terça-feira, 31 de agosto de 2010
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Inveja sobre a existência da galinha.
O meu único e incarregável fardo
È somente aquilo que me difere de uma galinha
Meu pecado é pensar
È ter essa voz gritando no silêncio
Essa insatisfação de crer nas cores como elas são
Seguido de uma taquicardia
Só por olhar nas prateleira e ver as leis do mundo
E se não fui eu que criei tal prateleira
Muito menos as leis postas nelas
Como posso cegamente obedece-las
Se não sou cego, nem santo.
Nada me rege, minha bússola não tem norte
Porque o meu norte não fica acima de sul algum
Só tenho interrogações
Costuradas com sangue e calos
E algumas cicatrizes causadas pelas horas.
Sempre as horas, pesando cada vez mais
Não tenho ânimo nem coragem pra carrega-las
Deve ser por isso que ando me arrastando.
Quem dera eu ter o dom e a dádiva
Que tem uma galinha
De simplesmente ciscar pelo terreiro
Dançando com seu pescoço degolado
Procurando milho e botando ovos
Sem nem sequer pensar o que é o terreiro.
O pensar é como um estupro
Te penetra a força e nunca mais sai
Traumático. Sem punição
Afinal quem acredita numa puta que chora por ter sido violentada?
Talvez o padre ou talvez a galinha.
Preciso aprender a rezar e a ter um pouquinho mais de ignorância
Os dois funcionam como um calmante
Pra aliviar essa dor de cabeça.
Infância.
Metade de luz na carne
Metade de sombra na pele
Calor de fumaça
E eu me afogando no ralo
Tendo ataques epiléticos
Junto á uma barata, daquelas anti-bomba atômica
Que come as próprias antenas
Só para interditar a comunicação
Na casa antiga
Nenhuma criança brincando
Nenhum joelho ralado
Nenhum rabisco de giz na parede
O que era quintal, agora é um deserto
Rasgado com retrato de águas vazando no azulejo
Seco e sem cor
Feche os olhos grande publico
Sinta o laranja do sol
Queimando as retinas por baixo da pele
E veja a dilatação da realidade
Manchadas com tons de cores que eu não sei o nome
Equalizado com pedaços de velhas canções
Essa é a decoração da tal Senhora Nostalgia
A mesma senhora que me afunda no tanque
Quem ficar mais tempo em baixa da água
Ganha mais sobremesa na fotografia
Sobre a mesa, pólvora
Eis o doce do homem
Exposto, sem data e sem assinatura
Por que a idade levou o meu quintal?
Não tenho mais tamanho,
Para brincar com cata-vento de papel
Se não o vento me engole
Se não viro inseto se contorcendo no canto
E não sou barata, nem borboleta,
Nem sequer sou anti-bomba atômica
Sou só uma velha lembrança
Dançando no reflexo do quintal
Servindo de orquestra para a vizinha
Que me assisti pelo buraco do muro
O mesmo buraco por onde vi
Ela transando com o jardineiro
Acho que fui baleado naquele dia
E o revolver era a malicia tirando minha inocência
O que sobrou, virou cicatriz, sangue coagulado,
Que nem as rachaduras que ficaram no quintal.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Interditado
Naquela tarde. Não fui nada
Além de um prédio abandonado
As minhas partes não faziam parte de um todo
Era sozinho e nem tão particular
Infinitamente restos do que eu já fui um dia
Mas agora, sou invadido por sentimentos marginais
Como garotos que invadem as construções
Meus olhos se tornaram rachaduras na parede do meu rosto
E meu pés?
Pobre dos meus pés, antes fosse de tanto dançar
Mas valsa nenhuma consegue fazer o que o tempo fez
Agora são escombros largados ao chão
Que a cada passo dado,
Sente que o meu chão esta desabando
Estrago, no meio de poeira e descaso
O meu resto nas paredes
Pintadas com essa tinta que um dia foi cor
E hoje é só vácuo descascando.
No lugar de janelas. Tenho buracos.
