De que seve meus versos
Se proferidos, se tornam
Mudos aos ouvidos tapados
Mesmo assim escrevo,
Pois minha prosa é combustível
A ser carburado pela minha ânsia
Que envenena minha rotina
E faz lúdica minhas horas quase que enfadonhas
Teu francês vagabundo me compra
Pois tenho pressa de visitar
O que meus olhos almejam
Me leve pra cá
Leve-me pra lá
Me deixe a deriva do acaso e do descaso
Quero ser moribundo
Que leva na mochila gasta
Um pedaço de poesia, valsas e amores de minutos
Sempre fui assim, nunca fui daquele jeito
Miserável, cego e quase surdo
Só quero o vento na pele
A inocência entre as pernas
E a saliva entrelaçada nos lábios
Saliva alheia, pois a minha me afoga.
Indesejável são todas as malditas bigornas
Que me prendem ao concreto
E impede meus pés de visitarem
O que é sonoro, inodoro e pouco calórico
Suje meus dedos, com tua vontade de estar vivo
Pois já manchei minhas calças com leite qualhado
Leite que minha irmã derramou nos lençóis
E tornou memorável uma noite
Cor de tabaco
A vácuo, estamos embalados
Mas mesmo assim escrevo
Queimo teus papeis e mastigo as suas cinzas
Cinzentas,
São as horas dos infortúnios
Que usam o relógio como senhor do tempo
Mas no palco, o tablado dilui meus minutos
E me faz talvez de pó
Pois de nada sou,
Perto daquilo que me torna grande e serenizado
Gigante, já disse que sou
Pigmeu, também sou
Pois somos aqueles que carregam na omoplata
As formigas insensatas e pouco memoráveis
Me faça bailar!
Sobre o teu acordeão de serenatas devassas
Quero teus rins, teu canino e tuas pupilas
Pois as minhas, já não me servem
Quero ver a vida cor de carmim
Sambar teu samba
E tangarolar sobre as calçadas da Av. Paulista
Ou melhor, da Via Láctea
Pois São Paulo também não me serve
Deito nos bueiros e me sento sobre a sarjeta
Faço divisível a tua miséria
Pois a alma pobre
Tem carência de vida.
Então vamos, comece a viver
Ou ao menos me deixe viver
Raspe a cabeça, tatue cicatrizes
Engula momentos e chore apenas pelos lírios
Partimos a seis
Se não estiver pronto
Leve apenas os joelhos
Pois eles sim, foram feitos para cair
E em seguida levantarem e caírem de novo
Mas nós nos lamentamos
Por qualquer arranhão que o asfalto nos dê
De presente
Me dou, de ausente, te dou
Se não receber grite,
Não omita o planejado
E louve apenas o que é louvável
E se o alarme tocar, corra
Ou finja que está a correr
Pois a chuva um dia leva
O que é seco e pouco limpo
Limpe, aquele lençol lamacento
Que deixou vestígios do que não se veste
Um casaco, uma calça e um mostruário
Só te transformam no mais novo monstruário
A ser exposto no jantar de ação de graças
De graça, são meus versos
Mas de que adianta
Se são proferidos aos ouvidos tapados.
Mas mesmo assim ainda os escrevo.
Guilherme Radonni.
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