domingo, 28 de junho de 2009

Cerimônia á rainha anciã

Teu ventre calejado pariu somente duas irmãs

Mas a rainha das rainhas carregou no útero

Cinco vidas desdenhadas

Cinco irmãos de criação

Cujo sangue carrega teu cheiro e tua memória

Da infância lembro-me com saudação

Dos bolinhos de chuva nas tardes fluviais

Dos banquetes ao meio dia, servido as cinco bocas.

E da pequena mesa branca, quadrada e materna

Cujo está cabia nós cinco, e cabia ainda nossa fome cessada por ti.

As palavras de ensinamento não me esqueço

Embora nem todas tenho executado nos dias de euforia

Da cinta pouco me lembro, sei que esta me ensinou

O que meus ouvidos não queriam escutar

Mas guardo na lembrança com fervor,

Da força desta rainha

Que rangia os dentes, para guardar nossa paz

E mostrava a fúria para os predadores da rua

Não me esqueço de um dia em especial

A rainha disse,

“Levas este pedaço de pau, e se voltarem chorando

Por causa daquele moleque, bato eu.”

Muito herdei desta anfitriã

Herdei a coragem, a disciplina, a força, a teimosia

E na minha herança ainda veio a criatividade

Mas pouco herdei a fé estampada nos olhos delas

Fé gigante e inmetrável, que remove séculos e enfermidades

Admiro a sensibilidade e sabedoria

Que faz dela uma mulher plena e memorável

Sabia de conhecimentos do outro mundo não material

Existencial são os empecilhos que vós apareceu

Mas nunca a deteu, pois mulher forte e insolúvel

Miniminiza nos gestos os muros que as impedem

Maria, este nome de origem incerta

Que expressa rebelião ou amor

Foi nome histórico, religioso e fervoroso

Helena, de origem grega

Estampa nas letras, luz e sabedoria

No passado foi motivo de guerras

Foi deusa grega e foi ainda titulo de livros

Mas pra mim, só á a minha versão de significado

Mãe, mulher,corajosa,fervorosa e divina

Es os fonemas que estampam teu rosto

Na minha memória gasta e pouco ilusória

Parabéns minha rainha por permanecer lúcida por mais 365 dias

Pois motivos para a insanidade não lhes falta

A idade pode até lhe assombrar os joelhos

Mas tua criatividade te rejuvenesce

Te torna livre e indelével

Amo-te mulher

E te guardo nos versos, no peito e no sangue.

(Com amor e dedicação, do neto que reserva prosas de discussões

Para poder passar um pouco mais de tempo contigo)

Guilherme Radonni

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Ensaio sobre a sarjeta.

E eu, como se fosse uma criança

Que acabará de cometer homicídio

Ao pobre e dourado peixinho

Do aquário nem tanto azul

Me senti um tanto esquizofrênico

E ao mesmo tempo apagado

Ao ver que a menor existência

Torna-se gigante perto do que lhe é inexistente

Me foi concebido então uma formicação aguda

De medíocre significância

Que levemente me perturbava a carcaça

Como se areia quente me escorresse pelas costas

Desempilhando sutil incomodo

E atrito entre minhas unhas um tanto sujas

Que sem hesitar buscava a carne

Afim de cessar tal fornicação

E isso tudo, que não era nada

Só porque tal indignação me estampou os olhos

Ao ver o paladar das ruas suplicando

E sentindo fome de verdade

As paredes do estomago nem brancas eram

Pois nem corante, nem cor alguma

Tingiu as vísceras da mãe que tenta dormir na calçada

Enquanto tua prole adormece insossa no bico do peito

Este cujo até o leite é escasso

Mas indefinível

È o vazio daquelas bocas

Onde uma reles gota d´agua

Torna-se ecoante

Pois profunda é a fome que lhe perturba o sono.

Com o cinza do inverno

Vem o frio das sarjetas

Que congela a face e causa hipotermia aos miseráveis

Suas armaduras?

