quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ao velho amigo do Cajon

Hoje de manhã,

Como se não tivesse tomado café

O estomago reclamava e fazia questão de me lembrar das coisas

Assim como dislexia, fiquei estático

Quando vi aquele velho álbum da memória gasta

Me lembrei então daquele homem, digamos que... andarilho

Lembrasse?

Daquele fotografo, percussionista, afro

E feliz da vida

È eu me lembro

Das suas fotos sobre as calçadas molhadas da chuva

Dos seus tabaques nos palcos de tablado

Lembro ainda do seu cabelo afro enraizado

Que mais parecia uma nuvem de piche e asfalto

Ele, vinha de longe

Desgarrado de costumes

E viciado em viajar

Não para em nenhum lugar

E faz família por onde passa

Adotivo, intuitivo e sempre aos sorrisos

È assim que guardo aquele homem de pele escura

Que nos acompanhou na época boa da vida

Eu sempre gritava com ele

“Será que dá pra fazer no tempo certo?”

Eu dizia bravo como se não tivesse tomado café

Não entendi aquela sensibilidade negra

Quando via ele tocando o cajon,

Se empolgava, como se tivesse acabado de fugir

Pra um quilombo, e assinado tua alforria

Era como açoites de devaneios e gargalhadas

O batuque, acompanhado por um violino que nunca erra

Estampava a nossa dança de fertilidade

Que no palco virava poesia, nostalgia e ritual

O cajon ainda está entre nós

Confesso, que vira poeira cada vez que recebe

Um espalmo de mão alheia,

Mas permanece com a gente, mesmo que adormecido

Já o andarilho não sei ao certo

À ultima vez que tive noticias ele estava na terra de Copacabana

Havia aprendido relevés, pliés e grand jetés

Mas sei que teu espírito anda por ai conhecendo

O resto que tua lente fotográfica,

Ainda não presenciou.

(dedico aquele de pele negra e alma branca)

Guilherme Radonni

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