quinta-feira, 1 de abril de 2010

Rosa, o silêncio e a visita da Sra. Morte.

Ela vinha todas as quartas para os ofícios da casa

Mas aquela semana por motivos maiores

Rosa, a nossa empregada, só veio de aparecer na quinta-feira

A morte lhe havia visitado, e levado um parente qualquer

Como em toda visita, sempre há um porque,

No caso da Sra. Morte

Este porque, sempre nos leva algo

E de Rosa, levou a luz dos olhos

Digo isto porque, na quinta feira

Eu podia ver nos olhos daquela mulher

A ausência ou um vácuo maior.

Para não falar no tom que me acordou com seu bom dia

Não que eu estivesse dormindo,

Mas é que depois daquele bom dia vociferado pelos lábios de Rosa

É como se meu interior tivesse sido estalado,

Como dedos trincados de cansaço

Isso porque, ela insistiu em me dar um bom dia

Mesmo estando estampado no cheiro dela

Que aquele dia poderia ser tudo, menos bom.

Então começou a varrer a casa

Rosa e o silêncio

Podia sentir a força que ela fazia para varrer o chão

É como se ela estivesse limpando a si mesma

Enquanto eu ouvia a vassoura gritando pelo assoalho da casa.

Na cozinha, os pratos pediam para ser lavados

E antes do almoço Rosa sempre atendia tal prece

Mas hoje, ela esfregou os pratos como quem esfregava a um corpo

E ao invés de água, parecia enxaguar a louça com lágrimas.

Talvez por isso o almoço estivesse mais salgado naquele dia.

A casa parecia estar de luto, já que não se ouvia

Rosa cantarolando enquanto executava os afazeres

Ao invés disso se ouvia um arrastar de pés

Marchando pelas escadas como quem perdera a fé.

Talvez se nossa empregada tivesse uma religião qualquer

Mas naquele dia ela só acreditava na poeira das paredes.

No final do dia, a casa estava limpa,

A cozinha branca e as janelas brilhavam

E ao contrario de toda essa organização

Estava Rosa, cansada, com roupas sujas e sem luz qualquer nos olhos

E ainda sim, ela insistiu em se despedir com um “boa noite”

Mesmo estampado no cheiro dela

Que aquela noite poderia ser tudo menos boa.

Guilherme Radonni

Um comentário:

  1. O verso segue me tirando o fôlego.
    Mas essa Rosa, acho que o que saí é sangue e não lágrimas.

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