Não digo aqueles das historias infantis
Digo os nossos monstros
Sim talvez grandes, escalafobéticos
E com dentes afiados prontos para morder
Mas ainda sim, nossos.
Talvez não tenham restado muitos
Normalmente o tempo os devora
Ou melhor a passagem do tempo
Em algum lugar entre a infância e adolescência
Nossos monstros são devorados por nós mesmos
Ou por alguma epifania da vida
Eles que nos serviam como proteção
Contra a passagem inadiável do amadurecimento
Acabaram por projetar o mesmo
Pois não se protege do inevitável e nem do tempo
E quando percebemos estamos partindo em um barquinho á vela
Daquela ilha imaginaria onde nos escondíamos pra evitar todo o resto
Ou seria somente nosso autismo sendo deixado para traz?
De qualquer modo, ou de qualquer jeito
Não poderíamos dormir sempre amontoados junto aos nossos monstros
Afinal, se eles são reflexos de nós mesmos
Como um auto-mecanismo da nossa infância,
Um dia haveriam de nos comer,
Afinal acima de tudo eram monstros
E é isso que os monstros fazem, devoram.
Então somos obrigados a mastigá-los
Antes que eles nos mastiguem.
Mas em mim, acho que algo anda meio grande e escalafobético
Ainda sinto a proteção contra a realidade
Como se aquele barquinho viesse me buscar de hora em hora
Mesmo que eu fosse um rei, meu reinado seria de areia
Pois naquela ilha só areia nos contentava
Fragmentos tão inúteis e ainda sim me encanta os olhos
Não a areia de fato, mas sim sua condição
De estar ali, simplesmente por estar,
Talvez pela ordem das coisas
Já que se não estivessem todas juntas, digo os grãos da areia
Seriam somente grãos, mas juntas, são a minha ilha e meu reinado
E é lá que vivem os meus monstros
Os grandes, escalafobéticos
E com dentes afiados, prontos para morder
Dentro desta ilha, dentro deste autismo
Que só cabe a mim,
E a mais ninguém.
Guilherme Radonni.
Nenhum comentário:
Postar um comentário