terça-feira, 28 de junho de 2011

Memória sensorial.

Foi assim, numa tarde ensolarada a cinco (tão longes) anos,

Jogados no tablado, de olhos fechados

Sem pensar em nada que não fosse o sentir

E digo “sentir” da maneira mais intuitiva da palavra

Ali descobri o que era poesia

E depois disso acho que me viciei

Tentando sempre inclinar o ângulo,

Para que os eixos percam a direção.

Rabiscando palavras desconexas nas paredes,

Só para depois juntá-las com a ponta dos dedos.

Servir ao poético, sem pudor ou regra

Apenas deixar que o cheiro da brisa do mar te leve

Para longe de si,

Pois noite de maré alta, cura o que é ferida da alma

Enquanto ao mar.

Nunca para... No entanto esta no mesmo lugar.

E vejo isso como um reflexo de fluxo continuo
Onde todos nós andamos e andamos
Incansavelmente andamos
E continuamos no mesmo lugar.
Quanto a mim
Levo a poesia nos olhos
Atrás das pupilas num cordão tênue de vento
Que me transborda quando a minha carcaça
Fica pequena pro sentir. Aí transmuta
E vira lágrima,
Ou grito,
Ou dança.

Guilherme Radonni.




Vero-romântico.


Acho que tenho um buraco no peito

Uma cavidade imensa do tamanho de um grão

E nesse buraco, todo o amor do mundo

Esta é minha dádiva e minha sina

Porque quero colorir todos os olhos

Quero correr por todas as ruas

Quero enfeitar todos os lugares

Só para permanecer ali,

Estático e suspirando

Por que tudo é filme.

Deite no meu peito

E sinta o impulso que causa em mim

E desse impulso. Um salto

Lançado ao acaso

Em direção aos novos eu(s) que aparecem

Quando estou com você

Acho que é por isso que gosto tanto

Do teu jeito de dançar no meio da rua

Porque você me transmuta.

Me tira de órbita, me faz levitar.

Talvez o amor seja a ausência da gravidade

Pelo menos é isso o que sinto.


Guilherme Radonni.



segunda-feira, 27 de junho de 2011

Extasia.



Talvez fosse exatamente isso que eu precisava


Um pouco mais de sensibilidade intuitiva


Pra aliviar a pena que cravaram em meu crânio.


Era uma noite em movimento frio


As sombras e os fios da caixa cinzenta


Se enlaçavam em meus calcanhares


E na planta dos pés,


Eixo desfigurado


E na raiz dos olhos


Luzes dilatando a cidade


Tudo como uma psicodelia fora do ângulo


Liberdade sensorial.


O ruído dos ratos sussurrando de longe


Em meu ouvido esquerdo


Em baixo dos bueiros existe mais poesia


Do que acreditamos ter


Poesia que as pessoas expelem pra fora de si


E transformam em lixo.


Mas não falemos do margem do mundo


Pois hoje sou apenas um corpo inclinado


E minha direção é o rastro do vento


Que me leve,


Como poeira que espalha pelos cantos


Quero contaminar tudo com a minha ânsia de euforia


Quero acordar os que já dormem


E dançar com os que ainda estão acordados


Vamos desligar as luzes da cidade?


Um eclipse de gente.


Carne obscura, ausência imagética


Seriamos então livres de nossa carcaça


Como dizia Yves Klein


“Vida longa ao imaterial”.



Guilherme Radonni.


terça-feira, 14 de junho de 2011

Fantasia silenciada.

- Moço, que horas chega a fantasia?
- Chega o quê?
- A fantasia moço... me disseram que era aqui...
- Mas a fantasia não chega, ela está.
- Aé? Então, onde?
- Depende. O que você esta falando eim garotinha?
- É que um dia vim aqui e tinha um monte de crianças com brilho nos olhos e disseram que tinham visto a fantasia...moço, me dá um pedaço do seu pão?
- Claro, pega um aqui ó...
- Obrigada.

Silêncio de fome.

- Vamos fazer o seguinte: passa aqui amanhã, que eu vou me informar e te aviso quando ela chaga, pode ser?
- Tá... eu não prometo moço, porque tenho que trabalhar, se der tempo eu venho.
- Tá... [pausa] não anda descalço florzinha... vai resfriar-se.

Silêncio de frio.

Sol seguinte...
A espera do homem segurança, pela garotinha trabalhadora.

Só espera...

Mesma noite.
Sol da noite adiante.
- Aah! Bom dia menina. O que faz deitada aí tão cedo?
- É que sonhei com a dona fantasia esta noite, aí pensei seu se sonhasse com ela aqui ela poderia aparecer.
- Entre meu anjo, esta frio, tenho cobertores aqui.
- Não há tempo, tenho de ir trabalhar...
- Mas olha, tem fantasia aqui daqui a pouco...
- Mesmo moço?!

Silêncio de felicidade.

- Então não me permito ir as ruas hoje... vou esperar, não é melhor?

Ansiedade silenciosa.
Horas passam. Chegada de muitos seres humanos pequenos não trabalhadores.

- Florzinha, acorde! A fantasia acabou de entrar por aquela porta... vá até lá e vire a direita...

ENTRADA:
TEATRO MUNICIPAL - PLATÉIA: ->

Caminhar lento e felicitado da garotinha.
Começo da magia.

Término.
Saem todas as outras crianças, a menina flor mantêm-se intacta na poltrona.

- Meu anjo, o que achou?
- Moço... obrigada!! A fantasia é linda. Acho que me levou com ela...

Lágrimas de silêncio.

- Mas agora tenho de acordar...onde colocou meu material de trabalho? Aliás... o senhor que engrachar seus sapatos?

Lágrimas de homem adulto.

Tábatta Iori

terça-feira, 7 de junho de 2011

Monocromático

Que esta agonia insólita parta de mim

E deixe meu corpo inquieto descansar

Poís só por hoje,

Desestirei da minha alma teimosa

Que insiste em vagar sozinha

Neste terreno vázio e tristonho.

Esquartejado entre cacos de vidro

O meu reflexo torturado

Sangue coagulado

Cicatrizes que escorrem pela minha infância perdida

Que saudades tenho,

Dos tempos em que eu não pensava no tempo

Mas agora os ponteiros me cortam,

Furam meus olhos

Levam minha pausa.

No entanto, o céu continua caíndo

Engolindo as nuvens e despejando essa chuva acída

Sobre a feminilidade das cores

Enquanto ao cinza?

Esse me causa uma dor aguda

Que faz manchar as paredes que tenho atrás dos olhos

De uma menira tão escalafobética

Que nem eu mesmo posso tentar descrever

Hoje quando acordei, tudo tinha um tom cinza

E as minhas lágrimas... inuteis

Não limparam minha maneira de ver

Já não enxergo mais.

Guilherme Radonni