Confesso, supero os degraus
Com alguma dificuldade
Que me pesa os ombros.
Os tendões e a tíbia
Danificadas ao mal trato do tempo
É então que petrificado
Avisto o criado pouco mudo
Que me atordoa os tímpanos
E desperta um piano perdido e empoeirado
Abro qualquer pagina de Adélia
E uma por uma
Tiro minhas vestes
O frio toca meus calcanhares
Enquanto o vazio veste minha face
Suja e pouco virtuosa,
Logo estou despido
De coragem, vontade e até vaidade
Coberto apenas de vergonha
E qualquer dor comprada em mercearia.
Resta-me o copo de água
Que me afoga a cada gole mal dado
Talvez,lagrimas forjadas
Me ajudem, mesmo que nelas
Venham a verdade pintada nos rodapés.
Com os dedos gelados
O lábio tremulo
E as unhas em qualquer tom de púrpura
Sinto a hipotermia
Subindo os degraus, me tocando a face
E sem clemência ou piedade
Me toma as horas
Cessa meu vazio
E me preenche com o fúnebre.
O criado grita!
Adélia chora
E minhas vestes se despedem.
Na minha lápide
Solilóquios de insanidade
E aqui, soterrado pelo solo
O pior frio que existe
É o frio da alma.
Guilherme Radonni.
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