso final
Fotossíntese ao meio-dia
Clorofila no vértice do almoço
Enquanto ouvimos rangidos dissonantes
Das redes, ou será das vértebras?
De que me serve uma casa no campo
Sem meus livros e discos?
Não se quer tanta paz, aos 17
Meu prazo de descanso
Parece ser perecível e de 17 minutos
E quando imploro o silêncio e o verde das serras
O que preciso é do barulho ecoante
Das serras elétricas
Pulverizando o monótono
E dando cor aos olhos da vulgocracia
Aos progenitores lamento a despresença
Mas minha boca tem sede de asfalto
Enquanto os olhos almejam o devaneio alheio
Só me despeje na vida
Sem direção ou coordenada
E depois que eu transbordar reze aos ventos
Para que não volte.
Guilherme Radonni.
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