E não pense que não faz diferença
Janela é horizonte, buraco é onde se cai
Não tenho chance de reforma
Sou um prédio quebrado
Novo, mas que não durou
E por isso sou velho
Não agüentei ao inverno, esquentei de mais no verão
Abriguei ratos, tive goteiras e problemas de encanamento
Ninguém quer morar em um prédio desses
À não ser mendigos, esses sempre caem em qualquer canto
Foi isso que eu virei, um canto.
Já pedi clemência á vigilância sanitária
Pra que eles acabem comigo de vez
Mas eles não perdem tempo
Com edifícios abandonados
E para o meu desespero, não vão me concertar.
Vão esperar eu desmoronar com o tempo
Antes virasse entulho de uma vez, mas não,
Tenho de aguardar para ser demolido pelas horas.
Reflexo.
Porque o caos está em tudo.
Nos olhos que se abrem e só enxergam o cinza
Na voz que grita sem volume
No telefone que toca sem ter alguém na linha
Tudo.
A nossa percepção sobre o caos
È que instintivamente produz o caótico
Visto isso, o caos esta em nós
Sobre nós e por nós.
E a reverberação disso,
É o existencialismo a escorrer nos muros
Nas paredes de pele e no chão de carne
O que se tem a fazer?
Canibalismo não é a pratica mais comum
E ainda que conseguíssemos demolir as paredes
Não poderíamos demolir o chão.
Resta a loucura
Endoidecer para crer numa fuga
Criar sua própria religião
E amar o caos.
Sem ordem ou limite
Simplesmente amar,
Em toda a estrutura que acreditamos ser o amor
Agora corra, salte sobre os carros,
Espere o trem com a cabeça nos trilhos
Escorregue a faca para dentro de si mesmo
Não faço apologia ao suicídio
Não incentivo á fraqueza
Somente admiro a coragem
Pois eu, não a tenho
Sou somente uma tentativa frustrada
Do que chamamos de arte
Que só consegue ficar aqui assistindo ao caos
Devaneando sobre as linhas enquanto ouve vozes
E no meu choro
O pranto de outros
E na minha dança a música alheia
E no meu grito o silêncio
Sempre o silêncio á atropelar tudo
A fazer poeira do som
A causar dor nos ouvidos
Me calo, já falei de mais
Olhe para o espelho e verá o caos.
Guilherme Radonni.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
O Canil
E lá estava o homem,
Caminhando sozinho pelos corredores do canil abandonado
Nos olhos não havia mais nada que o tempo
E o reflexo dos cachorros que insistiam permanecer ali
Pelo menos na cabeça do velho
Nas paredes do antigo prédio
Havia poeira e um mau cheiro
Talvez fosse dos trapos e dos pêlos que ali ficaram.
Fazendo companhia aos ouvidos do homem
Havia o latido de três cachorros
O primeiro era um cão triste e cinza, que no lugar de patas tinha mãos
E por isso andava se arrastando e tombando pelos cantos com seu tom choroso
O outro era preto, tinha olhos de homem caídos em cima do focinho,
E um latido alto e rouco, imitando um grito de dor
Ou qualquer coisa parecida com desespero
E o terceiro, era um cão branco, que tinha as patas machucadas
E por causa disso andava tão lento que mal parecia sair do lugar
Esse ultimo não comia e também não latia
Talvez porque o cão tivesse lábios em lugar do focinho.
Pela fresta do portão se via um gramado mal cuidado
Que dava de frente para a rua.
O homem sentava ali e ficava horas assistindo o asfalto
Mas não tinha coragem de ir até a calçada
Se sentia preso, como se houvesse uma coleira em seu pescoço
E a cada passo em direção a rua, a coleira apertava-lhe a garganta
O medo de se enforcar era maior do que á vontade de sair
Por isso obedecia e permanecia ali sentado.
Cada dia dentro do canil era mais solitário do que o anterior
E para não esquecer da vida de antes
O homem alimentava os cachorros
Com as historias do passado, mas as tigelas estavam sempre cheias
Como se os cães não tivessem fome
Ou como se já conhecessem aquelas historias
Antes de dormir o velho ia conferir se os cães estavam por perto
Mas naquela noite o homem se assustou ao ver que o portão estava aberto
E as tigelas estavam vazias assim como o canil.
