sexta-feira, 31 de julho de 2009
Necrose e outros restos...
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Desabafo das rosas despetaladas.
Que duram míseras horas
Traduzidas em dias
Quero amores pra vida inteira
E se não for pra ser então não me ame
Nem por um segundo
Sei, cabe ao acaso conceber a eternidade ou não,
Mas essa frase é minha e não me causa mais efeito
Aos ouvidos calejados e esgotados
Suspiros não resolvem
Quero juras de amor, solilóquios de eternidade
E pedidos inaceitáveis.
“Vamos, case-se comigo em algum terreno na Lua”.
Mais agora até a Lua foi deturpada pelo homem
Enquanto promessas foram se desbotando
Sobre a corrida determista que define nosso estado civil
Cansado estou de ter de esperar para amar
Minha boca escarra e tem vontade de cuspir na cara suja
Do homem que me beija, da mulher que me toca
Do ser que me deita em seu torço
E aqui vai um desabafo
Como dizia Lygia Fagundes Telles,
Palavrão estampado em boca de mulher
Soa como lesma em corola de rosa
Mais eu, sou herdeiro de Adão
Portanto grito;
Porra, por que amor não se vende na mercearia?
Por que as pessoas não vêm com manual de instrução?
Por que meu peito teme não te encontrar nesta vida?
Dedico as interrogações aos mausoléus
Porque tal ânsia, já é maior que meu ser
Me domina as lagrimas
E faz fúria na ponta dos dedos
Desisto do vermelho
Abro mão dos versos de outrora
E traços meus rabiscos com sangue coagulado
Cicatrizes bastam pra contar nossas historias
E aos meus amantes deixo de herança
O afeto de uma rosa despedaçada
Com aroma de tormento
Sem pétalas, caule ou pólen
Enraizada no peito
De quem fingi as dores
E os amores.
E pro segundos e horas
Deixo minha carne, que apodrecera
Sobre todo o resto
Que não for amor.
Guilherme Radonni
quarta-feira, 22 de julho de 2009
O regresso das exiladas
Tal regresso que pedi aos céus
Que viesse ao inicio de julho
Que viesse como brasa em neve
Só veio numa sexta-feira clara e matinal
Elas, que nem exiladas foram
Partiram ao êxodo de mim
Me deixaram num manicômio
Sem camisa de força
E pintaram a solidão de branco
Só pra me fazer ecoar no meio do nada
Umas, foram para a cidade que nos traz paz em época de caos
Outras, foram pra cidades que meus olhos não conhecem
Enquanto eu, fingia brincar de ser normal
Não, não quero ser melodramático
Enquanto ouço valsas de nostalgia
Só suplico o regresso do que me tiraram
Meus membros, minha cor nos olhos, meu riso e meu conforto
Sem isso, tudo é tormento, tudo falta
E o frio de julho, vira reles calafrio
Perto da ausência delas.
De que me vale férias da rotina suja que levamos
Se não compartilho minhas horas com ninguém que valha
Valha suspiros, devaneios,insanidades e frenesis
Pra quem vou recitar meus versos
Que soam sempre igual
Porque escrever de mentira
Não é escrever com o peito
Sendo assim, que todos os meus fonemas ecoem igual
Pois o que sinto é único
Pois o que sinto é saudade
Pois o que sinto é revolta e tormento
E sem elas, isso me toma por completo
Devora minha carne e cega os meus olhos.
Admiro a pequenina dourada,
Que tinha todos os motivos pra ser tornar insana
E ainda sim é a mais lúcida de nós
Louvo a negra circense
Que se equilibra entre os teus desequilíbrios
Que por si só já são suficientes para aniquilar um picadeiro inteiro
Almejo os olhos de tabaco
Que me trazem paz, confissões em versos
E confesso prazer nas horas vagas.
E ainda invejo a menina de olhos pequeninos
Que já beijou os lábios da minha metade e da minha sanidade
Voltem suplico aos ventos que voltem
E façam do fim de julho o começo de nossas vidas.
Guilherme Radonni
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Meu verbo,
Era simples e suave
Como descrever sono em dia frio
Os olhos procuravam qualquer motivo pra disfarçar
Mas não achavam se quer refugio para cessar tal encontro
As mãos eram quentes e tremulas,
Tocavam a face em tom de afeto
E faziam primavera em horas de neve
Nos perdíamos a cada curva do corpo.
Torço, carne, lábio e vontades
Era tamanho itinerário
Que eu desejava segui-lo até o fim dos meu dias
Adormecia no teu beijo
Acordava nos teus defeitos
E amava até teus erros
Sem perceber teu cheiro tomava meus dedos
Inalava meu desespero
Restando somente a calmaria
Suplico, me consuma por inteiro
Faça de mim teu amanhecer
E me tenha no bolso
No torço,
No sufoco
Nosso devaneio era de jardim amanhecido
Era de inverno dormido
De beijo dado e de amor calado
E sentíamos tudo isso
Só no codificar das retinas
Amor assim, não se compra no bazar
Não se acha para dar,
E traz saudade até no paladar
Me encontre na Lua meu amado
Façamos lá o território da nossa fuga
Assistindo a valsa planetária
Que o homem faz questão de deturpar
Quem sabe você cesse minha loucura?
