Hoje de manhã,
Como se não tivesse tomado café
O estomago reclamava e fazia questão de me lembrar das coisas
Assim como dislexia, fiquei estático
Quando vi aquele velho álbum da memória gasta
Me lembrei então daquele homem, digamos que... andarilho
Lembrasse?
Daquele fotografo, percussionista, afro
E feliz da vida
È eu me lembro
Das suas fotos sobre as calçadas molhadas da chuva
Dos seus tabaques nos palcos de tablado
Lembro ainda do seu cabelo afro enraizado
Que mais parecia uma nuvem de piche e asfalto
Ele, vinha de longe
Desgarrado de costumes
E viciado em viajar
Não para em nenhum lugar
E faz família por onde passa
Adotivo, intuitivo e sempre aos sorrisos
È assim que guardo aquele homem de pele escura
Que nos acompanhou na época boa da vida
Eu sempre gritava com ele
“Será que dá pra fazer no tempo certo?”
Eu dizia bravo como se não tivesse tomado café
Não entendi aquela sensibilidade negra
Quando via ele tocando o cajon,
Se empolgava, como se tivesse acabado de fugir
Pra um quilombo, e assinado tua alforria
Era como açoites de devaneios e gargalhadas
O batuque, acompanhado por um violino que nunca erra
Estampava a nossa dança de fertilidade
Que no palco virava poesia, nostalgia e ritual
O cajon ainda está entre nós
Confesso, que vira poeira cada vez que recebe
Um espalmo de mão alheia,
Mas permanece com a gente, mesmo que adormecido
Já o andarilho não sei ao certo
À ultima vez que tive noticias ele estava na terra de Copacabana
Havia aprendido relevés, pliés e grand jetés
Mas sei que teu espírito anda por ai conhecendo
O resto que tua lente fotográfica,
Ainda não presenciou.
(dedico aquele de pele negra e alma branca)
Guilherme Radonni
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