terça-feira, 9 de março de 2010

O vagão, os trilhos e o maquinista.

E as horas chegavam feito vagões

Umas atrás das outras

Num terminal rodoviário chamado tempo

Nos vagões não havia mais nada que não as horas

E nos trilhos que conduziam a ferrovia

Havia o ferrugem e o cheiro da tarde

O maquinista usava um uniforme acinzentado

Tinha um olhar triste e melancólico

Como de quem estivesse executando um fardo,

Uma sina que não lhe pertencia

E a cada fio de fumaça solta pela carruagem de metal

Uma gota de suor escorria pelos poros do rosto carrancudo do maquinista

Fumaça e suor

Eram os restos do tempo e de quem o cumpria

E se não houvesse um maquinista?

Creio que ainda sim, não se pode parar o tempo

O curso dos trilhos não se é alterado

Talvez se não fossem de ferro ou de aço

Mas essa rigidez concreta não é tão removível

Não é manipulável

Mesmo que os vagões parassem, os trilhos permaneceriam ali

Levando tudo a um terminal

Enquanto a isso não a passageiro que possa alterar

A ordem das coisas é como os trilhos, irremovível

E quando não á motivo para uma viagem

O caminho vira o tédio

Vira tarde oca, vira vacuo embalado

Vira passageiro sem rumo certo

Sobre a tarde vázia, so se pode gasta-la

Le-la ou relate-la

Mas eu sou um analfabeto

Incompreendo o registro das horas

Talvez seja isto que há de errado no rosto do maquinista

Ele deve ser um analfabeto como eu

Não pode ler o destino dos trilhos e por isso

Leva o nada a lugar algum

Me arrisquei e comprei um bilhete sem saber pra onde ele me levaria

Embarquei mesmo assim

E agora estou preso neste terminal ferroviario

Não posso voltar, não posso partir

So me permitem sentar num banco da cor do uniforme do maquinista

E aguardar que alguem chegue no proximo vagão

Minha única espera, também é meu único lamento

Pois um companhia, não mudaria minha condição

Pelo contrario, só a confortaria

Em saber que não sou o único

A ter embarcado num vagão das horas,

Fiz um pedido ao maquinista, que ele me trouxesse na proxima viagem

Um caça-palavras, vou tentar aprender a ler o registro das horas.

Guilherme Radonni

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