quarta-feira, 2 de março de 2011

Bicicletas quebradas.

Eu pedalava para mais longe possível daquela paisagem

Com os olhos fechados sentindo o vento me filtrar

Me ausentei de mim

Numa fuga cega e desesperada

Corri em direção ao nada

E agora estou perdido, sem um rastro para me guiar de volta

Em um deserto de mim mesmo

Cavando em meu interior algum motivo para continuar de pé

Sinto a minha própria ausência,

E esta doi mais do que a tua

E ainda nem me recuperei das manchas que você deixou em mim

É como se eu me perde-se de mim em cada esquina

Como se uma metade atravessase a rua

E a outra não.

Seria tão mais facil ser atropelado

Jà não tenho paciência pra morrer aos poucos

Muito menos para continuar vivo

Me equilibrando no abismo de estar entre o nada e o resto

Queria somente ter a inocência e a contentação

Que tem uma criança, quando consegue amarrar os próprios cadarços

Ou de quando cai de bicicleta e percebe meio tonto

Que não se ralou, que não quebrou nem um osso,

Que pode simplesmente se levantar e voltar a pedalar

Talvez seja essa a minha dor

Não consegui levantar da minha queda

Devo ter fraturado o meu interior quando bati com a cabeça no chão

De um lado a bicicleta enferrujada e torta. Do outro, meu corpo caido

Deixei meu rosto carimbado no asfalto

E ninguem notou.

Guilherme Radonni.

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