quinta-feira, 16 de julho de 2009

Solilóquio de insanidade

Confesso, supero os degraus

Com alguma dificuldade

Que me pesa os ombros.

Os tendões e a tíbia

Danificadas ao mal trato do tempo

É então que petrificado

Avisto o criado pouco mudo

Que me atordoa os tímpanos

E desperta um piano perdido e empoeirado

Abro qualquer pagina de Adélia

E uma por uma

Tiro minhas vestes

O frio toca meus calcanhares

Enquanto o vazio veste minha face

Suja e pouco virtuosa,

Logo estou despido

De coragem, vontade e até vaidade

Coberto apenas de vergonha

E qualquer dor comprada em mercearia.

Resta-me o copo de água

Que me afoga a cada gole mal dado

Talvez,lagrimas forjadas

Me ajudem, mesmo que nelas

Venham a verdade pintada nos rodapés.

Com os dedos gelados

O lábio tremulo

E as unhas em qualquer tom de púrpura

Sinto a hipotermia

Subindo os degraus, me tocando a face

E sem clemência ou piedade

Me toma as horas

Cessa meu vazio

E me preenche com o fúnebre.

O criado grita!

Adélia chora

E minhas vestes se despedem.

Na minha lápide

Solilóquios de insanidade

E aqui, soterrado pelo solo

O pior frio que existe

É o frio da alma.

Guilherme Radonni.

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