Naquele dia, apaguei todos os meus versos
E manchei todos os papeis com o teu nome
Só para não esquecer
Do dia em que eu me enterrei
Nesse dia, teus olhos cegaram os meus
E o teu grito calou minha voz
Enquanto a cidade atravessa as minhas ruas
Sem respeitar as minhas sinalizações
Fui atropelado
Pelas horas, pelo trafego e pelo cansaço
Não fui socorrido
A sirene da ambulância estava apagada e muda
E eu ali, estatelado no cinza do asfalto
Enquanto você levava todas as paisagens e cores
Pra longe de mim, pra longe daquele acidente
Fratura exposta, traumatismo craniano
Depois do diagnóstico
Tentei colocas os meus ossos no lugar
Não consegui.
Agora sou qualquer coisa torta, rasgada ou quebrada
Andando sem eixo por ai
E pior que isso, não tenho muletas
E também não tenho você.
A cidade continua me cegando
Com suas cores artificiais
Enquanto a monocrômia das calçadas
Me oferece doses de analgésicos
Mas sou alérgico a comprimidos
E minha garganta rejeita qualquer gota que não seja sua
Sou obrigado a conviver com a dor
Depois de um tempo se acostuma
È só fingir que o barulho dos carros
São os passos do rio atravessando a cidade
Mesmo o rio estando seco.
Preciso de um feriado
Um feriado de mim mesmo,
Pra esquecer dos versos apagados,
Pra esquecer das manchas nos papeis,
Pra esquecer de mim.
E pra lembrar de você.
Antes do acidente, qualquer lembrança era inteira
Agora está tudo em pedaços rasgados
Junto aos meus ossos, junto aos meus olhos
Me pergunto como alguém pode ter os olhos rasgados
E ainda sim enxergar?
Talvez eu não enxergue mais
E tudo seja uma visão desconfigurada
De uma mente acidentada no asfalto da cidade.
Preferia ser cego.
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