segunda-feira, 1 de março de 2010

A casa opaca, ou seria a família?

Todos estávamos em casa

Cada um separado em seu cômodo preferido

Uma vez que não era de costume permanecermos

Por muito tempo nas mesmas paredes

Quando assim meio que de repente a casa se apagou

Não que ela fosse muito brilhante, pois já estava precisando

De uma mão de tinta ou até duas.

Mas se apagou por dentro, como uma lâmpada que acaba de ser derrubada

E por ordem das coisas se apaga ao se estatelar ao chão

Estranho era que toda a rua estava acesa,

Tão iluminada que fazia contraste com a casa opaca

E assim foi, toda a família incluindo os quadros de estimação

Uma vez que não houvera outro animal que não a própria família

Ali permaneceu intacta e no escuro.

O irmão menor perguntou, “quem escondeu a luz?”.

A mais velha retrucou em cima da pergunta infantil

“Será que não se tem um dia comum nessa casa?”.

E eu, o do meio respondeu, sem pretensão de ser escutado

Já que estava em baixo da escada fingindo que sabia ler no escuro

“Se os dias nesta casa fossem comuns não seriamos nós os moradores”

Depois de um minuto ou dois de reclamações e resmungos

O silêncio e o escuro tomaram a casa

As moscas cegas por causa do escuro

Desistiram de voar sobre o resto do café que ainda estava sobre mesa

E pousaram sobre a louça suja na pia

E já que não havia luz, também não haveria janta

Pois a mãe dizia que cortaria a ponta dos dedos

Ao tentar cortar as cebolas

Desculpa, pois quando tem luz ela diz que as cebolas a fazem chorar

Por isso a comida é tão pouco temperada e insossa

Não to reclamando do prato que como

Só estou dizendo que se ela chorasse mais

As crianças não seriam tão apáticas.

O pai ainda irritado porque perderá o gol ou o não gol da partida de futebol

Quebrou o silêncio da casa, com um ronco perturbado

De quem dormiu por falta de opção

Eu que já estava cansado de fingir saber ler no escuro

Fui até o cômodo onde minha mãe se isolava e perguntei

“Será que alguém sabe o que aconteceu com a luz?”.

Ela amarga e acida respondeu

“E por acaso eu sou eletricista?”.

Uma semana se passou e depois de sete dias no escuro

A luz resolveu voltar

Não houve comemoração em nenhum dos cômodos

Nem reação alguma na casa,

Eu insistia em ler embaixo da escada

Enquanto meu pai roncava, minha mãe se recusava a cortar cebolas

A mais velha reclamava e o mais novo questionava

Tudo em cômodos separados, que não eram ligados nem por corredores

E mesmo de luzes acesas

Aquela parecia ser a casa menos iluminada e mais opaca da rua.

Talvez a família deveria trocar as lâmpadas.

Guilherme Radonni.

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