terça-feira, 28 de setembro de 2010

Para aquela que é branca, frágil e catatônica.

Sabe o que difere o mundo de nós dois?

O mundo é sozinho

Sem par, sem catatonia.

As vezes parece que o tempo leva metade da gente

Que deixa as coisas cinzas entre nós

Mas isso tudo

É só uma falta de percepção

Na verdade estamos sempre multicoloridos

E sempre que penso nisso

Nessa permissão do acaso

Que aconteceu entre nós

Viro essência, viro lagrima escorrendo no rosto

Sem tristeza, somente contemplação

Por ter descoberto a vida do teu lado

Por sempre sobrar nós dois

Por tudo e por nada

È um contraste, uma dança de sombra e luz

E estamos deitados nela, declamando nossas loucuras

Só preciso disso

Desse sentimento a inundar tudo

Por que o resto é só o que faz você ser cor

Uma parte branca, de uma parte nem tão lúcida

Lhe agradeço pelas sensações

Pois sem você

Não teria sentido metade do que eu acho ser sentimento

Você exercita essas pequenas funções perdidas dentro de mim

E o resultado disso

Nossa poesia manchando o mundo

Guilherme Radonni.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Salto.

Não sobrou muita coisa

Pra se dizer

Não vou reciclar minha dor

Deixe que o tempo faça isso

Ultimamente foi só o que ele tem feito

O pior, é a nova percepção que ele me trouxe

Á de estar sozinho, sem eixo,

Sem rumo, sem porta-estandarte.

Mas já estou bem crescido

Pra saber que toda guerra é só

Só não me acostumo com isso

Em ser uma beira do mundo

Que não enxerga nada que não o caos

Quem sabe por baixo de tudo isso

Tenha algo mais bonito

O triste é esperar o outro andar

E nem me sinto em um elevador

Talvez em uma escada

Mas descer os degraus

É muito para os meus joelhos

Prefiro saltar da janela

Quem sabe seja isso

Tenho de mergulhar no ar

E sentir minha fragilidade

Se espatifar no chão.

Guilherme Radonni.

Zero hora.

É como se a vida terminasse alí,
No fim da ampulheta
Conta relógio de areia, conta!
Você foi, e eu fiquei aqui
Presa na porra do passado.
Há tempos tempo.
tem...
po...
_
Zaidan



domingo, 19 de setembro de 2010

Uma brisa CONCRETA.

Um vento bateu.

Estava eu molhando as mãos em sabão,

para arrumar a bagunça da noite anterior.

Ouvi alguém chorar,

era uma voz doce, mas desesperada.

Não respondi.

Observei e,

ouvi de novo.

Olhei ao meu redor e todos estavam rindo.

Havia algo se acabando em lágrimas,

mas não estava ali.

Não agora.

Respirei.

E voltei ao meu fazer.

Não me senti mais bem depois daquilo.

Eu sentia uma dor que não era minha,

estava com a certeza que algo estava para acontecer.

Comigo. E com todos que estavam na casa de mato.

Uma casa linda,

de madeira com portas grandes e fotografias que mudam de cor,

A cada olhar.

Mesmo que seja do mesmo ângulo,

A imagem que você pausa, muda.

Passamos a tarde toda ali,

Deitados em colchões que dava a vista para o horizonte de árvores.

Uma energia tão solitária.

Estávamos tão longe de tudo,

Do concreto,

O que podia nos acontecer?

Dormi.

Quando acordei já era noite,

Todos se arrumavam para ir a mais uma festa em uma cidade antiga,

Com igrejas monumentais, postes com luzes de outro século,

E aquela rua que te faz pular com o automóvel.

Vivemos mais um resto de noite ali,

Com o céu nublado,

Com cigarros, bebidas e um som que fazia a sua alma saltar.

Do outro lado,

No concreto,

Alguém pegava fogo.

Era essa a minha dor,

De queimação no peito,

Eu apenas sentia como era,

O menino grande do concreto vivia aquilo.

Em um outro evento,

Em uma cidade não histórica mas ultrapassada,

Acontecia algo que para aquele garoto,

Fazia sua alma saltar.

Ele queria que eu estivesse lá,

Mas algo me fez fugir.

