Enquanto esperava por um atropelamento
Na última rua que cruzava comigo mesmo
Me assistia sentado na calçada cinza e esburacada
A multidão, de olhos fechados
Não assistiam nem amim, nem a nada
Enquanto a ordem contaminava o resto
Com um rítmo pesado e invisível
Todos marchavam com os pés cansados
Para lugar nenhum
No mesmo compasso de um mar de ondas
Que quebra na areia e se desfaz
Enquanto meu corpo resistia em não se afogar
Eu era arrastado por aquela multidão de ossos e cheiros
Desaparecendo em um oceano oco, feito de concreto e gente.
Talvez fosse esse o atropelamento que esperava
E por ser eu o acidentado
Não sabia ao certo o que acontecia
Devo ter batido com a cabeça depois da queda
Ou então engoli muita água
Desse mar de gente intacta
Enquanto eu me afogava.
Guilherme Radonni.
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