Papelão e resto de lã

Já que a carne fraca e anêmica

Não produz se quer calor

Clemência pedem os moribundos

Sujos de misérias, fome e compaixão

Força para a guerra, lhes faltam

Cor nos olhos, lhes abandonaram

Enzimas, se aposentaram

Restam-lhe então adormecer, para ter de esquecer

Alguns cheiram o branco do sal

Para calar o tormento

Outros, calam outros homens para tornar branco o tormento

Quem dera se tal miséria fosse álcool

Assim era só deixar exposto

Para que tal etéreo evaporasse.

Guilherme Radonni

Ao velho amigo do Cajon

Hoje de manhã,

Como se não tivesse tomado café

O estomago reclamava e fazia questão de me lembrar das coisas

Assim como dislexia, fiquei estático

Quando vi aquele velho álbum da memória gasta

Me lembrei então daquele homem, digamos que... andarilho

Lembrasse?

Daquele fotografo, percussionista, afro

E feliz da vida

È eu me lembro

Das suas fotos sobre as calçadas molhadas da chuva

Dos seus tabaques nos palcos de tablado

Lembro ainda do seu cabelo afro enraizado

Que mais parecia uma nuvem de piche e asfalto

Ele, vinha de longe

Desgarrado de costumes

E viciado em viajar

Não para em nenhum lugar

E faz família por onde passa

Adotivo, intuitivo e sempre aos sorrisos

È assim que guardo aquele homem de pele escura

Que nos acompanhou na época boa da vida

Eu sempre gritava com ele

“Será que dá pra fazer no tempo certo?”

Eu dizia bravo como se não tivesse tomado café

Não entendi aquela sensibilidade negra

Quando via ele tocando o cajon,

Se empolgava, como se tivesse acabado de fugir

Pra um quilombo, e assinado tua alforria

Era como açoites de devaneios e gargalhadas

O batuque, acompanhado por um violino que nunca erra

Estampava a nossa dança de fertilidade

Que no palco virava poesia, nostalgia e ritual

O cajon ainda está entre nós

Confesso, que vira poeira cada vez que recebe

Um espalmo de mão alheia,

Mas permanece com a gente, mesmo que adormecido

Já o andarilho não sei ao certo

À ultima vez que tive noticias ele estava na terra de Copacabana

Havia aprendido relevés, pliés e grand jetés

Mas sei que teu espírito anda por ai conhecendo

O resto que tua lente fotográfica,

Ainda não presenciou.

(dedico aquele de pele negra e alma branca)

Guilherme Radonni

Primeiro o desespero, depois os três úteros.

Interditada estava a ponta dos lápis

E em partes a inspiração das horas

Mas a maldita clemência

Me trouxe de novo a folha branca

E os versos de desespero

Que pede socorro a qualquer coisa

Que cale o tormento

Um beijo que afogue

Um mão forte que enforque

Ou um gole que me degole

Mas isso nunca vem

Por mais que eu peça o termino das horas

Mais me invadem as reticências dos dias

Por obsequio, extermine o oxigênio

Dos pulmões degradados

Para que asma acabe

E junto com ela eu me vá

Aquela que me brilha o branco dos olhos

Me convida a um território sem gravidade

Enquanto Marte me aguarda para o chá da tarde

Suplico, me leve pra lá

Me tire desse azul que não vale nada

Hídrico em vão, salgado e amaldiçoado

Pois ele assina nossa guerra por H2O

Matando a sede dos homens

E secando a sede da alma

Vamos! O ultimo trem pra fora daqui

Parti em duas horas

Faço questão de levar os versos

O tabaco, a pequena coisas loira

E aquela morena louca

Pois estas, tem úteros

A menstruação e a lactação

Como dizia Caetano

Não, não tenho inveja da maternidade

Mas preciso das três mulheres que me valem os dias

Talvez seja o estrogênio ou quem sabe uma parte do peito

De qualquer jeito

As levo na curvatura das costas

E lhes dedico estas linhas que suprem o meu tormento

Sim, não afirmo nada

Pois os cabelos delas, sabem todas as minhas falas

E a vocês deixo apenas a pontuação

Ou melhor a interrogação

?

