quarta-feira, 14 de julho de 2010

Crença.

Me sinto como fumaça

Me desmanchando sobre o ar

E me perdendo no silêncio da minha voz

Sou um grito mudo no cinza da tarde

Estampado no olhar cego de quem só enxerga

O extremo do branco

Branco sem paz

Meu tormento é saudade

Minha ânsia é de sentir esse não sentimento

O vazio espalhado sem ordem

Escorrendo como chuva

No seco da cidade

Já está tarde em mim para se falar de existencialismo

Prefiro anoitecer

Porque o a manhã é uma espera

É uma ansiedade de se encontrar no verde

Que verde? Aqui da janela só vejo o reflexo

Do quadro sem paisagem

Estou sem molduras

E a única tinta nessa obra está me manchando

Esconderam meus pincéis no túmulo em que te enterram

E não tenho coragem de me procurar na tua cova

Agora sou arte abstrata

Talvez o tempo coloque meus olhos no lugar

Porque do ângulo onde vejo

Já não vejo nada.

Um cego ainda tem tato, olfato e às vezes sensatez

Mais um louco, só tem a prisão de ter a liberdade

E o tédio de não ter ficção alguma

Já que você levou minha criatividade

Minha percepção da realidade

Visto isso não tenho referência pra disfarçar minha dor

Muito menos pra fugir do caos

Porque o caos está em mim

Esta na mania de não se desprender da memória

Maldita catatonia que nos contaminou

No manual de instruções não havia cura

Estou doente e só

Estou no vácuo do teu óbito

Mas já está tarde pra se falar de bulas de remédio

Vou pendurar as lembranças no varal do quintal dos fundos

E esperar que um vento qualquer leve os trapos que ando vestindo

No momento é só isso que posso esperar

Enquanto rezo a um Deus qualquer

Por uma religião.

Guilherme Radonni.

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