Todos estávamos em casa
Cada um separado em seu cômodo preferido
Uma vez que não era de costume permanecermos
Por muito tempo nas mesmas paredes
Quando assim meio que de repente a casa se apagou
Não que ela fosse muito brilhante, pois já estava precisando
De uma mão de tinta ou até duas.
Mas se apagou por dentro, como uma lâmpada que acaba de ser derrubada
E por ordem das coisas se apaga ao se estatelar ao chão
Estranho era que toda a rua estava acesa,
Tão iluminada que fazia contraste com a casa opaca
E assim foi, toda a família incluindo os quadros de estimação
Uma vez que não houvera outro animal que não a própria família
Ali permaneceu intacta e no escuro.
O irmão menor perguntou, “quem escondeu a luz?”.
A mais velha retrucou em cima da pergunta infantil
“Será que não se tem um dia comum nessa casa?”.
E eu, o do meio respondeu, sem pretensão de ser escutado
Já que estava em baixo da escada fingindo que sabia ler no escuro
“Se os dias nesta casa fossem comuns não seriamos nós os moradores”
Depois de um minuto ou dois de reclamações e resmungos
O silêncio e o escuro tomaram a casa
As moscas cegas por causa do escuro
Desistiram de voar sobre o resto do café que ainda estava sobre mesa
E pousaram sobre a louça suja na pia
E já que não havia luz, também não haveria janta
Pois a mãe dizia que cortaria a ponta dos dedos
Ao tentar cortar as cebolas
Desculpa, pois quando tem luz ela diz que as cebolas a fazem chorar
Por isso a comida é tão pouco temperada e insossa
Não to reclamando do prato que como
Só estou dizendo que se ela chorasse mais
As crianças não seriam tão apáticas.
O pai ainda irritado porque perderá o gol ou o não gol da partida de futebol
Quebrou o silêncio da casa, com um ronco perturbado
De quem dormiu por falta de opção
Eu que já estava cansado de fingir saber ler no escuro
Fui até o cômodo onde minha mãe se isolava e perguntei
“Será que alguém sabe o que aconteceu com a luz?”.
Ela amarga e acida respondeu
“E por acaso eu sou eletricista?”.
Uma semana se passou e depois de sete dias no escuro
A luz resolveu voltar
Não houve comemoração em nenhum dos cômodos
Nem reação alguma na casa,
Eu insistia em ler embaixo da escada
Enquanto meu pai roncava, minha mãe se recusava a cortar cebolas
A mais velha reclamava e o mais novo questionava
Tudo em cômodos separados, que não eram ligados nem por corredores
E mesmo de luzes acesas
Aquela parecia ser a casa menos iluminada e mais opaca da rua.
Talvez a família deveria trocar as lâmpadas.
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