Amortecer o impacto das horas
Ou talvez o espelho já estava embaçado de mais
Pra se ver a maquiagem borrada nos olhos
Já não importa mais
Naquela manha, a menina que vazava pelos olhos
E que tinha os joelhos fracos, tentou dar o seu ultimo grito
E no seu berro, não havia mais nada que o silêncio
A quem diga que enlouquecemos depois do manicômio
Talvez sim, mas pelo menos lá os comprimidos eram controlados
Ela nunca gostou de controle
Tentou engolir o mundo, viu que não podia
Tentou vomitar a si mesma
E viu que não tinha garganta para isso
Talvez por isso tomou uma caixa de comprimidos
Morte genérica não se vende na farmácia minha cara
Entendo teu desespero por não saber pra onde vai
A fumaça que tragamos
Mas não são nas bulas que estão as respostas.
Lembro, enquanto você me limpava com a tua dor
Proclamando sobre os tornozelos que sangravam
Eu achava que, tudo em mim virava pó,
Que tudo em mim estava fora do eixo
Mas agora entendo,
Não se tratava de me limpar
Mas sim de juntar o teu pó e de achar o teu próprio eixo
Vejo que não encontrou.
Pelo menos não no banheiro que te acharam derrubada
Entre a pia e o ralo
A sua historia é mais bonita, do que tentando saltar da janela
O sobrado só tinha dois andares
Não daria nem para fraturar o fêmur
E já conheço a tua dor nos joelhos.
Despertou no branco, junto ao desespero da santa
O soro, a seringa e o cheiro de hospital
Na próxima tentativa, não seja tão egoísta
Deixe alguns comprimidos para minha dor de cabeça
Enquanto eu te asfixio, você me enforca
Ate que arte nos salve
Ou até que nos ache derrubados no chão do banheiro
Talvez nosso lado branco se lembre de trancar a porta
Nosso lado branco sempre foi contra os pulsos cortados
Eu também era até sentir a hora pesar nos ombros
Acho que morremos no dia em que nos conhecemos
Depois dali o resto era só uma espera
Agora acorde, não tente cortar a fila
Espere sua vez, e que esta não seja antes de mim
Já não acredito em cura pra doenças psicológicas.
Guilherme, que texto tocante e delicado...
ResponderExcluirFiquei emocionada.
Beijo
Luciana
putz, que texto lindo, Guilherme...
ResponderExcluirlindo lindo lindo
sabe,fiquei sem entender bem, não os acontecimentos, mas as coisas de dentro dela, que pareciam vibrar com tanta força, um transbordamento de energia tão viva que me contagiava. Quando a gente foi pra Botucatu, ela foi a última a dormir e a primeira a acordar... e continuava vibrando.
assim é que me lembro.