quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Menino e o Sol.

Naquela tarde, o menino sem cor, deitou no verde do parque

E repousou sua cabeça em um canto qualquer,

Procurou uma fresta de luz no meio das folhas

E se perdeu, no primeiro raio de sol que tocou o seu rosto

Sentiu o calor penetrando tua pele morna

Fazendo de si um pedaço de corpo iluminado

E pela primeira vez em anos, sentiu amor

E ali ficou durante toda a tarde

Como uma planta estática, em processo de fotossíntese

Contemplando o brilho da luz

Que lhe transbordou os graus.

E lhe afagou o peito.

Naquela tarde no parque inteiro não existiu mais nada

Que não fosse o menino e o sol

O reflexo laranja filtrava a falta de cor nos olhos

E o calor aquecia suas mãos que eram sempre frias

Era aquilo que lhe faltava

Uma fresta de luz, uma mancha de cor

Um intervalo em âmbar.

E anoiteceu, o menino sem cor se sentiu perdido e embriagado

Não conseguia se desprender da sensação que havia sentido

Ficou preso numa espécie de vácuo nostálgico

E durante toda noite vagou pelo parque

Na esperança de encontrar qualquer tom infra-vermelho

Não conseguiu,

Caiu, por falta de luz ou de força

E esperou o primeiro sinal laranja manchar o céu

Já era dia e o menino sem cor

Amanhecia por dentro

Era policromático e sorria

E a cada minuto se sentia mais e mais embriagado

Daquela sensação inexplicável que só ele havia sentido.

Era verão e os relógios já se aproximavam do meio dia

Os termómetros marcavam o dia mais quente do ano

E o menino, o dia mais feliz de sua vida

Pois sentia uma febre indecifrável que lhe causava conforto

Misturado com o calor alucinógeno que lhe fazia transpirar

Tudo aquilo que não era amor

Seu corpo já não era sem cor

Tinha uma superfície alaranjada e vermelha

Que cobria toda a pele e não lhe deixava sair dali

Simplesmente porque não queria,

Havia decidido que nunca mais deixaria o calor

E num instante de euforia ao contrario

O menino se lançou ao sol, se desprendeu de sua falta de cor

E mergulhou no laranja ardente do meio dia.

Morreu de insolação, exposição ao sol

O corpo cheio de feridas e queimaduras

E de fato já não era mais sem cor

Havia encontrado tua policromia

Havia encontrado

O amor.

Guilherme Radonni.

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