quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Interditado

Naquela tarde. Não fui nada

Além de um prédio abandonado

As minhas partes não faziam parte de um todo

Era sozinho e nem tão particular

Infinitamente restos do que eu já fui um dia

Mas agora, sou invadido por sentimentos marginais

Como garotos que invadem as construções

Meus olhos se tornaram rachaduras na parede do meu rosto

E meu pés?

Pobre dos meus pés, antes fosse de tanto dançar

Mas valsa nenhuma consegue fazer o que o tempo fez

Agora são escombros largados ao chão

Que a cada passo dado,

Sente que o meu chão esta desabando

Estrago, no meio de poeira e descaso

O meu resto nas paredes

Pintadas com essa tinta que um dia foi cor

E hoje é só vácuo descascando.

No lugar de janelas. Tenho buracos.

E não pense que não faz diferença

Janela é horizonte, buraco é onde se cai

Não tenho chance de reforma

Sou um prédio quebrado

Novo, mas que não durou

E por isso sou velho

Não agüentei ao inverno, esquentei de mais no verão

Abriguei ratos, tive goteiras e problemas de encanamento

Ninguém quer morar em um prédio desses

À não ser mendigos, esses sempre caem em qualquer canto

Foi isso que eu virei, um canto.

Já pedi clemência á vigilância sanitária

Pra que eles acabem comigo de vez

Mas eles não perdem tempo

Com edifícios abandonados

E para o meu desespero, não vão me concertar.

Vão esperar eu desmoronar com o tempo

Antes virasse entulho de uma vez, mas não,

Tenho de aguardar para ser demolido pelas horas.

Guilherme Radonni.

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