Guilherme Radonni

domingo, 21 de junho de 2009

Dezessete ainda?

Nem sempre é como...
Os dezessete dessa vez não valeu a pena.
Tê-los para se demitir...
Tê-los por infância.
Não posso ir cabular grana,
Fazer chantagens com os sentimentos de clientes
E nem me expulsar de almoços.
E por que ?
Porque tenho os dezessete.
Por ainda ser bebê.
Dessa vez não colou a história de ser grande
De tentar ter força
De ser mulher.
Dessa vez não grudou o prazer de você me comprar
Dessa vez... dessa única vez
Não adiantou de nada essa idade de fases
Da maldita transição.
Mas agora eu posso ser de vocês de novo
Vamos viajar e fazer o fim dos dezessete voltar a me fazer sentido
Faça-me voltar a respirar o sete
Faça-me amigos e queridos
A desaprender o que eu aprendi em sete dias
Que foi mais do que os dezessete anos de nascença.
Vamos retornar aos físicos dementes...
Não disse que retornaria pra dizer o contrário dos contrários...
Mas agora novamente vamos ver no que dá.
Vamos lá garotada
Porque eu tenho apenas dezessete e não posso ainda ser mulher.
É o suficiente.
Tábatta Iori [20.06.09]

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Confesso. Eu serei cabeça pelos pés de grana.

Tá tudo virado.
Desvirado na forma exata das coisas.
Eu deixarei de conhecer pra ganhar dinheiro
E quem ta nisso a cinco anos ?
Que valor tem.?
Eu já sei como vou ficar
Daqui um tempo eu enjôo e digo que preciso viver.
E digo que quero ganha o mundo
E digo que ta pequeno.
Volte aqui mais vezes
E verás outros versos de reclamação.
Mas sempre dará no mesmo.
Talvez o cigarro já não faça o efeito certo
Talvez eu não faça o sentido correto
E quando se descobrir em mim...
Com ou sem você eu “bombarei”
Um alto e mal me contou essa história.
Só por três dias e por três feriados eu já conheço o podre do anfitriões.
Mas nunca gastaremos versos com a rotina não é anjo ?
Nunca deixaremos de ser nós mesmos.
Só sei que aproveitarei o bom daquelas pessoas
E rirei de tudo isso daqui.
E quando a nossa musica tocar...
Você vem me dizer o sistema de outra mulher.
Eu posso morrer trabalhando por ti
Mas se fores me buscar olhos de mel...
Tudo valerá de novo
E de novo.
Porque eu preciso sempre do novo.
Sem mais pontes de capivara
Sem mais vestígios de cadernos e caligrafias
Sem mais três em cada redação.
Eu serei cabeça pelos pés de grana.
Isso soa como capital
Mas eu moro em minha região de detritos.
Ficarei aqui mais um tempo
Quando não der mais
Eu juro que volto e digo que preciso de um tempo pra mim.
É garotinho...
Ter dezessete anos não é tão fácil quanto pensávamos
E quando aquela mesa de apenas uma cerveja falar..
Eu confesso que sou capitalista e destruidora de mundos.
Até mais tarde guardador de poesias
Até um momento só nosso.
[Tábatta Iori] 15.06.09

domingo, 7 de junho de 2009

Valsa aos olhos cansados

( Á espera dos frenesis)

