Naquela tarde. Não fui nada
Além de um prédio abandonado
As minhas partes não faziam parte de um todo
Era sozinho e nem tão particular
Infinitamente restos do que eu já fui um dia
Mas agora, sou invadido por sentimentos marginais
Como garotos que invadem as construções
Meus olhos se tornaram rachaduras na parede do meu rosto
E meu pés?
Pobre dos meus pés, antes fosse de tanto dançar
Mas valsa nenhuma consegue fazer o que o tempo fez
Agora são escombros largados ao chão
Que a cada passo dado,
Sente que o meu chão esta desabando
Estrago, no meio de poeira e descaso
O meu resto nas paredes
Pintadas com essa tinta que um dia foi cor
E hoje é só vácuo descascando.
No lugar de janelas. Tenho buracos.
E não pense que não faz diferença
Janela é horizonte, buraco é onde se cai
Não tenho chance de reforma
Sou um prédio quebrado
Novo, mas que não durou
E por isso sou velho
Não agüentei ao inverno, esquentei de mais no verão
Abriguei ratos, tive goteiras e problemas de encanamento
Ninguém quer morar em um prédio desses
À não ser mendigos, esses sempre caem em qualquer canto
Foi isso que eu virei, um canto.
Já pedi clemência á vigilância sanitária
Pra que eles acabem comigo de vez
Mas eles não perdem tempo
Com edifícios abandonados
E para o meu desespero, não vão me concertar.
Vão esperar eu desmoronar com o tempo
Antes virasse entulho de uma vez, mas não,
Tenho de aguardar para ser demolido pelas horas.
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