Ela vinha todas as quartas para os ofícios da casa
Mas aquela semana por motivos maiores
Rosa, a nossa empregada, só veio de aparecer na quinta-feira
A morte lhe havia visitado, e levado um parente qualquer
Como em toda visita, sempre há um porque,
No caso da Sra. Morte
Este porque, sempre nos leva algo
E de Rosa, levou a luz dos olhos
Digo isto porque, na quinta feira
Eu podia ver nos olhos daquela mulher
A ausência ou um vácuo maior.
Para não falar no tom que me acordou com seu bom dia
Não que eu estivesse dormindo,
Mas é que depois daquele bom dia vociferado pelos lábios de Rosa
É como se meu interior tivesse sido estalado,
Como dedos trincados de cansaço
Isso porque, ela insistiu em me dar um bom dia
Mesmo estando estampado no cheiro dela
Que aquele dia poderia ser tudo, menos bom.
Então começou a varrer a casa
Rosa e o silêncio
Podia sentir a força que ela fazia para varrer o chão
É como se ela estivesse limpando a si mesma
Enquanto eu ouvia a vassoura gritando pelo assoalho da casa.
Na cozinha, os pratos pediam para ser lavados
E antes do almoço Rosa sempre atendia tal prece
Mas hoje, ela esfregou os pratos como quem esfregava a um corpo
E ao invés de água, parecia enxaguar a louça com lágrimas.
Talvez por isso o almoço estivesse mais salgado naquele dia.
A casa parecia estar de luto, já que não se ouvia
Rosa cantarolando enquanto executava os afazeres
Ao invés disso se ouvia um arrastar de pés
Marchando pelas escadas como quem perdera a fé.
Talvez se nossa empregada tivesse uma religião qualquer
Mas naquele dia ela só acreditava na poeira das paredes.
No final do dia, a casa estava limpa,
A cozinha branca e as janelas brilhavam
E ao contrario de toda essa organização
Estava Rosa, cansada, com roupas sujas e sem luz qualquer nos olhos
E ainda sim, ela insistiu em se despedir com um “boa noite”
Mesmo estampado no cheiro dela
Que aquela noite poderia ser tudo menos boa.
Guilherme Radonni
O verso segue me tirando o fôlego.
ResponderExcluirMas essa Rosa, acho que o que saí é sangue e não lágrimas.