Naquela manha ao abrir os olhos,
O dia parecia vazio e pesado
O menino se levantou de sua cama
E se arrastou até o sofá marrom escuro colocado em baixo da janela
Na caixa preta, um filme sobre interconectividade da ficção
Dentro de si, um filme sobre a surrealidade e o desespero
Os médicos diziam que ele, o menino que chorava pelo tempo
Sofria de dilatação perceptiva da sensibilidade
Mas não era isso que dizia a cor des seus olhos
Um grito monocrômico pedia socorro, mas faltava voz em seu manifesto.
A sala era como uma câmara de eco que ampliava a sua dor
Enquanto o dia fora dele, fazia contraste com aquela cena
Era claro, e a luz do sol dançava sobre a arvore do outro lado do muro
Ele assistia a pausa do retrato como quem pudesse entender
Do que era feito o que é de concreto
Um corpo se jogando do céu, se atirando entre as nuvens
Pra longe da realidade, pra longe de si mesmo.
Ascendeu um cigarro e por acidente esbarrou sua mão pequena e cheia de calos
No controle remoto da televisão
Que caiu entre o vão da parede e do sofá marrom
Seu braço curto, não alcançava o controle.
Sua ordem ao contrario também não
E por isso não controlava o abismo dentro das coisas
Mesmo assim insistiu, e caiu no vão entre o sofá e a parede
E ali ficou, assistindo a cortina de fumaça se misturando com a cortina branca da sala
O chão frio desenhava uma geometria e as lágrimas salgadas rabiscavam seu rosto
E ali ficou durante horas, se esqueceu, se isentou.
Se atrasou para escola, perdeu o último trem
Chegou atrasado em seu enterro. Parou.
Abortou os ponteiros do relógio.
O que dói mais que o tempo?
A ausência dele.
O menino lentamente se levantou
Pegou o controle remoto e mudou de canal
Olhou uma última vez para a caixa preta, derramou sua última lágrima,
Ascendeu seu último cigarro
E se jogou na beira do mundo
Saltou da janela, transcendeu o imaginário.
E antes de seus ossos encontrarem o chão
Fez um último esforço, abriu os lábios e pediu ao tempo
“Me perdoa”.
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