Junto a um som de tambores,

Com cores amarelas e vermelhas,

Com flores em tecidos,

O do concreto,

Com apenas duas talas de malabares

Com cores amarelas e vermelhas, mas quente,

Pegou fogo.

A sua maior alegria,

O contagiou por inteiro,

De uma forma não convencional

E nada bonita.

Queimou-se.

E eu?

Agora sinto uma outra coisa,

Deve ser o pós-queimadura,

Eu não sei.

Eu só sinto.

Se as coisas tem de ser do modo que o destino quer,

Eu estou fora.

Não darei a minha cara para judiar.

Existem pessoas,

Que não merecem o que o senhor destino dá.

Lamentos, muitas vezes,

Por sentir pelos outros.

Tábatta Iori para um grande, grande irmão!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Colapso metafísico da antimatéria.

A dificuldade não está em não ser monocromatico

Esta na falta de motivo

No questionamento

No vácuo que me consome

Talvez querer saber de mais

É querer morrer mais rápido

Digo isso porque

Paramos de viver para refletir sobre o que é vida

E pra isso precisamos parar o tempo

Olhar de outro ângulo, descer um degrau

E quando executamos isso

Abortamos a ação

E morremos por instante

Pois não estamos vivendo

Estamos ali estáticos

Num estado entre o pensamento e a descoberta

Mergulhados em complexidades

De fragmentos mais pequenos e mais gigantes

Do que a nossa existência

Criamos um colapso, um desassossego

Pois enxergamos algo perturbador

Que não cala nossa voz

Só da mais eco ao nosso grito

È como um poço onde se cai

Não se pode sair seco,

Muito menos sem um joelho ralado

Para atingir esses estado metafísico do pensamento

È necessário gastar a matéria

Sacrificar o corpo, e oferecer o tempo

Mesmo que nós, os parasitas da nossa própria humanidade

Não tenhamos mais tempo

Luz silenciosa

Entre ela, uma outra camada

Opaca e dissonante

Surrealismo, achei que o tivesse encontrado

Mas era só a inconsciência

Brincando de ser Deus

Talvez seja isso que me confunda

Ter uma voz que não é minha

Dentro da cabeça.

Guilherme Radonni.

Se ache no desassossego do verde.




Um
corpo
caido
no chão
E o céu
caindo.

(Foto.
Jaqueline
Soares)

Desconfiguração

Eu estava lá

Ao mesmo tempo em que estava aqui

Eu era parte de um todo e era tudo

Como uma dança improvisada

E no lugar dos pés, sensores

E no lugar das mãos, antenas

Tudo como uma conexão

Percepção de falsa realidade

No rosto sentia o vento

Furando a pele, escorrendo como água

Vazei sobre o asfalto

O que perdi ainda esta lá

O que ganhei já foi perdido

Nada é de concreto.

Digo isso porque o chão

Se movia como se fosse uma linha de som

Uma trilha branca

Regendo um cenário de vários planos num só

Mas só eu enxergava isso

O resto, o grande público

Insistia em ficar lá. Imóvel

Intacta retina, disfunção ocular

A reverberação disso

É a cegueira.

É não crer em mais nada que a tal verdade

É ter esse limite que te anula

Ser, não é estar, é sentir

É perceber todas as minúsculas observações

Que completam lacunas dentro de si

E quando não exercemos essas pequenas funções

Estamos simplesmente desaparecendo

Como um grito que se desfaz sobre o ar

Sem volume, sem peso, sem catatonia.

A grande guerra, não é enfrentar o mundo

É ter essa batalha dentro de si

Essa catástrofe que atropela tudo

E só deixa o caos.

Mesmo assim, prefiro estar em guerra

Pois já não há paz dentro mim

Só tenho essa vontade de transcender

Para um sossego, que esta além desta realidade

Feche os olhos, e encontre a tua paz

E a tua guerra.

Guilherme Radonni

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Escafandro.


Egocentrismo.

Foi feito. E sobre isso nada mais posso fazer

Incorrigível maneira de olhar as cores

Ontem multicolorido, policromia nostálgica

Hoje cinza manchado com sangue.

