quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mar seco.

Enquanto esperava por um atropelamento

Na última rua que cruzava comigo mesmo

Me assistia sentado na calçada cinza e esburacada

A multidão, de olhos fechados

Não assistiam nem amim, nem a nada

Enquanto a ordem contaminava o resto

Com um rítmo pesado e invisível

Todos marchavam com os pés cansados

Para lugar nenhum

No mesmo compasso de um mar de ondas

Que quebra na areia e se desfaz

Enquanto meu corpo resistia em não se afogar

Eu era arrastado por aquela multidão de ossos e cheiros

Desaparecendo em um oceano oco, feito de concreto e gente.

Talvez fosse esse o atropelamento que esperava

E por ser eu o acidentado

Não sabia ao certo o que acontecia

Devo ter batido com a cabeça depois da queda

Ou então engoli muita água

Desse mar de gente intacta

Enquanto eu me afogava.

Guilherme Radonni.

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