E eu, como se fosse uma criança
Que acabará de cometer homicídio
Ao pobre e dourado peixinho
Do aquário nem tanto azul
Me senti um tanto esquizofrênico
E ao mesmo tempo apagado
Ao ver que a menor existência
Torna-se gigante perto do que lhe é inexistente
Me foi concebido então uma formicação aguda
De medíocre significância
Que levemente me perturbava a carcaça
Como se areia quente me escorresse pelas costas
Desempilhando sutil incomodo
E atrito entre minhas unhas um tanto sujas
Que sem hesitar buscava a carne
Afim de cessar tal fornicação
E isso tudo, que não era nada
Só porque tal indignação me estampou os olhos
Ao ver o paladar das ruas suplicando
E sentindo fome de verdade
As paredes do estomago nem brancas eram
Pois nem corante, nem cor alguma
Tingiu as vísceras da mãe que tenta dormir na calçada
Enquanto tua prole adormece insossa no bico do peito
Este cujo até o leite é escasso
Mas indefinível
È o vazio daquelas bocas
Onde uma reles gota d´agua
Torna-se ecoante
Pois profunda é a fome que lhe perturba o sono.
Com o cinza do inverno
Vem o frio das sarjetas
Que congela a face e causa hipotermia aos miseráveis
Suas armaduras?
Papelão e resto de lã
Já que a carne fraca e anêmica
Não produz se quer calor
Clemência pedem os moribundos
Sujos de misérias, fome e compaixão
Força para a guerra, lhes faltam
Cor nos olhos, lhes abandonaram
Enzimas, se aposentaram
Restam-lhe então adormecer, para ter de esquecer
Alguns cheiram o branco do sal
Para calar o tormento
Outros, calam outros homens para tornar branco o tormento
Quem dera se tal miséria fosse álcool
Assim era só deixar exposto
Para que tal etéreo evaporasse.
Guilherme Radonni
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