Já não posso escrever sobre o amor
Simplesmente porque não o sinto
E escrever sobre um não sentimento seria escrever sobre o vazio
Escrever com gotas de sangue num papel vermelho
Ou ainda chorar sobre a água que escorre
No entanto não poder captar essa tal inflamação
É como não estar vivo,
De que me vale pulmões fortes
Se estes não suspiram?
E é no vazio das tardes que percebo todo esse existencialismo
Essa metafísica do não sentimento
Esse incalculável vazio que me transborda os eixos
Talvez pela temperatura, ou então pelo bocejo do sol
Invadindo o chão da sala
Deixando tudo meio alaranjado
E é nesse quadro, nessa moldura das horas
Que eu me vejo só
Sozinho e com essa tal lacuna
Talvez se não tivessem inventado a filosofia
Não me contentaria com os pensamentos
Mas a inventaram
E junto com ela, inventaram a matemática
E essa me faz calcular,
Quanto tempo da minha vida se passou
E eu aqui fiquei, vendo o bocejo do sol
E o chão meio alaranjado.
Guilherme Radonni
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