quarta-feira, 7 de julho de 2010

Coentro

Ainda não descobri o que me causa essa ânsia

Mas entre as possíveis respostas estão

Você e o coentro que minha mãe usava como tempero

De qualquer jeito tenho uma vontade imensa

De expulsar eu de mim mesmo

Como se isso fosse possível

Talvez não seja eu

E sim uma parte de mim contaminada de você

E ao contrario do coentro

Não consigo te digerir

E sinto que dessa vez minha garganta

Não ira abrir espaço para te regurgitar

Mas sei que não posso

Te deixar dar um nó em meu estomago

Muito menos oferecer meu pâncreas e meu baço

Para você se enroscar.

Tenho de te rasgar inteira

Rasgar os cheiros, as lembranças e o paladar

Já que agora até o coentro me lembra você.

Não. Isso não foi uma má digestão

Pelo contrario, quando comecei te mastigar

Parecia que mordia um pedaço agridoce da eternidade

O problema é que você morreu dentro de mim

Sem direito a velório ou festa

Simplesmente morreu e ficou lá

Parada dento do meu particular

E agora, ando vomitando por ai

Com esse mau estar a me fazer pregas na alma

Essa náusea dando nós e nós em minhas entranhas

Condenado a ter o teu gosto amarrado em minha boca

Como se todo o resto fosse uma sobra tua

Uma sobra agridoce daquilo que já foi inteiro

E que agora esta me digerindo

Me causando úlcera, azia ou qualquer coisa azeda dentro de mim

Já implorei para minha mãe

Não te usar como tempero em meus pratos

Mas ela me ignora e insiste

Fala que não devo me intrometer na cozinha

Que eu tenho de comer e não reclamar

Que não devo deixar restos no prato,

Ela sempre diz que coentro

Faz bem pra memória.

Guilherme Radonni.

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