E as horas chegavam feito vagões
Umas atrás das outras
Num terminal rodoviário chamado tempo
Nos vagões não havia mais nada que não as horas
E nos trilhos que conduziam a ferrovia
Havia o ferrugem e o cheiro da tarde
O maquinista usava um uniforme acinzentado
Tinha um olhar triste e melancólico
Como de quem estivesse executando um fardo,
Uma sina que não lhe pertencia
E a cada fio de fumaça solta pela carruagem de metal
Uma gota de suor escorria pelos poros do rosto carrancudo do maquinista
Fumaça e suor
Eram os restos do tempo e de quem o cumpria
E se não houvesse um maquinista?
Creio que ainda sim, não se pode parar o tempo
O curso dos trilhos não se é alterado
Talvez se não fossem de ferro ou de aço
Mas essa rigidez concreta não é tão removível
Não é manipulável
Mesmo que os vagões parassem, os trilhos permaneceriam ali
Levando tudo a um terminal
Enquanto a isso não a passageiro que possa alterar
A ordem das coisas é como os trilhos, irremovível
E quando não á motivo para uma viagem
O caminho vira o tédio
Vira tarde oca, vira vacuo embalado
Vira passageiro sem rumo certo
Sobre a tarde vázia, so se pode gasta-la
Le-la ou relate-la
Mas eu sou um analfabeto
Incompreendo o registro das horas
Talvez seja isto que há de errado no rosto do maquinista
Ele deve ser um analfabeto como eu
Não pode ler o destino dos trilhos e por isso
Leva o nada a lugar algum
Me arrisquei e comprei um bilhete sem saber pra onde ele me levaria
Embarquei mesmo assim
E agora estou preso neste terminal ferroviario
Não posso voltar, não posso partir
So me permitem sentar num banco da cor do uniforme do maquinista
E aguardar que alguem chegue no proximo vagão
Minha única espera, também é meu único lamento
Pois um companhia, não mudaria minha condição
Pelo contrario, só a confortaria
Em saber que não sou o único
A ter embarcado num vagão das horas,
Fiz um pedido ao maquinista, que ele me trouxesse na proxima viagem
Um caça-palavras, vou tentar aprender a ler o registro das horas.
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