Não posso exercer todas as pequenas funções

Que estão dentro mim

Pois apenas estão, e estar é diferente de ser

Mas ainda sim, sou qualquer coisa torta

Que achava ter encontrado

A tão sonhada sincronia

Mas isso não se dá entre humanos

Achei apenas um outro pedaço do fim do mundo

E pensei que este pedaço era igual a mim

Mas nada é igual á alguém

E quando percebi isso

Já era tarde, as horas já haviam me esgotado

E agora? Não posso voltar, não posso partir

Apenas me resta o resto do tempo

E este outro pedaço que achava ser uma parte externa de mim

Mas era apenas meu reflexo dentro dos olhos de alguém

Sinto saudades do meu eu antes disso

Da minha singularidade

Que eu inutilmente tornei plural

Dividi com fêmeas que não sabem o que é ser o homem

E agora uma esta morta

A outra já nem reconheço

E a ultima esta muito longe pra servir de porto.

Me afoguei no oceano que eu mesmo criei

Estou naufragado em uma ilha deserta

Uma ilha de mim mesmo

E os únicos barcos que confiei

Me deixaram sozinho ante do final.

Como diz uma voz branca

“O de joelhos fortes, é forte e poderoso de mais para querer dividir”.

Mas só se pode dividir quando se há o que dividir

E no meu caso só tenho joelhos não é?

E seu eu dividir os meus joelhos

Não tenho como sair desta ilha

Pelo menos não nadando

E se já não tenho barcos, nem porto

O que me resta é o mar

E sinto muito, não vou dividir mais o oceano

Pois da ultima vez que fiz isso

Vim parar aqui, nessa ilha abandonada

Chamada “Eu”.

Guilherme Radonni

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

SEM TÍTULO [mas com licença poética]

Algumas coisas eu entendo.

Agora.

Só agora.

Se desse para pedir perdão,

eu ajoelharia!

Contarei uma história,

breve:

Havia uma garota,

negra,

traços robustos.

Nasceu com os joelhos frágeis,

mas ao passar de suas horas,

descobriu [ou achou] que poderia se apoiar em outros dentes.

Outra garota,

“branca”

traços leves,

com os joelhos fortes,

mas sempre machucados,

cruzou a vida dela,

junto a um garoto,

joelhos fortíssimos.

Viveram algo que nunca ninguém vivera,

vivem algo que é indescritível,

portanto esse poema vem das letras dos joelhos brancos

e sem apoios.

E sem fonemas...

Hoje,

algumas horas atrás,

eu: branca,

descobri o porque do se matar.

Não é apenas um labirinto de cordas,

e sim, o perdido,

mas lúdico,

da relação do ser humano!

Sabe o que nos mata negra?

o egoísmo.

Pensei em continuar essa história mas...

talvez seja muito pesada,

e com meus joelhos mancos,

talvez eu caia.

Sabe,

acho que na verdade quem sempre me carregou foram os joelhos quebrados,

porque o dos joelhos fortes,

é forte e poderoso demais para querer dividir.

A gente ama tanto

que se cala.

É mais além toda essa escrita,

espero que o pardo se torne uma cor melhor.

Porque o branco acabou de se tornar.

É mais, é mais, é mais,

Além...

Tábatta Iori com mil desculpas à Ísis Rodrigues Silva.

domingo, 5 de setembro de 2010

Eu assistia a uma coisa:

Nem mau anoitecia e,

aqueles jovens velhos já se ajeitavam para dormir.

Deitados, trocaram afagos e logo adormeceram.

O garoto,

com um sono sereno,

nem se diferenciava do estar adormecido e acordado,

era tão calmo,

que em tudo demorava a respirar.

A garota, com a cabeça em cima de seu peito,

sentia as batidas daquele coração,

que sempre pulsava forte,

ao ponto de sentir em qualquer parte do corpo.

E apenas descansavam daquele amor,

momentos de fiel e pura adrenalina pulsante.

Ao admirar aquela cena,

pensei do porque do mal de tudo,

se o mais bonito estava em dois.

Se tudo fosse dupla,

de afeto e curtição

as coisas valeriam mais a pena por muito mais tempo,

não só apenas naquele momento do principio.

Talvez eles não se preocupassem com isso,

pois um dia me disseram,

que os sentimentos cegam os humanos,

a ponto de matar uns ao outros.

