quarta-feira, 21 de julho de 2010

A surdez do mundo.

Acho que estou com os ouvidos inflamados

Tudo o que ouço é som

Mesmo sendo silêncio

Tudo o que ouço é voz

O eco dos dedos se debatendo nas paredes

O vácuo da campainha alertada sem visita

O grito do criado mudo

Pedindo socorro por ser estático

O barulho da carta sendo aberta

Sem saudade

O som da idade

A voz dos pratos

Se afogando na pia sem salva-vidas

Ouço o cansaço dos tornozelos

E até a partida dos pés que se foram

Mas não ouço minha própria voz

Acho que estou meio surdo

Pois não ouço a ordem do mundo

Do ângulo onde estou

Só escuto o caos

Talvez se todos desligassem as televisões ao mesmo tempo

Poderiam escutar esse ruído que me incomoda

É tão sutil, mas ainda sim, preferia ser surdo

Pois acho que estou louco

Contaminado pelo grito do silêncio

A surdez do mundo não está nos ouvidos

Está na falta de percepção

Na falta de poesia

Na mania de ligar a tv todos juntos no mesmo horário

Para que o chiado da caixa preta

Abafe o som que não entendemos

Já começou de novo,

Estou, ouvindo, o, som, das vírgulas,

Postas, sem, organicidade.

Deveriam ser intervalos, mas não são

Hoje em dia não se tem tempo para não ter tempo

Alguém aumente o volume da música

Não quero mais ouvir a disritmia do mundo.

Guilherme Radonni.

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