Acho que estou com os ouvidos inflamados
Tudo o que ouço é som
Mesmo sendo silêncio
Tudo o que ouço é voz
O eco dos dedos se debatendo nas paredes
O vácuo da campainha alertada sem visita
O grito do criado mudo
Pedindo socorro por ser estático
O barulho da carta sendo aberta
Sem saudade
O som da idade
A voz dos pratos
Se afogando na pia sem salva-vidas
Ouço o cansaço dos tornozelos
E até a partida dos pés que se foram
Mas não ouço minha própria voz
Acho que estou meio surdo
Pois não ouço a ordem do mundo
Do ângulo onde estou
Só escuto o caos
Talvez se todos desligassem as televisões ao mesmo tempo
Poderiam escutar esse ruído que me incomoda
É tão sutil, mas ainda sim, preferia ser surdo
Pois acho que estou louco
Contaminado pelo grito do silêncio
A surdez do mundo não está nos ouvidos
Está na falta de percepção
Na falta de poesia
Na mania de ligar a tv todos juntos no mesmo horário
Para que o chiado da caixa preta
Abafe o som que não entendemos
Já começou de novo,
Estou, ouvindo, o, som, das vírgulas,
Postas, sem, organicidade.
Deveriam ser intervalos, mas não são
Hoje em dia não se tem tempo para não ter tempo
Alguém aumente o volume da música
Não quero mais ouvir a disritmia do mundo.
Guilherme Radonni.
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