quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A fronteira entre o meu tempo e o seu pode ser medida por um inseto.

E sempre novamente

Como se a repetição

Definisse o cotidiano

Talvez de fato seja

Só não consigo crer pacificamente nisso

Nessa configuração

Que nos encaixa como engrenagens

Em uma grande maquina de vidro

E o cheiro dessa maquina se mistura com a nossa cor

E a cor dela se esconde no nosso cheiro

Nos faz executar o mesmo movimento

Do mesmo ângulo, no mesmo sentido,

Com a mesma força.

Descobri algo, enquanto olhava para uma formiga

Devorando uma barata anti bomba atômica,

O HOMEM ALIMENTA A HORA

Com suor e lagrimas

Com dor e riso

Deveríamos matar os relógios,

Comer os ponteiros, e engolir as horas

Mas nem matança nem canibalismo algum

Encerra o tempo

Só inseto esmagado no chão

Ou grudado na sola do sapato

Ou na beira do mundo

Naquela beira que não tem nada

A não ser o outro lado

Como uma fronteira.

O que difere o meu cotidiano do teu?

Podia dizer que são as pessoas, ou a graça que vejo ou deixo de ver

Ou ainda nas tarefas que nos são impostas

Mas não, a única coisa que difere a nossa real rotina

È a rotação do tempo

Como se dentro dele, houvesse uma subdivisão

E no vácuo dessa separação, estamos nós.

Pequenos operários de um formigueiro

Devorando baratas anti bomba atômica.

Guilherme Radonni.

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