Sem inspiração me vi
Sem palavras na ponta dos dedos
E a ponta do lápis sem ponta
No branco do papel, somente o pálido
Não tive vontade de pintá-lo
Nem de preenchê-lo
Mesmo assim insisti em continuar
Tentei simular o sexo, a dor, e até amor
Mas foi em vão
Todos estes foram apagados e transferíveis
Facilmente substituídos
Pela desfumaça dos cigarros
Que ascendiam e apagavam
Sem voz de comando, nem precaução
Tédio, tediante, tedioso
Me resgate do cinza que traga as horas
Minhas sapatilhas estão gastas
Por isso não posso dançar
E mesmo se pudesse
Não faria
Meus joelhos ausentes
Falham a qualquer tentativa de adágio
E pior insuficiência
Não há.
Resta-me então cantarolar as valsas
Ó descuido, ó descaso
Esqueço-me que a garganta
Não tem força se quer para escarrar
Quanto mais pra fazer serenatas
Ao desgaste dos moveis
Empoeirados
Me estão os olhos
E não é por falta de vaidade
És o peso da velharia me tombando os ombros

Guilherme Radonni

Valsa aos olhos cansados

(frenesis á insônia da carne)

Tenho sono, mas não durmo
A insônia é única companheira
E não irei de abandoná-la
Talvez seja de vossa autoria
Os subterfúgios que me tomam doses de euforia
Deletérios febris que os vinis trazem a agulha
Da vitrola,da sala quadrada,
Aos meus olhos redundantes
A cada intervalo que me dá as mariposas
Bailo junto á insônia
A valsa noturna que canta á nossa carne
O desapego dos apegados
Olho no estreito visor do relógio de cabeceira
E avisto, o vestido do amanhecer
Os ponteiros marcam cinco e meia
È hora de aposentar a vitrola e os olhos
Os discos cansados arranham a cantoria
E os joelhos enferrujado pedem clemência
Mas ainda sim insisto
Permaneço eufórico e me apaixono por ela
Que me acompanhou no madrugar das horas
Deite-se comigo
Permaneça tatuada nos riscos dos meus olhos
Vamos nos saciar um do outro
Eu te penetro enquanto você me corrompe
Fertilizados ao despertar das rajadas de sol
Perdidos nos lençóis sujos de magoa
Desgarrados estamos
Eu lhe afago a nuca, beijo tua face
E deslizo a textura da minha língua sobre a pele ilusória dela
Sim, fecundei a insônia,
Me deitei sobre ela
E abortei nosso desejo de dormir
Expulsei meu esperma, ao púbis alheio
E nas cavidades daquela que não me deixou descansar os olhos
Me fiz presente e eternizado
Depois de tantos devaneios
Os olhos pesaram
A carne ofegou, e ela adormeceu em meus braços
O invadir do sono
Dominou as paredes manchadas de nostalgia
E sonífero se fez o ar
Os travesseiros se tornaram convidativos
Enquanto os lençóis se enroscaram em meus pés
E depois de dias de persistência
Adormeci, como quem nunca dormiu na vida
Me senti serenizado já que ela permanecia em meus braços
Mas quando acordei, e o fardo dos olhos
Já era mera insignificância
Percebi desesperado
Que ela não estava sobre os músculos magros dos meus braços
Minha insônia me abandonastes
Me deixou pegar no sono e fez de pó todo o cansaço
Agora estou sem norte
Parte dela está em mim
E ela levou meu leite em seu ventre
Tal tormento me perturbou a carne
E depois de dias a sua ausência
Não me deixa fechar os olhos
Agora estou dias acordado
Esperando em vigília
A insônia que me levou a sanidade.

Guilherme Radonni.

Banquete...

O prato pálido, branco
E enfeitado de porcelana
O copo vazio, transparente
Decorado de vidro temperado
A mesa sem vestígios
Satisfaz o estomago que murmura
Suplica, algo a se digerir
Mesmo quando o apetite
È apenas ilusório
Que venha o prato principal
Embalado a vácuo
Acompanhado ao molho de nada
E preenchido de vazio
Tua culinária, não vale o prato que come
E o forno elétrico, só carbura idéias irreais
A faca que esfolia as escamas do salmão
Me parece atraente
Perfura a carne fúnebre
E convida a saliva a escorrer
De qualquer boca que valha um aperitivo
Quem se senta á cabeceira da mesa
Que pague com vintém
Os gastos que o estomago não digeriu
Chame o garçom
Com teu rosto de plástico
Atraente e pouco convincente
Avise a ele
Que fui ao banheiro
Vomitar o que não me desceu
Talvez junto ao prato de entrada
Eu expulse de minhas vísceras
Aquilo que me engasga;
A ânsia da vida
Almoço de nada
Pratos vazios
Mastigando nossas verdades
E engolindo momentos transitórios
Você vai me digerir
Enquanto eu tenho uma indigestão
Depois iremos juntos
Indagar nossas goelas
Enquanto a garganta abre espaço pro retorno
Aperfeiçoando sem aperitivos
Aquilo que nos conforta
Um brinde!
À bulimia.

