Eu pedalava para mais longe possível daquela paisagem
Com os olhos fechados sentindo o vento me filtrar
Me ausentei de mim
Numa fuga cega e desesperada
Corri em direção ao nada
E agora estou perdido, sem um rastro para me guiar de volta
Em um deserto de mim mesmo
Cavando em meu interior algum motivo para continuar de pé
Sinto a minha própria ausência,
E esta doi mais do que a tua
E ainda nem me recuperei das manchas que você deixou em mim
É como se eu me perde-se de mim em cada esquina
Como se uma metade atravessase a rua
E a outra não.
Seria tão mais facil ser atropelado
Jà não tenho paciência pra morrer aos poucos
Muito menos para continuar vivo
Me equilibrando no abismo de estar entre o nada e o resto
Queria somente ter a inocência e a contentação
Que tem uma criança, quando consegue amarrar os próprios cadarços
Ou de quando cai de bicicleta e percebe meio tonto
Que não se ralou, que não quebrou nem um osso,
Que pode simplesmente se levantar e voltar a pedalar
Talvez seja essa a minha dor
Não consegui levantar da minha queda
Devo ter fraturado o meu interior quando bati com a cabeça no chão
De um lado a bicicleta enferrujada e torta. Do outro, meu corpo caido
Deixei meu rosto carimbado no asfalto
E ninguem notou.
Guilherme Radonni.
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