Ainda não descobri o que me causa essa ânsia
Mas entre as possíveis respostas estão
Você e o coentro que minha mãe usava como tempero
De qualquer jeito tenho uma vontade imensa
De expulsar eu de mim mesmo
Como se isso fosse possível
Talvez não seja eu
E sim uma parte de mim contaminada de você
E ao contrario do coentro
Não consigo te digerir
E sinto que dessa vez minha garganta
Não ira abrir espaço para te regurgitar
Mas sei que não posso
Te deixar dar um nó em meu estomago
Muito menos oferecer meu pâncreas e meu baço
Para você se enroscar.
Tenho de te rasgar inteira
Rasgar os cheiros, as lembranças e o paladar
Já que agora até o coentro me lembra você.
Não. Isso não foi uma má digestão
Pelo contrario, quando comecei te mastigar
Parecia que mordia um pedaço agridoce da eternidade
O problema é que você morreu dentro de mim
Sem direito a velório ou festa
Simplesmente morreu e ficou lá
Parada dento do meu particular
E agora, ando vomitando por ai
Com esse mau estar a me fazer pregas na alma
Essa náusea dando nós e nós em minhas entranhas
Condenado a ter o teu gosto amarrado em minha boca
Como se todo o resto fosse uma sobra tua
Uma sobra agridoce daquilo que já foi inteiro
E que agora esta me digerindo
Me causando úlcera, azia ou qualquer coisa azeda dentro de mim
Já implorei para minha mãe
Não te usar como tempero em meus pratos
Mas ela me ignora e insiste
Fala que não devo me intrometer na cozinha
Que eu tenho de comer e não reclamar
Que não devo deixar restos no prato,
Ela sempre diz que coentro
Faz bem pra memória.
Guilherme Radonni.
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