Guilherme Radonni

sábado, 6 de junho de 2009

Antropofagia.

Nem se toda a minha capacidade
De poetizar, florescesse sobre a extremidade corpórea
Que me acompanha a carcaça ideológica
Ainda sim, seria incapaz de traduzir em versos
Aquilo que os olhos, não sabem ver
Meus ouvidos surdos, se recusam
Enquanto o tato adormecido, só sente os calos
Talvez o olfato, não se lembre de qualquer odor
E o peito não sentisse nada que as pulsões orgânicas
Que lhe são destinadas
Ainda sim, faço tenaz esforço para sentir saudade
Daquilo que não me tocou os dias
Nostalgia indelével
Que me gasta o vocábulo
E lacrimeja os olhos fervorosos
Sou feito de nada
De tudo sou preenchido
E se lábios cegos dizem palavras estéreis
Meu discurso é mais ecoante
Fonemas que se fincam ao branco do papel
E abominam teu ascetismo cultural
Ascético, não me faço
Há não ser aos versos
Estes me dominam
Fazendo-me irrepreensível
Eis a arte do falar nada
Falo tudo, falo ao mundo
Sem se quer ser vocal
Os manifestos que me perturbam
Compartilho minha eclosão, minha epifania e minhas horas
As estrofes que sem distinção
Se mostram no papel pálido, áspero e cético
Tituladas poéticas, nem sempre
Mas são elas
Que me aliviam o peso dos fardos
Calejam as costas, dos açoites da vida
E fazem dos olhos pupilos,
Confortáveis, aos holocaustos que o desespero
Derrama ao âmago antropofágico
Que assim como o meu
Deseja se saciar da carne humana
Pois devoramos a vida alheia
Para suprir nossas próprias lacunas.
Mas esta é meu tormento
E não creio que tua carne
Vá se quer saciá-la.

Guilherme Radonni

terça-feira, 2 de junho de 2009

Incomensurável

Alguém me explica o que aconteceu
Por um momento achei que tivesse me tornado
Qualquer coisa que fosse completa
Sim, foi ele
Aquele sorriso convidativo
A barba feita
E os olhos que me faziam serenizado
È como se agente já se conhecesse, dois estranhos perfeitos
Ao menos um ao outro,
No meio daquela noite,
Onde outras vozes falavam aos nossos ouvidos
Eu só conseguia escutar, os afagos dele
E o silêncio do meu lábio
Que desejava incomensuravelmente o lábio dele
Quase me esqueci do frio, o vermelho dos olhos que me intrigava
Me invadia a pele, fazendo-me quente
Foi então que eu não resisti mais
Minha pele suplicava aqueles beijos
Meu peito trêmulo precisava sentir
Tudo o que fosse ele sobre mim
Então me rendi
Nos beijamos, como se já fizéssemos aquilo durante a eternidade
Mais em tom de primeira vez
Primeiro beijo, primeiro abraço, primeiro momento
Em que a Lua não me pareceu tão perfeita assim
Afinal queria ficar ali,
No céu, não havia tantas estrelas a dançar a valsa noturna
Mas tinha tanta euforia correndo em minha carne
Que era como uma corrida de estrelas cadentes
Essa tal, que não passou naquela noite
Mas não havia motivo para tal
Afinal meu pedido estava ali, em meus braços
E agora passo horas
Me aproveitando da tua memória
Quero-te inteiro
Quero-te aos pedaços
Te quero a qualquer modo
Seja nas segundas, terças, ou quartas-feiras
Faça do resto dos meus dias
Um eterno feriado.