Desesperado o homem sai se arrastando e tombando pelo asfalto
Procurando com seus olhos caídos algum vestígio dos cachorros
Tentava chamá-los por um nome ou qualquer assobio
Mas não conseguia, só produzia ruídos e sons estranhos
O homem continuo correndo, procurando a única companhia
Que tivera durante anos
Quando se deparou com seu reflexo no vidro de uma vitrine.
Na imagem não havia nada familiar,
O espanto poderia ser pelo passar do tempo, mas não era
Ao invés de um olhar velho,
O homem tinha olhos de cães na fronte do rosto
Caídos sobre um focinho branco e no lugar das mãos cansadas
Havia patas, sujas e cinzas.
Confuso e atordoado,o homem voltou para o mausoléu
E antes de dormir, tentou tirar o canil
De dentro de si. Não conseguiu
Hoje, é qualquer coisa torta latindo por ai
Misturado no meio de vira-latas,
Roendo restos e correndo no meio dos carros.
Guilherme Radonni
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Vazamento de tinta fresca.
Talvez o exagero do branco,
Talvez o excesso de claridade
Já não importa mais
Só depois de realmente fechar os olhos.
Pude enxergar.
È como se a luz tivesse vazado pela minha pele
E nesse vazamento iluminou só aquilo
Que deveria ser mostrado
Percepção alterada,
Tudo é contraste, tudo é sensorial
Até que ponto a realidade é fato
Talvez a visão deturpada pela dilatação das pupilas
Já não tenha referência sobre o que é um corpo
Nada é um corpo
Tudo é apenas uma representação
Uma projeção sobre luz e sombra
Que a antimatéria registra como objeto
E cabe a nós alimentar a crença desse objeto
Com um pouco de fé e muita ignorância.
Já não vejo lógica na matemática
Não se pode calcular a inexistência
E não sei o nome daquela cor que esta tingindo o céu
Só me sinto afogado nela, e tentando descobrir
Com que cor se parece,
Quero inventar uma nova cor,
Contamina-la com um pouco de mim
E pintar todos os muros e mares com ela
Depois chamá-la de cor-de-catatonia
Quem sabe a loucura salve o mundo
Ou pelo menos salve a mim.
Prometi não coloca-la nesse poema
Mas como? Se tudo que escrevo é para ti
Todas as interrogações é perguntando onde você esta
Todas as virgulas são somente para te incluir
Mas eu nunca fui bom com promessas
Nem com poesias de amor
Só sei sobre o vazio
Sobre esse vácuo a atropelar tudo
Deixando teu cheiro como rastro
Mas não posso falhar agora
Essa é minha ultima tentativa
Tenho de ir, tenho de terminar o que comecei
A tinta já esta secando.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Frases e efeitos que não levam a nada.
Só vale a pena sentir para ao menos deixar de sentir.
Pois dos meus olhos cansados só saem fumaça,
Atrase, mas trague a fumaça dos meus olhos.
Mãe, olha o que trouxe do mundo para você,
O hálito cinza das calçadas.
Perdido, quebrado, junte as lágrimas com os cacos de vidro
Preciso achar os trilhos, e nem sei onde fica a estação.
Mas eu não saio daqui,
Só vou ao bar ao lado para pegar uma cerveja
E com o fundo do copo me deixe em silêncio
Cultivando a minha espera.
Guilherme Radonni, Tabatta Iori e Jaqueline Soares.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Reparação.
A questão é que você é todos os lugares
È tudo e é imenso
Já é maior do que eu
Não consigo medir o tamanho disso
Pelo menos não com as medidas já conhecidas
É preciso então novas proporções
Já que agora nem a matemática é lógica
E essa constante percepção sobre eu e você
Já se tornou uma religião
Só creio nisso, nesse sentimento a atropelar tudo.
Tu es ratio meae.