quinta-feira, 15 de abril de 2010

O ultimo grito da menina de joelhos fracos

Talvez seus joelhos não aguentassem mais

Amortecer o impacto das horas

Ou talvez o espelho já estava embaçado de mais

Pra se ver a maquiagem borrada nos olhos

Já não importa mais

Naquela manha, a menina que vazava pelos olhos

E que tinha os joelhos fracos, tentou dar o seu ultimo grito

E no seu berro, não havia mais nada que o silêncio

A quem diga que enlouquecemos depois do manicômio

Talvez sim, mas pelo menos lá os comprimidos eram controlados

Ela nunca gostou de controle

Tentou engolir o mundo, viu que não podia

Tentou vomitar a si mesma

E viu que não tinha garganta para isso

Talvez por isso tomou uma caixa de comprimidos

Morte genérica não se vende na farmácia minha cara

Entendo teu desespero por não saber pra onde vai

A fumaça que tragamos

Mas não são nas bulas que estão as respostas.

Lembro, enquanto você me limpava com a tua dor

Proclamando sobre os tornozelos que sangravam

Eu achava que, tudo em mim virava pó,

Que tudo em mim estava fora do eixo

Mas agora entendo,

Não se tratava de me limpar

Mas sim de juntar o teu pó e de achar o teu próprio eixo

Vejo que não encontrou.

Pelo menos não no banheiro que te acharam derrubada

Entre a pia e o ralo

A sua historia é mais bonita, do que tentando saltar da janela

O sobrado só tinha dois andares

Não daria nem para fraturar o fêmur

E já conheço a tua dor nos joelhos.

Despertou no branco, junto ao desespero da santa

O soro, a seringa e o cheiro de hospital

Na próxima tentativa, não seja tão egoísta

Deixe alguns comprimidos para minha dor de cabeça

Enquanto eu te asfixio, você me enforca

Ate que arte nos salve

Ou até que nos ache derrubados no chão do banheiro

Talvez nosso lado branco se lembre de trancar a porta

Nosso lado branco sempre foi contra os pulsos cortados

Eu também era até sentir a hora pesar nos ombros

Acho que morremos no dia em que nos conhecemos

Depois dali o resto era só uma espera

Agora acorde, não tente cortar a fila

Espere sua vez, e que esta não seja antes de mim

Já não acredito em cura pra doenças psicológicas.

Guilherme Radonni.

2 comentários:

  1. Guilherme, que texto tocante e delicado...
    Fiquei emocionada.
    Beijo
    Luciana

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  2. putz, que texto lindo, Guilherme...
    lindo lindo lindo

    sabe,fiquei sem entender bem, não os acontecimentos, mas as coisas de dentro dela, que pareciam vibrar com tanta força, um transbordamento de energia tão viva que me contagiava. Quando a gente foi pra Botucatu, ela foi a última a dormir e a primeira a acordar... e continuava vibrando.
    assim é que me lembro.

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