Guilherme Radonni

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Por obséquio, nos enterre naquela sala empoeirada!

Há situações equivocadas
Que nos levam ao descontrole
Uma teça- feira relatada abaixo
Mostra como os três olhos cansados
Perdem o controle em uma situação...
Digamos de poeira
Nada eleva o que sentimos
Como os corpos que davam nós
Em busca de um desfecho
Em uma sala transparente, emprestada e empoeirada
Mesmo assim convidávamos mais olhos
Para sentir o que o nosso peito
Tentava gritar
Um aborto que não foi sabotado
Uma opressão, pouco oprimida
E aquela mulher que vós deu a vida
Será que nascemos daquele momento?
Não sei
Ainda não sei nem se estou vivo
Mas mesmo assim nos mantíamos em segredo
Nos enroscávamos com pretensão
De se lançar,
Ao chão, ao vão e a Lua
Ela nos aguarda, e mesmo de pupilas fechadas
Sentimos seu branco nos olhos
Até que a fome atordoava nossos estômagos
Aí então éramos obrigados a voltar ao estado físico
Que sente fome, frio, sono e vazio
Pegamos então nossas vestes, jogadas ao chão
Como quem acaba de fecundar uma víscera
Vestimos nossos retalhos e cobrimos a nossa inocência
Só para perdê-la quando furtarmos aquele polvilho
Confesso, fui eu, eu roubei para matar
Matar a fome que me assombrava
Mas ela, aquela de olhos claros
Me serviu de cúmplice,
Assistiu indagando sorrisos minha performance
Pouco aplausível, enquanto tínhamos um laranja
Aquela de pele de asfalto e confusa em blocos
Distraiu os olhos proletariados
Para aquela cena, que mais tarde nos arrancou gargalhadas
Esta aí, uma situação equivocada
Que nos levou ao descontrole
Mas fomos recíprocos, fomos enfermes, e fomos moribundos
Porque nós
Louvamos o equivocado, e sim
O descontrole.
Quando outra terça chegar
Prepare os olhos, o estomago e a garganta muda
Porque irá ser assim
Três olhos que se jogam ao chão
Três estômagos que matam a fome
E três gargantas mudas, que gritam a ânsia
De estarem sóbrias.

Guilherme Radonni

Fumaça e água.

[o preto com o branco e depois com o amarelo]

Pernas lançadas pretas e brancas.
Fumaça...
Água e som.
Enquanto ele não estudava...
A gente transava com a música.
Tudo para fugir da rotina perseguida.
Só havia nudez,
Skate
E cigarro.
Só havia liberdade,
Ousadia e flacidez.
Só contigo eu tenho essa pureza
Cabelos dilacerados.
Só contigo eu minto pro meu dia
E curvo as retas...
Só contigo o só, não tem mais graça.
Faça cabaninha de papel e guarde os tabacos diferenciados.
Pesquise uma pesquisa para interpretar
E mande notícias pra´quele de longe,
Que agora esta só.
E finja que o dia é como outro qualquer.
A nossa energia ligada com fios de ruídos,
Só falta encontrar o que falta,
Junto em 4 paredes de pó...
Juntos em 3 homens de dança,
Juntos em uma só inspiração.
“corpo humano”
Humano de corpo ou corpo por corpo?
Assim que acaba a discussão
A nossa alma dá lugar ao chão,
Eu nasci, você viveu ela reconstruiu.
Independente do que houve a noite,
A nossa fuga no centro com salgados de polvilho roubados
Valeu por mil pontos de partida.
Eu prendo seus cabelos com linha de pipa
Eu sonho com vocês em plena terça feira
Eu corro daquilo que me assombra.
E o resto todo,
Eu tapo de novo as pálpebras
E vamos em frente...
Marchando para o martírio.
[Tábatta Iori] 29.05.09