Quem sabe você extermine minha insônia?
Quem sabe teu beijo supra minha cede?
Quem sabe tua carne cale minha fome?
Afirmativa, resta uma
O acaso nos achou
E teu pólo não ira perder o meu
Assim, sem nenhuma pretensão
Que não seja a eternidade
Te desejo o infinito
E faço do teu peito
O meu
Eufórico, simples e suave.
Guilherme Radonni
domingo, 19 de julho de 2009
Equinócio
E nos últimos anos vividos
Nenhuma tarde fora tão turva e desfamiliar
Embora fosse domingo e a casa estivesse cheia
Aquele céu me trazia desconforto e estranhamento.
Não havia se quer naquele cinza estancado
Um único vestígio de verão, primavera ou luz
As nuvens cobriam miseravelmente o céu
Como aqueles tapetes persas estendidos sobre a sala
Que não revelam se quer um pedaço do assoalho
Foi então que me dei conta
Era inverno!
E não havia nada que pudesse fazer pra mudar tal fato
Restava-me apenas sentar na frente da lareira
E aguardar até que a próxima estação chegasse
Franzia a testa, enquanto os dedos já enrugados
Se atritavam, afim de produzir qualquer calor
O frio consumia a sala, que se tornava imensa e vazia
Era como se um vácuo, tomasse conta do tempo
E só restasse o frio como testemunha dos dias
Nada supria tal evento,
Suplicava uma epifania pra cessar o gelo que subitamente
Tomava conta do ar, tornado-o rarefeito de mais
Para servir de oxigênio.
Respirava com dificuldade
Enquanto as unhas forjavam uma monocromia púrpura
Os pés petrificados estampavam agonia
Caminhava lentamente
Os músculos rangiam e buscavam o fim do corredor
E lá estava
O banheiro impecavelmente branco e limpo
Os azulejos brilhavam e a porcelana da pia
Refletia o brilho do cômodo indubitavelmente, cor de neve
Por um décimo de segundo quase me esqueci do frio
De ante daquele resplandecer
Eu servia de platéia aquela banheira
Que transbordava uma água quase que glacial
Assistia o ártico no final do meu corredor
Era tão límpido e convidativo
Que me esquecia que era inverno
Vagarosamente me despi,
E centímetro por centímetro do meu corpo
Emergi na existência daquela banheira
Estava submerso, minhas veias congelavam
E a cada segundo o resto ficava mais distante
Ouvia um eco embaixo da água, como se o vento geasse
E como soluto, me desfazia naquele túmulo de porcelana
O frio se tornava mísero e sem importância
Aos poucos não respirava e me esvaecia
Até que o ultimo som que ouvi
Foi o da porta do banheiro sendo aberta
Pelos pés de qualquer familiar
Suplicando ajuda e calor.
Guilherme Radonni.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Solilóquio de insanidade
Confesso, supero os degraus
Com alguma dificuldade
Que me pesa os ombros.
Os tendões e a tíbia
Danificadas ao mal trato do tempo
É então que petrificado
Avisto o criado pouco mudo
Que me atordoa os tímpanos
E desperta um piano perdido e empoeirado
Abro qualquer pagina de Adélia
E uma por uma
Tiro minhas vestes
O frio toca meus calcanhares
Enquanto o vazio veste minha face
Suja e pouco virtuosa,
Logo estou despido
De coragem, vontade e até vaidade
Coberto apenas de vergonha
E qualquer dor comprada em mercearia.
Resta-me o copo de água
Que me afoga a cada gole mal dado
Talvez,lagrimas forjadas
Me ajudem, mesmo que nelas
Venham a verdade pintada nos rodapés.
Com os dedos gelados
O lábio tremulo
E as unhas em qualquer tom de púrpura
Sinto a hipotermia
Subindo os degraus, me tocando a face
E sem clemência ou piedade
Me toma as horas
Cessa meu vazio
E me preenche com o fúnebre.
O criado grita!
Adélia chora
E minhas vestes se despedem.
Na minha lápide
Solilóquios de insanidade
E aqui, soterrado pelo solo
O pior frio que existe
É o frio da alma.
Guilherme Radonni.
Pequeno verso de nostalgia
Meus pés renovam os calos
E minhas retinas revêem meus atos
Mas o tempo não volta
Mesmo que as horas não passem
O retrocesso é inconcebível
Enquanto a memória gasta
Ainda me serve de combustível.
Guilherme Radonni
Em qualquer campo, sem qualquer disco.