Será?

É tão antinatural só aquele momento,

fico pensando se seria capaz mesmo,

se for,

o certo é o amor ser o centro,

Fora tudo já!

Viva o amorcentrismo!

o amor tem de reinar...

Para durar para sempre,

qualquer momento de um segundo.

Silêncio,

eles acordaram...

Como tudo terminar eu conto outra vez.

Tábatta Iori [16.08.10]

Síntese do personagem desejado.

Eu sou Catarina, tenho hoje 23 anos, e minha história começou nos 17 quando cheguei em São Paulo. Sou filha do tão conhecido Zé do Queto, um cangaceiro da qual me perdi junto a minha mãe quando cheguei aqui na rodoviária. Viemos fugidos do sertão do Nordeste, se a gente ficasse lá, a diferença seria que não teria nem a mim para contar essa história. Até onde sei sou a nona de nove filhos, minha mãe dava cria na mesma velocidade com que paizinho estourava os miolos de alguém.

Fiquei três dias andando por essas ruas enormes de São Paulo, no terceiro de tarde passei em frente a uma porta muito colorida da qual me chamou atenção, entrei e vi a coisa mais bonita, umas mulheres lindíssimas dançando, sendo assistidas e aplaudidas por homens. Gostei. Me ofereceram comida, cama só não roupas lavadas. É nisso que estou até hoje. Sou dançarina de poli-dance. Só não sabia da conseqüência das minhas danças, tive que aprender a satisfazer o desejo dos homens ao me olharem naquele palco. Posso dizer que foi assim que aprendi a rebolar para a vida.

Me perguntam se é opcional. É claro que é opcional! Foi isso que o meu destino quis não é? Foi essa opção que me deram, então é. É como assinalar a resposta correta em uma prova, entende? A diferença é que quem escreve não sou eu.

Hoje em dia não faço mais o serviço sujo depois da minha dança. Elas chamam de vitrinista, agora os homens apenas me observam e ostentam, mas não pode ter. A Monise, que foi quem me ensinou tudo da dança virou a dona da boate, por isso que hoje eu ganho para ser exposta, e ajudo ela é claro, no que precisar. É ela quem sempre me diz que a inocência me engoliu.

É engraçado rever assim tudo que já passei, não tenho muito tempo para isso. Um dia conversei com um rapaz lá no serviço, e ele me disse da alma do ser humano. Eu não acredito muito não, porque ele me disse que alma esta ligada a felicidade. Eu não tenho alma, ou talvez ela tenha ficado lá no sertão. Ou talvez não. Mas também acho que não é só porque não tenho alma que eu seja triste, eu apenas aceito.

É que nem o tal do amor. Todo mundo diz que isso aí é além de tudo sabe? É de outro mundo... então nunca conhecerei, porque sou desse mundo aqui. E esse mundo aqui já esta cheio demais para encaixar mais um. Vai ver que o amor e a alma moram juntos.

Uma vez ouvi um trecho de uma música, que agora levo comigo: o mundo vai acabar, e ela só quer dançar. Dançar, dançar e dançar.

Tábatta Iori

Tudo passa,

como ventos que trazem o mar

e o levam sem dizer nem deixar nada.

Aliás, deixa,

deixa um resto das melhores migalhas que um dia voaram com as águas,

mas também deixa o fim. O saber de que aquele vôo não voltará.

Você disse que não precisava mais procurar,

que tinha achado-a

e eu lhe pedi em casamento.

E então o que houve?

Faltou até demais,

que o nosso agora

é sem destino de dois.

Tens uma resposta linda para essa ausência?

Porque eu, não.

Esse riacho que se enganou na curva,

avisou que o sol voltará,

pela metade.

Mas temos até de nos benzer por ele voltar!

Por mais que o verde das árvores

já não fazem tanto sentido,

ainda há o belo.

Tenho de me divertir com o que posso,

com o que vier,

então que venha

com caminhos solitários ou multidões

mas venha,

para sentir de novo

essa falta de ar, com tanto ar por aí...

E aceitarmos o lado defeituoso do que passar conosco.

Espaço de pétalas,

espaço de espinhos,

já não importa.

Tudo, passa.

Tábatta Iori.