Há situações equivocadas
Que nos levam ao descontrole
Uma teça- feira relatada abaixo
Mostra como os três olhos cansados
Perdem o controle em uma situação...
Digamos de poeira
Nada eleva o que sentimos
Como os corpos que davam nós
Em busca de um desfecho
Em uma sala transparente, emprestada e empoeirada
Mesmo assim convidávamos mais olhos
Para sentir o que o nosso peito
Tentava gritar
Um aborto que não foi sabotado
Uma opressão, pouco oprimida
E aquela mulher que vós deu a vida
Será que nascemos daquele momento?
Não sei
Ainda não sei nem se estou vivo
Mas mesmo assim nos mantíamos em segredo
Nos enroscávamos com pretensão
De se lançar,
Ao chão, ao vão e a Lua
Ela nos aguarda, e mesmo de pupilas fechadas
Sentimos seu branco nos olhos
Até que a fome atordoava nossos estômagos
Aí então éramos obrigados a voltar ao estado físico
Que sente fome, frio, sono e vazio
Pegamos então nossas vestes, jogadas ao chão
Como quem acaba de fecundar uma víscera
Vestimos nossos retalhos e cobrimos a nossa inocência
Só para perdê-la quando furtarmos aquele polvilho
Confesso, fui eu, eu roubei para matar
Matar a fome que me assombrava
Mas ela, aquela de olhos claros
Me serviu de cúmplice,
Assistiu indagando sorrisos minha performance
Pouco aplausível, enquanto tínhamos um laranja
Aquela de pele de asfalto e confusa em blocos
Distraiu os olhos proletariados
Para aquela cena, que mais tarde nos arrancou gargalhadas
Esta aí, uma situação equivocada
Que nos levou ao descontrole
Mas fomos recíprocos, fomos enfermes, e fomos moribundos
Porque nós
Louvamos o equivocado, e sim
O descontrole.
Quando outra terça chegar
Prepare os olhos, o estomago e a garganta muda
Porque irá ser assim
Três olhos que se jogam ao chão
Três estômagos que matam a fome
E três gargantas mudas, que gritam a ânsia
De estarem sóbrias.
Guilherme Radonni
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