Aqui onde o cheiro do dinheiro dos homens
Não alcança minha fossa nasal
E o verbo verde
Domina o abrir dos olhos
Em imensidão e profundeza
Tenho momento de esvaidão e sonolência
Nostalgia de bolso, saudade dos dedos
E lembrança não vivida na sonoplastia das horas
Que não passam.
Observo os caninos
Que adormecem na sombra alheia
E furtam a paisagem Já que pra eles férias forçadas
Vira rotina de varanda
Eu, perdido nos fios de rede
Nos fios de sol
Nos fios de cabelo
Ele, perdido na minha memória gasta.
Na grama amanhecida assisto
Vestígios da infância
A minha?
Perdida em algum gramado no meio do caminho
E antes que eu desse conta
Já era velho de mais pra pedir
Devolução
Resta me o cansaço
Junto ao tédio renovado
Cinéfilos com cenas repetidas
Mastigando os dentes na tarde da boca
Implorando ao acaso, seu descaso final
Fotossíntese ao meio-dia
Clorofila no vértice do almoço
Enquanto ouvimos rangidos dissonantes
Das redes, ou será das vértebras?
De que me serve uma casa no campo
Sem meus livros e discos?
Não se quer tanta paz, aos 17
Meu prazo de descanso
Parece ser perecível e de 17 minutos
E quando imploro o silêncio e o verde das serras
O que preciso é do barulho ecoante
Das serras elétricas
Pulverizando o monótono
E dando cor aos olhos da vulgocracia
Aos progenitores lamento a despresença
Mas minha boca tem sede de asfalto
Enquanto os olhos almejam o devaneio alheio
Só me despeje na vida
Sem direção ou coordenada
E depois que eu transbordar reze aos ventos
Para que não volte.
Guilherme Radonni.
No Cardápio.
Peço, que meu verso
Cesse minha fome
Mas peço em vão
Pois a garganta tem ânsia
De tudo que lhe é dada.
A geladeira, vazia
Mas cheia de branco e vácuo
Mordo o lábio,
E procuro na janela embaçada
Qualquer vestígio que me convide a saltar
Mas bigornas me prendem á mesa
E além do mais
Já não como a tanto tempo
Que acho que minha carne
Não tem peso suficiente para a queda.
Tenho fome de vida
Fome de vermelho
Meu apetite, é meu desespero.
Se queres me alimentar, me ame
Se queres me matar,
Deixe-me amá-lo
Mas se tua intenção, é me convidar pra jantar
Poupe teus esforços
Meus cigarros não têm fumaça
E meu nome, não consta
Na lista de convidados
O restaurante interditado ao meu escarro
Enquanto os garfos estão a vociferar qualquer manifesto
Fast foods e drive thrus
Não me agradam tanto
Quanto ao peso do estomago em jejum
Prefiro a fome
Do que comer sobejos
Ao menos que tal sobras
Fossem de carne humana
Fossem de vida alheia
Ou fosse até, de cor nos olhos
Mas são apenas restos mastigáveis
Pagos com notas sórdidas
Que não cessam sequer lacuna alguma
Prepare o banquete
Sirva-o na mesa
E ajeite os talheres
Quando terminar
Me use
Como tira gosto.
Guilherme Radonni.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Carnificina Primaveril
Cheirando o cinza e bebendo do febril
Minha enfermidade se foi,
Mas a seqüela que deixastes de herança
È permanente e irremovível
Observo lá fora
Pela janela quase quadrada
Embaçada da chuva ou de qualquer embriaguez
E vejo lagartas aladas, servindo de carroceria
Ao pólen de qualquer Bromélia fértil
Mas teu itinerário é sepulcro
Holocausto floral
Mutila as pétalas rubras
Decapita o cálice escarlate das Orquídeas
E leva a guilhotina todas as Rosas dignas de tal
È então que uma errante abelha anuncia
Em tom de desespero
“Clemência ao extermínio das flores!”
Mas tal grito, não ecôo
Nem trouxe reforços ou se quer misericórdia
O massacre da primavera continuou, sem trégua ou piedade
O florista, assinava tuas lagrimas em cor de profunda angústia
Enquanto abraçava os Lírios despedaçados
E cheirava o ultimo suspiro das Gardênias esvaecidas
Ao fim da tarde,
Um cenário tingido de sangue
Escorrendo os pigmentos infames das lágrimas florescentes
E exalando ao perfume mais floral derramado
Nos homicídios dos jardins
Onde a valsa dos túmulos toca incessante e sem descanso
Enquanto a putrefação das flores
Forjam bailes a luz de velas
Esparramando sobre as lápides o testamento
Das sementes inférteis
Frutos contaminados
Que lamentam, a ausência das cores
E choram sobre o reino cinzento
Que lhes ferem a poupa
Sem lhes poupar a carne
Mas daqui da janela, foram só lagartas aladas
E ás flores, lamento meu devaneio
Era inverno e não havia uma se quer
Para ser vítima de tal crueldade
Sendo assim
Quando a primavera chegar voltamos a tal capítulo.
Guilherme Radonni